Topo

Mapa interativo mostra onde estão os problemas das ciclovias do Rio

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

10/10/2015 06h00

A malha cicloviária do Rio de Janeiro vem aumentando nos últimos anos --até 2016, com os Jogos Olímpicos, a meta é chegar a 450 km--, mas basta percorrer alguns trechos e conversar com usuários para identificar problemas, irregularidades e falta de fiscalização. Na zona sul, por exemplo, há ciclofaixas compartilhadas com ponto de ônibus (na Gávea, perto da Pontifícia Universidade Católica), postes (na rua Pacheco Leão, lateral do Jardim Botânico) e árvores (na rua Visconde Silva, em Botafogo). No centro da cidade, por sua vez, com a escassez de segregadores, a ciclovia da avenida Graça Aranha é constantemente invadida por carros, motos e outros veículos.

Todas essas informações estão no mapa colaborativo da CPI das Bikes, que está em andamento na Câmara Municipal, e da organização não governamental Meu Rio. O projeto foi lançado em junho desse ano para agrupar denúncias e reclamações a respeito das ciclovias e ciclofaixas do Rio. A reportagem do UOL esteve nos locais e verificou a procedência dos relatos. A plataforma recebe, em média, duas publicações por dia. Em apenas dois meses, foram aproximadamente 140 registros, a maioria reclamações de ausência de ciclovia.

As atualizações são semanais, e os membros do Meu Rio ficam responsáveis por organizar e repassar os dados aos parlamentares da CPI das Bikes e órgãos da administração municipal. "Para nós, é uma forma mais inteligente de compilar as demandas da população, e não simplesmente abrir um e-mail para recebimento de denúncias. Já havíamos feito, com esse mesmo recurso, um mapeamento de árvores na zona norte. Deu certo na época e percebemos que também poderia funcionar com as bikes", explicou um dos diretores da ONG Meu Rio, João Mauro Senise.

O presidente da CPI das Bikes, Jefferson Moura (Rede), afirmou que todas as informações do mapa colaborativo estarão no relatório final da comissão. O vereador declarou ainda que elas serão utilizadas para enviar à prefeitura cobranças pontuais em relação a trabalhos de manutenção, reparos e ajustes estruturais. "O mapa tem pontos que nem deveriam ser chamados de ciclovias ou ciclofaixas, pois há trechos absurdamente comprometidos, praticamente inviáveis. Vamos usar essas informações para cobrar ações do Executivo."

O UOL solicitou entrevista com o subsecretário municipal de Meio Ambiente e coordenador do programa "Rio - Capital Nacional da Bicicleta", Altamirando Fernandes Moraes, mas a assessoria da pasta informou que ele não iria se pronunciar. Em nota, o órgão informou apenas que não se manifestaria "sobre a CPI das Bikes e as demandas decorrentes do mapa colaborativo citado até que tenha acesso aos relatórios oficiais gerados pelas demandas".

Risco de acidentes

Entre os pontos mais críticos, na avaliação de Fabrizia Amaral, do CSC-RJ (Comissão de Segurança no Ciclismo do Rio), estão os relatos de usuários sobre as pistas compartilhadas com ponto de ônibus, postes e árvores em bairros da zona sul carioca. "São situações que trazem risco real para os ciclistas, pois a presença de outros elementos na via é um dos fatores que mais causam acidentes", disse ela.

"Se um ciclista é obrigado a desviar de uma árvore que está no meio da faixa destinada a ele, é porque tem alguma coisa muito errada, não? Tudo bem que essa é uma das ciclofaixas mais antigas da cidade. É uma herança de um tempo em que não se pensava a bicicleta como alternativa de transporte. Mas ela precisa ser adaptada. Essa é uma reclamação antiga."

Mapa colaborativo da CPI das Bikes - Reprodução/Google Maps - Reprodução/Google Maps
Ferramenta reúne informações e reclamações sobre a malha cicloviária do Rio
Imagem: Reprodução/Google Maps

Fabrizia acompanhou o UOL em um tour por trechos nos quais havia algum tipo de problema relatado no mapa colaborativo. As árvores mencionadas por ela atrapalham a rotina dos ciclistas que passam pela rua Visconde e Silva, em Botafogo. "Tem uma placa que diz que a pista é compartilhada entre pedestres e ciclistas. Esqueceram de colocar a árvore no meio", ironizou um taxista.

Na Gávea, nas proximidades da PUC (Pontifícia Universidade Católica), o ponto dos ônibus que seguem em direção à Barra da Tijuca costuma ficar cheio. Com isso, a ciclofaixa é praticamente toda ocupada por passageiros dos coletivos. "Essa ciclofaixa faz parte de um projeto antigo, obsoleto, mas que ainda está aí. Não é possível que os ciclistas sejam obrigados a utilizar a rua", afirmou Fabrizia.

De fato, em apenas 15 minutos, a reportagem observou mais ciclistas na rua, junto ao meio fio, do que no espaço que deveria ser apropriado à circulação de bicicletas. "Isso vai durar até o dia em que algum ônibus atropelar um ciclista", alerta a representante da CSC-RJ.

Já na rua Pacheco Leão, às margens do Jardim Botânico, a pista é compartilhada entre ciclistas, pedestres e... postes. A reportagem contou pelo menos dez ao longo da via. Em um determinado momento, ao desviar de um deles, uma ciclista que pedalava pelo local por pouco não se desequilibrou.

"Se já é complicado para o pedestre ter que desviar de um bloco de concreto à sua frente, é uma tarefa ainda mais complicada para o ciclista. Se ele estiver em velocidade, o acidente pode ser grave. Mais uma vez, evidencia a falta de planejamento", comentou Fabrizia.

Ciclovia em favela carioca é azul para evitar reação de facções

UOL Notícias