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'Preciso de uma casa, e a Samarco tem de resolver', diz jovem desabrigada

Raiane Oliveira e a mãe, Ana Lúcia, em quarto de hotel na cidade de Maruana (MG). A casa delas foi destruída no subdistrito de Paracatu - Carlos Eduardo Cherem/UOL
Raiane Oliveira e a mãe, Ana Lúcia, em quarto de hotel na cidade de Maruana (MG). A casa delas foi destruída no subdistrito de Paracatu Imagem: Carlos Eduardo Cherem/UOL

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Mariana (MG)

27/11/2015 11h59

A lama derramada pela barragem de Fundão, em Mariana (MG), é apenas mais uma das tragédias na vida de Raiane Rosália de Oliveira, 21. Ex-moradora do subdistrito de Paracatu, totalmente destruído pela avalanche de detritos, a jovem é um retrato do desamparo sentido por parte das vítimas do desastre. Para piorar, ela não tem emprego e há muito parou de estudar."Parece que desabou tudo na minha vida, igual à lama da Samarco."

A vida dela e da mãe, a funcionária pública municipal aposentada Ana Lúcia Silva, 46, está parada e sem perspectivas. abrigadas em um hotel da cidade, veem a vida passar e cobram uma solução da empresa mineradora a respeito de ajuda e indenizações. "Não dá para ficar aqui com a minha mãe. O pessoal (a Samarco) tem de resolver a questão da casa pra gente. Opessoal do hotel é até muito educado, trata a gente muito bem. Mas é ruim do mesmo jeito. Precisamos de uma casa."

Há oito meses seu pai morreu. Ela recebeu dinheiro de uma apólice de seguro de vida dele de R$ 7 mil. Guardou R$ 2 mil para "umas coisas pessoais" - um aparelho de som, por exemplo. Com os R$ 5 mil restantes comprou um aparelho de TV, uma geladeira para a mãe e investiu na construção de uma varanda na casinha simples de Paracatu, um antigo sonho.

"Estava esperando uma ajuda de areia e tijolo da prefeitura, e tinha começado a tocar a obra. A varanda era o sonho da minha mãe. Aí veio o desastre. Não sobrou nada", diz Raiane.

Uma semana após perder a casa, a garota descobriu que está grávida de um mês do primeiro filho. O namorado mora no distrito de Monsenhor Horta, cerca de 12 quilômetros de Paracatu, e que não foi atingido pela lama. "Ele já sabe que será pai", afirma a garota.

Ela e a mãe foram alojadas em uma ala do hotel Providência, em Mariana. Ana Lúcia é auxiliar de serviços aposentada da Prefeitura de Mariana. Tem doença de Chagas e necessita constantemente de usar uma bomba de oxigênio para respirar. Antes da aposentadoria, era funncionária da Escola Municipal de Paracatu, que também destruída pela lama.

"Ando daqui da cama até o banheiro (cerca de três metros de distância) e já canso. Depois de tudo que aconteceu, piorei um pouco" diz a aposentada.
"Tá muito ruim aqui (no hotel). Não há liberdade. É só dormir e comer. E a comida é péssima. Só tem arroz, arroz." A filha endossa: "Nós gostamos é de angu, feijão, verduras. Uma comida mais temperada com alho."

 A jovem não vê a hora para se mudar para uma casa, conforme determinado pelo Ministério Público de Minas Gerais à empresa Samarco: tirar os desalojados pelo mar de lama dos hotéis e transferir as famílias para casas alugadas. "Na cidade é diferente, tudo mais dificil. Acho que não dá para acostumar."

A Samarco não se manifestou sobre a queixa de Raiane de Oliveira.