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Sem-teto planejam reconstruir barracos após reintegração de posse em SP

A Polícia Militar acompanhou reintegração de posse da área ocupada sob o Cebolão, na marginal Pinheiros - Márcio Ribeiro/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo
A Polícia Militar acompanhou reintegração de posse da área ocupada sob o Cebolão, na marginal Pinheiros Imagem: Márcio Ribeiro/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo

Fernanda Cruz

Da Agência Brasil, em São Paulo

06/10/2015 11h58

Moradores da área ocupada próxima ao encontro entre as marginais Tietê e Pinheiros, na capital paulista, planejam reconstruir os barracos que foram demolidos na manhã desta terça-feira (6), em uma ação de reintegração de posse. As famílias obstruíram o trânsito com barricadas e atearam fogo em objetos na pista. A Polícia Militar chegou a usar bombas de gás e balas da borracha.

Segundo o capitão Marco Antônio Pimentel Pires, coordenador operacional do 4° Batalhão da PM, um adolescente foi detido por ter atirado pedras e paus nos veículos. “A Força Tática teve que fazer uma atuação pontual com utilização de munição química não letal. O pessoal dispersou e nós desobstruímos a via, mas confronto não teve”.
 
No local, viviam aproximadamente 70 pessoas, a maioria vinda de outros Estados, em cerca de 40 barracos de madeira e lona. Para se sustentar, a comunidade confecciona e vende, nas margens de acesso à rodovia Castello Branco, casinhas para cachorros, feitas com pedaços de madeira.
 
Nilvaldo de Aquino, 60, mora sozinho na ocupação há cinco anos, desde que chegou de Alagoas. Ele é marceneiro e ajuda na produção das casinhas, mas lamenta sobre o perigo de viver entre duas marginais movimentadas, onde veículos transitam em alta velocidade. “Aqui é um perigo, nessa Marginal aqui já foi atropelada gente da nossa comunidade”, disse. “Sair daqui para levar as crianças na escola é a coisa mais sofrida da vida. Até conseguir atravessar, chegar lá, já estão atrasadas para a aula”, disse.
 
Cícera Martins de Araújo, de 34 anos, mora há 15 anos no entorno das marginais Tietê e Pinheiros com seus quatro filhos. “Vamos construir de novo [os barracos], não temos para onde ir. Eles [policiais] dão as costas, e nós vamos construir de novo”, disse. Cícera nasceu em Alagoas e não quer retornar. “Se lá fosse bom, nós não estávamos aqui. Ir para o albergue eu também não vou”. A prefeitura chegou a oferecer passagens para quem desejasse voltar às suas cidades.
 
Nicilene Araújo, de 16 anos, mora com o esposo e o irmão, que também produzem as casinhas de cachorro. Ela se divide entre cuidar da filha de 1 ano e buscar frutas, verduras e legumes rejeitados na Ceasa. Ela e a famílias vivem na ocupação há 3 anos. “Nós vamos construir tudo de novo. Se eu for para albergue, vou ter que ficar longe do meu esposo e da minha filha. A madeira [demolida dos barracos], eles vão colocar na caçamba, vão levar embora. Mas sempre aqui do lado da Marginal vem caminhão e despeja um monte de madeira. A gente vai usar pra construir de novo”, disse ela.
 
De acordo com o capitão Marco Antônio, as famílias foram cadastradas e receberão apoio do Centro de Referência e Assistência Social da prefeitura. Além disso, receberam a oferta de passagens de retorno às cidades de origem. “Eles não aceitaram nada, então eles vão para onde acharem por bem. Agora, a gente vai acabar de limpar o terreno e a Polícia Militar permanece até a retirada de todos”, declarou.
 
A reintegração de posse foi solicitada pela Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), proprietária do terreno às margens do rio Tietê. A decisão partiu do juiz Renato Guanaes Simões Thomsen, da 4ª Vara Cível do Foro Regional IV Lapa.