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Só filmar não basta; veja estratégias para usar o vídeo na luta por justiça

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

03/10/2015 06h00

A ONG Witness já capacitou milhares de pessoas ao redor do mundo a usarem o vídeo na luta por justiça e contra violações de direitos humanos. O lema da organização deixa claro o objetivo da iniciativa: "Veja. Filme. Transforme". Só filmar, no entanto, não é o bastante.

Para a coordenadora da organização na América Latina, a brasileira Priscila Neri, o celular tem "um potencial gigante de revelar histórias que não eram enxergadas ou estavam debaixo dos panos". "É o primeiro passo no caminho para se obter justiça", declara.

Mas como usar o vídeo para efetivamente conseguir alcançar este objetivo? A Witness publicou em abril deste ano, após a morte do menino Eduardo de Jesus, 10, baleado na cabeça por um tiro disparado por um PM no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, um tutorial sobre como filmar violência policial na favela com um celular.

Nesta sexta-feira (2), três dias após a morte de Eduardo Felipe Santos Victor, 17, no morro da Providência, centro da capital fluminense, a organização lançou outra cartilha, focada nos perigos de produzir e receber vídeos com flagrantes de violação de direitos humanos. Nas imagem em questão, policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) local aparecem forjando um tiroteio e colocando uma arma na mão do adolescente já morto.

Instrumento de denúncia

"É preciso pensar no objetivo e no público-alvo. Muitas vezes esses registros ficam perdidos nas redes e não têm o efeito que poderiam ter. Às vezes colocar no Facebook não é a melhor maneira. Uma reunião a portas fechadas com um delegado ou com um jornalista pode ser mais efetiva", explica Priscila. "E também deve-se garantir que o vídeo não aumente riscos para as pessoas que filmaram ou filmadas", acrescenta a ativista.

O celular também é visto como um importante instrumento de denúncia pela historiadora e pesquisadora Marize Cunha. "Se vive hoje no fio da navalha e as pessoas estão cansadas de ver esse tipo de situação de violência e impunidade. É uma maneira de chamar a atenção da sociedade", afirma.

No Facebook, o coletivo "Rio 40 Caos" convocou seus seguidores a filmarem violações. "Um celular pode tornar pública uma situação de violência que se repete todos os dias nas favelas. Se estiver segura, tire o seu do bolso e filma!".

Veja abaixo a cartilha da Witness, adaptada pelo UOL. O tutorial está disponível na íntegra no site da ONG.