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O celular como arma: como vídeos são usados para denunciar violações

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

03/10/2015 06h00

Está a um toque de distância e quase sempre ao alcance da mão. A maioria da população tem. E se tornou uma ferramenta fundamental na luta por justiça diante de violência ou corrupção policial.

Multifuncional e capaz de registrar imagens com cada vez mais qualidade, o celular assumiu nos últimos anos papel de destaque nas denúncias de violações de direitos humanos. O exemplo mais recente no Brasil mudou a história da morte de Eduardo Felipe Santos Victor, 17, na manhã de terça-feira (29), no morro da Providência, centro do Rio de Janeiro

Não fosse o vídeo gravado por uma moradora da Providência pelo celular, que mostra policiais militares forjando um tiroteio e colocando uma arma na mão do adolescente já morto, muito provavelmente a fraude processual dos PMs da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) local jamais teria sido comprovada.

Antes da divulgação da filmagem, o caso estava sendo registrado como mais um homicídio decorrente de intervenção policial, o chamado "auto de resistência". Não haveria, portanto, qualquer implicação legal para os PMs envolvidos. Com a nova prova, a Delegacia de Homicídios passou a investigar a ocorrênciaNo dia seguinte, a juíza Maria Izabel Pena Pieranti se baseou nas imagens para  decretar a prisão preventiva dos militares.

 

Relembre outros casos recentes

Policiais empurram suspeito de telhado em São Paulo

Um vídeo gravado por um morador do Butantã, na zona oeste de São Paulo, mostrou o soldado Fábio Gambale da Silva, da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas), empurrando um suspeito, no mês passado. Em seguida, dois tiros foram disparados. Por conta das imagens, dez policiais suspeitos de participar do crime foram presos administrativamente pela Corregedoria da Polícia Militar paulista.

 

Mulher é arrastada por carro da PM no Rio

Em março de 2014, a auxiliar de serviços gerais Cláudia Silva Ferreira, 38, foi baleada durante uma operação policial no Morro da Congonha, na zona norte do Rio de Janeiro. Ferida, ela foi colocada no porta-malas de um carro da PM e, no caminho para o hospital, acabou sendo arrastada por cerca de 250 metros. A cena foi flagrada por um cinegrafista amador. Os policiais envolvidos foram expulsos e a família foi indenizada.

 

Caminhoneiro grava PMs cobrando R$ 200 de propina

Com um aparelho celular, um caminhoneiro filmou policiais militares do BPRv (Batalhão de Polícia Rodoviária), unidade da PM do Rio, recebendo R$ 200 de propina depois que o motorista foi parado no Arco Metropolitano, em maio deste ano. Segundo o condutor, os PMs exigiram o dinheiro para que o veículo não fosse autuado e levado para o pátio da corporação por problemas de documentação. Os dois militares envolvidos na ação foram presos em caráter administrativo e passaram a responder a um Inquérito Policial Militar.