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Abalados, frequentadores da Luz descobrem museu após incêndio

Nestor Bernardes da Silva, 62, não conhecia o Museu da Língua Portuguesa - Gabriela Fujita/UOL
Nestor Bernardes da Silva, 62, não conhecia o Museu da Língua Portuguesa Imagem: Gabriela Fujita/UOL

Gabriela Fujita

Do UOL, em São Paulo

23/12/2015 06h00

Com o celular levantado à frente do rosto o tempo todo, ele faz fotos e vídeos para guardar uma lembrança --triste, mas ainda uma lembrança-- do museu no centro de São Paulo que foi destruído pelo fogo. Nestor Bernardes da Silva, 62, conhece a Estação da Luz desde criança, passava por ali diariamente no caminho do trabalho para casa, mas nunca entrou no Museu da Língua Portuguesa, que funcionava sobre a linha ferroviária há quase dez anos.

"O museu, eu ainda não tinha visitado, não. A gente trabalha e não tem muito tempo, né, de ficar frequentando museu. Uma pena... as coisas boas, o brasileiro não tem muito tempo [de ver], não", disse ele à reportagem do UOL.

Encarregado de manutenção em uma empresa que fica no bairro dos Jardins (distante 4,5 km do museu), ele aproveitava a folga do recesso de fim de ano para descobrir, no dia seguinte ao incêndio, o que tinha restado do prédio que foi tomado pelas chamas na segunda-feira (21).

"Peguei trem aqui por muitos anos. Quando acabou a Maria Fumaça, eu comecei a andar no trem a diesel, depois entrou o trem elétrico. É uma pena perder essa estação desse jeito. Faz parte da vida da gente isso aqui, afinal de contas."

Desde a tarde de segunda-feira, está interditado o tráfego de trens na estação que recebe 300 mil pessoas por dia. Muita gente passou a usar mais o metrô e os ônibus na região, mas ainda com um pouco de dúvidas sobre que caminho tomar.

Vizinha do museu há 40 anos, Torquata Barreira de Macedo, 63, logo se ofereceu para ajudar quando ouviu, na esquina da estação, alguém perguntar como chegar à linha 1-Azul do Metrô.

"Aqui nós temos gente da zona norte, leste, sul, de tudo que é região da cidade nós temos gente, mas nem sempre as pessoas sabem dar a orientação", disse.

Acompanhada de três crianças (duas netas e um neto), com quem voltava do Parque da Luz, em frente ao museu, ela explicava para Sidália Souza como chegar ao metrô. A operadora de máquina vinha da rua Santa Ifigênia, a 700 metros de distância.
 
"Complicou, né, tem que dar a maior volta agora", disse Sidália, que nunca esteve no Museu da Língua Portuguesa.

Assim como a dona Torquata, que viu da janela de seu apartamento a fumaceira provocada pelo incêndio.

"Você sabe que eu moro aqui há quase 40 anos, não tenho nem vergonha de falar, eu moro em frente à Sala São Paulo. Você acredita que eu nunca entrei? Nem na Sala nem no museu", rindo e um pouco envergonhada.

"A gente tem uma riqueza aqui no centro velho de São Paulo, uma riqueza em cultura, e não aproveita. Agora vou ter que esperar [o museu] se recuperar."

Esperemos que não leve muito tempo, né, Torquata...

Experimentar o museu e seu acervo é algo desconhecido também pela estudante Larissa Castro Yague, 17. Nascida em Osasco (SP) e moradora de Novo Hamburgo (RS), ela passa todas as férias em São Paulo porque a família mora aqui.

A caminho das compras de Natal na rua José Paulino, bem pertinho da Estação da Luz, ela parou para fotografar o prédio queimado.

"É muito triste porque é toda a história de um lugar. Toda a história foi queimada e destruída. Não conhecia, nunca entrei. Meu pai mesmo estava me dizendo: 'nunca consegui ir ao museu'."