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Com redes sociais, denúncias de violência contra mulheres aumentam 40%

Manifestantes fazem ato pelos direitos da mulher na avenida Paulista, em São Paulo - Felipe Marques/via WhatsApp - 30.out.2015
Manifestantes fazem ato pelos direitos da mulher na avenida Paulista, em São Paulo Imagem: Felipe Marques/via WhatsApp - 30.out.2015

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

04/12/2015 06h00Atualizada em 08/12/2015 15h39

O número de relatos de violência contra a mulher registrados pelo 180 --disque-denúncia gratuito e nacional voltado para as mulheres-- aumentou cerca de 40% entre janeiro e outubro deste ano em relação ao mesmo período de 2014. A visibilidade que o tema tem tido pode explicar esse crescimento, na opinião de integrantes de movimentos feministas.

Do começo do ano até outubro, o disque 180 recebeu 63.090 relatos de violência contra a mulher, 40,3% a mais que a quantidade registrada nos dez primeiros meses do ano passado (44.957), segundo a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. Das denúncias anotadas neste ano, quase metade (49,8%) foi de violência física.

Luise Bello, gerente de conteúdo e comunidade da ONG feminista Think Olga, diz acreditar que o aumento no número de denúncias ocorreu porque o assunto está "muito em voga".

Em outubro, a questão ficou em evidência depois que internautas fizeram comentários com conotação sexual direcionados a uma participante adolescente do programa "MasterChef Júnior", da TV Band. Em protesto, a Think Olga lançou a campanha #PrimeiroAssédio para estimular mulheres a relatar, pelas redes sociais, situações de assédio e abuso.

"O ano de 2015 foi de muito combate à violência contra a mulher. E o disque 180 é uma ferramenta muito fácil de ser lembrada. Ela foi muito divulgada por empresas e órgãos públicos, que aproveitaram as hashtags [nas redes sociais] para divulgar o número", afirma Luise Bello.

Ela lembra também que a violência contra a mulher foi tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano, porta de entrada dos estudantes para a maioria das universidades públicas brasileiras.

Além disso, mulheres foram às ruas para protestar contra um projeto de lei, aprovado em uma comissão da Câmara Federal, que dificulta a realização de aborto em casos de estupro. Segundo a proposta, a mulher que engravidar em decorrência de estupro só poderá abortar após prestar queixa na delegacia e realizar exame de corpo de delito. A legislação em vigor atualmente não faz essa exigência. 

Marília Kayano, vice-diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, que também trabalha com a temática feminista, concorda que o tema da violência contra a mulher está tendo mais "visibilidade".

"Mais importante que isso é que as formas de violência que são enquadradas na Lei Maria da Penha estão ficando mais visíveis. As pessoas agora entendem, percebem que a violência psicológica, por exemplo, é uma forma de violência contra a mulher", diz. 

Das queixas feitas ao disque 180 entre janeiro e outubro, 30,4% eram de violência psicológica. O serviço também atendeu queixas de violência moral (7,3%), violência sexual (4,9%), cárcere privado (4,9%) e violência patrimonial (2,2%).