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Dono de lanchonete em SP faz ofensas homofóbicas a cliente após críticas

Fotos divulgadas no Facebook pela jornalista Letícia Peres, 29, mostram duas placas expostas na lanchonete The Dog Haüs - Reprodução/Facebook
Fotos divulgadas no Facebook pela jornalista Letícia Peres, 29, mostram duas placas expostas na lanchonete The Dog Haüs Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, no Rio

06/11/2015 06h00

O dono de uma lanchonete de São Paulo fez ofensas homofóbicas a uma cliente depois que ela criticou o conteúdo machista da decoração do estabelecimento no Facebook. Ofendida, a jornalista Letícia Peres, 29, publicou as mensagens trocadas com o empresário Shemuel Shoel na rede social, relatou ter sido ameaçada por ele e declarou já ter entrado em contato com um advogado para processá-lo.

O caso rapidamente ganhou repercussão e gerou uma onda de manifestações de repúdio ao empresário e à The Dog Haüs, situada no Itaim Bibi, zona oeste da capital paulista. A página da lanchonete na rede social saiu do ar na tarde desta quinta-feira (5).

A reportagem telefonou para o restaurante procurando por Shemuel, mas uma funcionária do estabelecimento informou o telefone do advogado da lanchonete e da família Shoel, Luiz Augusto Alonso. O defensor argumentou que seu cliente "caiu em uma verdadeira arapuca". "Ela o provocou em conversas particulares. Ele ficou nervoso por ter sido ofendido e retribuiu as ofensas", declarou.

Entre as mensagens enviadas pelo empresário para a jornalista, que é homossexual, ele a chamou de "sapatão" e "putinha de quinta" e disse para ela "colar velcro". Letícia, por sua vez, o chamou de "otário" e "traficantezinho de quinta", referência ao suposto envolvimento dele em um caso de tráfico internacional de drogas, ocorrido em 2010. "Eu não fui grosseira com ele até o momento que ele foi grosseiro comigo", afirmou a cliente, que disse ao UOL ter se arrependido de chamá-lo de "traficantezinho".

Durante a conversa, Shemuel escreveu: "qualquer dia você vai se surpreender, pode esperar. Gente que fala o que não deve dá nisso". A mensagem foi interpretada pela jornalista como uma ameaça. "Eu senti minha família ameaçada. Minha irmã e minha mãe ficaram bastante preocupadas".

O advogado do empresário afirmou não ver nas conversas uma ameaça por parte do seu cliente, e sim um "tom ameaçador" nas mensagens de Letícia. "Estamos imprimindo todos os posts e comentários e vamos colocar em análise para eventuais medidas judiciais", declarou Alonso.

Estava levando na esportiva, tinha recebido algumas mensagens machistas, homofóbicas e de cunho pessoal. Mas agora fui...

Posted by Leka Peres on Wednesday, November 4, 2015

Crítica à decoração machista

A história teve início no último sábado (31), quando a jornalista foi à lanchonete e saiu impressionada com o cachorro-quente que comeu no local. "O The Dog Haüs tem o melhor hot dog de São Paulo e o atendimento é incrível", escreveu em sua página no Facebook. Os elogios, no entanto, pararam por aí.

Na mesma publicação, ela publicou fotos de duas placas que estavam expostas no local. Em uma delas, havia a representação de um corpo masculino e outro feminino ao lado das seguintes frases, em inglês: "Garotos: sem camiseta, sem serviço; Garotas: sem camiseta, bebida de graça". Na outra, uma lista de preços fictícios para que o estabelecimento desse respostas "se alguma namorada ou esposa ligar procurando" pelo cliente.

"Mas eles acham que machismo é piada, apesar de que quando estive lá mais da metade das pessoas eram mulheres, muito triste. Vocês podem ser melhor que isso, por enquanto perderam uma cliente", completou Letícia no post.

 

O The Dog Haus tem o melhor hot dog de São Paulo e o atendimento é incrível. Mas eles acham que machismo é piada, apesar...

Posted by Leka Peres on Saturday, October 31, 2015

Lanchonete reclama e depois tenta se explicar

Quatro dias depois, nesta quarta (4), o perfil do The Dog Haüs, que havia sido marcada na publicação, respondeu à cliente com a seguinte mensagem: "Caramba Qt gente infeliz nesse mundo, isso é decoracao bando de babaca, aqui repaeotos a todos , ficou ofendido??? Come HotDog em outro pico".

Em nota enviada pelo advogado em nome da lanchonete, a The Dog Haüs lamenta o ocorrido, afirma que a resposta dada à crítica da cliente "não corresponde com o posicionamento da empresa" e diz estar "tomando as devidas providências internas em relação ao ocorrido, para que tais fatos não ocorram novamente". Segundo Letícia, desde então a lanchonete não entrou em contato com ela e nem lhe pediu desculpas.

Sobre uma das placas criticadas por Letícia --a com o conteúdo em inglês, a empresa explicou que o objeto foi doado por um cliente que a trouxe dos Estados Unidos e informou que, "para evitar qualquer tipo de má interpretação, o item decorativo já foi retirado da loja". "A referida placa nada mais era que uma brincadeira, sem nenhum cunho preconceituoso ou machista", diz a nota. O texto, entretanto, afirma que a decoração tinha o intuito de "proporcionar um ambiente leve e descontraído", visava o entretenimento do público e era bem aceito pelos clientes.

Em outro trecho do comunicado, a empresa diz que há mulheres que compõem o quadro de funcionários, "inclusive a mãe dos sócios", que trabalha diariamente no local, "afastando qualquer hipótese de comportamento machista ou preconceituoso".