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Heróis atravessam a lama para salvar vítimas de desastre ambiental em MG

Caetano Manenti

Colaboração para o UOL, em Mariana (MG)

06/11/2015 20h54

Assim que a sexta-feira (6) acordou, Minas Gerais tinha novos heróis. Durante a madrugada, apenas com luzes de lanterna, homens e mulheres abriram picadas na mata para levar socorro ao povo do subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (115 km de Belo Horizonte, em Minas Gerais).

Um deles, Danilo Caetano, 39, usou o conhecimento adquirido nos anos vividos na comunidade para criar caminhos alternativos para dezenas de pessoas deixarem a localidade, destruída pela lama. Uma servidora da Secretaria Municipal de Saúde - que não quis dizer seu nome, mas que também passara a noite salvando gente da barragem rompida - contou que Danilo escalou até as copas das mangueiras para salvar cinco jovens. "Ele subia e descia esse morro com água e comida para alcançar as pessoas que não podia resgatar." Quando o dia amanheceu, exausto, Danilo deixou para trás a cidade. Em vez do agradável bar sob as mangueiras, lama. Em vez do campo de futebol, da igreja ou de sua escola, mais lama.

Ainda pela manhã, Danilo foi ao médico no centro de Mariana, fez exames, tomou remédios, recebeu injeções, torceu para que não seja verdade o que falam dos perigos da lama da barragem e finalmente voltou para a casa onde mora com a mulher e seus dois filhos, no distrito de Santa Rita Durão, vizinho a Bento Rodrigues. 

À tarde, Danilo estava jogado no sofá da sala. Seu pai, José das Graças Caetano, 62, deixou a televisão para atender a campainha. Caetano morava em Bento Rodrigues e hoje está abrigado na casa do filho. Em menos de um minuto de conversa, começou a chorar. "Eu perdi tudo de material que eu tinha: casa, documentos, roupas, fotos. Tudo. Estou só com a roupa do corpo. Só restou o meu Golzinho, com o qual eu fugi." 

Com o carro, Caetano dirigiu em alta velocidade e coletou os moradores mais velhos, que não podiam subir correndo para as partes altas do distrito. Só deixou a terra em que vivia desde 1963 quando teve certeza que não havia mais como salvar alguém. "Foi rápido. Quatro e quinze (da tarde) a água chegou e Bento não existia mais. Se não fosse o povo de Bento e de Santa Rita - que, graças a Deus, ajudou a gente - tinha morrido muito mais gente." 

 

Vídeo mostra rompimento de barragem e desespero

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