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Desabrigado de MG se vê no Google Earth antes de tragédia: Foi tudo embora

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Mariana (MG)

28/11/2015 06h00

Os olhos lacrimejam, as mãos tremem e o aposentado Henrique Gonçalves Breta, o Henrique do Bento, se emociona após ver sua fotografia, a partir de imagens do Google Earth, em frente à sua casa de quatro cômodos, na rua São Bento, a principal do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG).

A sua casa foi coberta pela lama que assolou o distrito após o rompimento da barragem do Fundão, da Samarco, no dia 5 de novembro.

"Sou eu mesmo", afirma Henrique do Bento, que afirmar ter 50 anos.

Solteiro e sem filhos, ele produzia cerca de seis litros de leite por dia, que vendia para os moradores do distrito. Tinha um pequeno rebanho de sete vacas, que, inclusive, tinham nomes como . Ele ainda espera encontrá-las. "Diz que está ´varcando´, lá no morro... Vou lá domingo para ver elas estão lá". 

Ele tinha ainda o cavalo Goiano, de dez anos, que era "bom, mas bom mesmo". No entanto, Henrique do Bento não tem esperança de encontrá-lo. "Foi embora. Desapareceu. Se ele estivesse em algum lugar, ele aparecia lá em casa"

"Foi tudo embora na lama. O cavalo (Goiano) tava na porta da cozinha comendo farelo e sumiu. Desceu na lama e foi embora", conta, emocionado.

Ele, que diz ter 50 anos, nasceu em Bento Rodrigues, trabalhou durante 20 anos em diversas funções em cinco mineradoras que exploram o minério de ferro na região conhecida como Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Aposentou-se com um salário mínimo (R$ 788).

"Sou daqui da região mesmo. Meu pai era primo de um Breta, muito rico, proprietário de uma fazenda próxima daqui, que foi comprada pela Samarco há muitos anos", afirma o aposentado.

"Toda a minha família, os parentes, foi tudo criado no Bento (Rodrigues)", afirma.

Ele explica que herdou sozinho a casa de quatro cômodos da família, mais 20 hectares de terra, no distrito de Bento Rodrigues.

"Eu só tenho um irmão, que está muito bem de vida, aposentou, tem um caminhão e a mulher é professora. E deixou tudo comigo. Não se interessou pela herança".

Ele está preocupado com sua situação, abrigado num pequeno quarto de hotel em Marina, com cama, armário e um rádio de pilha. "Não gosto de televisão. Aqui (o hotel) é muito ruim porque eu não gosto de ficar parado", disse.

A Samarco recebeu a determinação do MP (Ministério Público) de Minas Gerais para que desse início ao pagamento de um salário mínimo (R$ 788) para cada família vítima do acidente, mais 20% para cada dependente.

"Eu quero é minha casa de quatro cômodos e o cavalo. A Samarco tem de pagar. As vacas, eu ainda acho que vou encontrar", afirma.

"Eu ouvi falar que os aposentados não vão receber o salário da Samarco, só os que estavam trabalhando", afirmou.

O UOL tentou entrar em contato com a assessoria da Samarco na sexta-feira (27) à noite, mas não obteve retorno.