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Donos de restaurante são condenados por morte de estudante por R$ 7

Estudante campineiro Mário dos Santos Sampaio, 22, morto a facadas, ao lado da namorada Patrícia Bonani: o crime foi "covarde", diz ela - Arquivo pessoal
Estudante campineiro Mário dos Santos Sampaio, 22, morto a facadas, ao lado da namorada Patrícia Bonani: o crime foi "covarde", diz ela Imagem: Arquivo pessoal

Fabiana Marchezi

Colaboração para o UOL, em Campinas

22/10/2015 19h13

Depois de três dias de julgamento, José Adão Pereira Passos e Diego Souza Passos, pai e filho, foram condenados, na tarde desta quinta-feira (22), a 17 e 14 anos de prisão, respectivamente, pela morte do estudante campineiro Mário dos Santos Sampaio.

O jovem tinha 22 anos quando foi assassinado à facadas no dia 31 de dezembro de 2012, após uma briga por uma diferença de R$ 7,00 na conta no restaurante dos réus no Guarujá (a 95 km de São Paulo).

Pai e filho foram condenados por homicídio qualificado por motivo fútil, impossibilidade de defesa da vítima e fraude processual, por causa do sumiço das imagens das câmeras que teriam gravado o momento do crime. Os dois cumprirão pena em regime fechado, sem poder recorrer da decisão em liberdade.

“A dor continua, porque a sentença não o trará de volta, mas ao menos a justiça foi feita”, desabafou a irmã do estudante, Valéria Sampaio, que acompanhou os três dias de júri.

Durante o julgamento, o promotor Fabio Perez Fernandez e o advogado assistente de acusação Antonio Gonzalez dos Santos Filho mostraram contradições nos depoimentos dos acusados. A principal delas seria o desaparecimento dos aparelhos que gravavam as imagens das câmeras existentes no restaurante. Os equipamentos que poderiam ter registrado o crime não foram localizados pela Polícia Civil.

O júri popular, composto por quatro mulheres e três homens, também teve acesso à gravação da ligação que Sampaio fez durante o ocorrido para a Polícia Militar. No registro, ele afirma que havia tumulto no local e que uma pessoa estaria com uma faca. A ligação é interrompida, possivelmente no momento em que Sampaio foi agredido com um tapa por José Adão.

A acusação pedia que os dois fossem condenados por homicídio qualificado por motivo fútil, impossibilidade de defesa da vítima,  e por fraude processual e pelo sumiço das imagens das câmeras, o que acabou acontecendo. A sentença saiu por volta das 17h de quinta-feira.

Alívio

“Estamos bastante satisfeitos com o resultado. Desde o princípio lutamos por um julgamento justo e honesto. Agora, vou conversar com a família dentro de alguns dias para checar a possibilidade de recorrer para tentar uma pena maior, mas o principal, que é a condenação, nós já conseguimos”, comemorou o advogado Antonio Gonzalez dos Santos Filho.

Já o advogado dos réus, Gilberto Antonio Rodrigues, argumentou ao longo da sessão que, na noite do crime, ocorreram dois fatos distintos.

Segundo ele, além da divergência do valor a ser pago, que teria sido resolvido de forma tranquila -  com Sampaio pagando a quantia que achava justa -, houve também uma briga que teria começado a partir de um tapa na cara da vítima. José Adão, em depoimento, disse que apenas reagiu a um xingamento do estudante.

Em relação ao equipamento que sumiu do estabelecimento, apesar de uma testemunha dizer que o outro filho de José Adão teria ido buscar o gravador, Rodrigues disse que não há uma única prova no processo que comprove isso.

O objetivo da defesa era pedir que José Adão, réu confesso e responsável pelas facadas que mataram Sampaio, fosse condenado por homicídio simples. O advogado afirmou ainda que Diego não teria contribuído com o ato do pai e que o crime cometido por ele seria apenas lesão corporal.

Após a sentença, o defensor, que já havia adiantado que recorreria caso os réus fossem condenados, foi procurado pelo UOL, mas não retornou as ligações.

O caso

Mario Sampaio foi morto a facadas na véspera do Ano Novo por José Adão Pereira Passos, dono do restaurante onde havia feito uma refeição com a namorada e alguns amigos. Eles passariam a virada de ano na praia.

Após o estudante discordar do valor da conta (uma diferença de R$ 7), uma discussão entre Sampaio, o dono do restaurante, o filho dele e o garçom Robinson de Jesus Lima foi iniciada dentro do estabelecimento.

Depois de toda a confusão, segundo a polícia, o dono do restaurante foi à cozinha, voltou com a faca e golpeou Sampaio. José Adão ficou preso nove dias após o crime.

De acordo com a polícia, o suspeito escondeu provas, intimidou testemunhas e atrapalhou a investigação, de acordo com informações da polícia. Diego, o filho dele, ficou preso no dia 15 de janeiro de 2013. Desde então, pai e filho aguardavam julgamento presos na cadeia de Vicente de Carvalho. Já o garçom, que compareceu a uma primeira audiência, aguarda o julgamento, ainda sem data, em liberdade.

Após o crime, os três foram denunciados pelo Ministério Público. Antes do júri popular, ocorrido nesta semana, sete audiências foram realizadas -- duas em Guarujá, três em Campinas, uma em Piracicaba e outra em São Paulo.