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Sem turistas, moradores reclamam: "a tragédia é da Samarco, não de Mariana"

Centro de Mariana (MG), os moradores viram o fluxo constante de turistas desaparecer da cidade, após o rompimento da barragem - Carlos Eduardo Cherem/UOL
Centro de Mariana (MG), os moradores viram o fluxo constante de turistas desaparecer da cidade, após o rompimento da barragem Imagem: Carlos Eduardo Cherem/UOL

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Mariana (MG)

26/11/2015 06h00

A repentina fama internacional de Mariana (MG), após o rompimento da barragem da mineradora Samarco, está incomodando os moradores do município.

Considerado pelo Ministério do Meio Ambiente, o maior desastre ambiental do país, o acidente destruiu dois distritos do município, Bento Rodrigues (620 habitantes) e Paracatu (600 habitantes), matou 12 pessoas e deixaram 11 desaparecidos.

O acidente dizimou os subsdistritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, distantes entre 30 quilômetros e 40 quilômetros da área urbana do município e dos principais pontos turísticos e históricos do local.

Apesar da tragédia humana, que alterou a vida da cidade, a maior parte de Mariana não ficou sem água como as cidades mineiras e capixabas, como Governador Valadares (MG) e Colatina (ES). O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Mariana capta a água em nascentes e ribeirões no entorno da cidade, distantes cerca de 90 quilômetros do rio Doce.

"(O desastre) não aconteceu aqui (em Mariana). Aconteceu num distrito da cidade. Não é correto a mídia internacional chamar o caso de tragédia de Mariana. A tragédia não é de Mariana. É da Samarco", afirma o estudante de engenharia, Samuel Magalhães Soares, 21.

"Vai atrapalhar a fama de Mariana e trazer prejuízos", diz o marinense.

Fundada por bandeirantes paulistas há 319 anos, em 1696, que descobriram ouro na região, Mariana foi a primeira vila e a primeira capital de Minas Gerais.

A sede do governo estadual, simbolicamente, é transferida todo ano para Mariana em 16 de julho, quando é comemorado o Dia de Minas    

O município fica a 110 quilômetros de Belo Horizonte e a 12 quilômetros de Ouro Preto. Tem cerca de 59 mil habitantes. De acordo com a Prefeitura de Mariana, cerca de 89% da arrecadação do município vem do minério e 11% do turismo.

"A tragédia é da Samarco. Isso deve ficar claro. Não é de Mariana. Não podemos ser prejudicados por isso" afirma o estudante do ensino médio, Emerson Figueiredo Silva, 22. Também marinense.

"O troço ficou feio pra Mariana"

A enfermeira Helena Reis, 61, faz coro: "o troço ficou feio para Mariana. (O desastre) atingiu muito a população. Atingiu a cidade. Atingiu o comércio. Atingiu toda a vida da população. Mas Mariana não tem nada com isso", diz a marinense.

"Foi uma coisa ruim para Mariana. (O desastre) vai atrapalhar o município, sobretudo a população", afirma.

"O desastre afetou a cidade diretamente, mas é errado a mídia a todo momento falar que a tragédia é de Mariana. A empresa é Samarco", afirma a atendente de oficina mecânica, Lunara Araújo, 21, nascida no município.

"Eu acho que está havendo uma propaganda muito negativa, muito feia, contra Mariana. O turismo acabou", afirma a proprietária da casa de massas Direita 38, Daviane Ribeiro Stopa. Ela explica que o movimento de seu restaurante caiu cerca de 80%, após o rompimento das barragens, passando de cerca de 50 a 60 refeições por noite, para algo em torno de 10 a 15 refeições.

"A notícia lá fora é que Mariana não tem nada, não tem nem água para beber. A prefeitura cancelou todos os eventos esportivos e culturais que estavam programados para este fim de ano", afirma a capixaba Arlete Eller, 35, que há cinco anos deixou Aracruz (ES) para a abrir a churrascaria Casarão Grill em Mariana.

O movimento do Casarão Grill teve uma retração de algo em torno de 70% no período, passando de uma média de 350 refeições diárias servidas para algo em torno de 100 refeições.