Na Justiça, dono da Kiss diz que prefeito deveria estar no banco dos réus
Um dos ex-sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr, o Kiko, prestou depoimento de mais de nove horas nesta terça-feria (1º) à Justiça. Kiko é um dos réus no processo criminal que apura as responsabilidades pela tragédia, ocorrida em 27 de janeiro de 2013 e resultou na morte de 242 pessoas. Diante do juiz, ele disse: "Membros da prefeitura [de Santa Maria] deveriam estar aqui comigo [como réus]", em referência ao prefeito Cezar Schirmer (PMDB).
Kiko foi o terceiro a depor no Salão do Júri do Fórum de Santa Maria (293 km de Porto Alegre, no RS). Na semana passada, foram as vezes de Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão, membros da banda Gurizada Fandangueira.
Por mais de uma vez, o ex-sócio da Kiss afirmou que mais pessoas deveriam ter sido culpadas pela tragédia. Spohr disse que alvarás de funcionamento foram concedidos pela prefeitura em 2007 e 2011. "Se eu tenho que responder pelo que aconteceu, outros também, até antigos donos. Não é justo só eu", disse. Ele chegou, inclusive, a se dirigir ao juiz: "O senhor não deveria ter aceitado a denúncia só de quatro 'bocós'".
Kiko negou que a Kiss estivesse superlotada no momento da tragédia. Sobre a utilização do artefato pirotécnico que deu origem às chamas, afirmou que não sabia da utilização de fogos pela banda. "Eu juro por qualquer coisa: nunca vi show pirotécnico. Nunca pedi para fazerem. E nunca me pediram."
Ele classificou o ato de acender o sinalizador dentro da boate como "um erro", "uma brincadeira errada", e que, ao contrário de algumas versões, não barrou a saída dos frequentadores da Kiss no momento em que as chamas se alastravam: "Eu vi vídeo. Ninguém gritou: 'abre a porta'. Foi eu quem abri a primeira porta do fumódromo", disse.
Questionado sobre em que circunstância poderiam ter sido salvas mais vidas, ele disparou: "Se os bombeiros tivessem mais equipamentos".
Já prestaram depoimento à Justiça o produtor da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Bonilha Leão, e o ex-vocalista, Marcelo de Jesus dos Santos. O quarto e último réu, o ex-sócio da boate Mauro Hoffmann, depõe no Fórum Central de Porto Alegre na próxima semana. Eles são acusados de homicídio qualificado pelo motivo torpe e emprego de fogo, asfixia ou outro meio insidioso ou cruel que possa resultar perigo comum (242 vezes consumado e 636 vezes tentado).
A assessoria do prefeito de Santa Maria respondeu à citação feita por Spohr em juízo: "Nunca nenhuma prefeitura foi tão investigada como a de Santa Maria. Nada que responsabilizasse a prefeitura foi constatado em virtude dessa triste tragédia. Em relação ao prefeito Cezar Schirmer, assim como a prefeitura, ele também foi investigado, prestou todos os esclarecimentos e foi absolvido pela Justiça".
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