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O que ainda falta esclarecer sobre o acidente que matou Eduardo Campos?

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

20/01/2016 13h37

Mesmo após a divulgação, nesta terça-feira (19), do relatório final sobre o caso pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão da Aeronáutica responsável por apurar esse tipo de acidente no país, alguns pontos da investigação sobre o acidente aéreo que matou o então candidato à Presidência Eduardo Campos permanecem sem resposta.

O acidente ocorreu em 13 de agosto de 2014, após o Cessna 560 XLS+ deixar o aeroporto Santos Dumont, no Rio, rumo à base aérea de Santos, no Guarujá, em São Paulo. A aeronave chegou a se aproximar da pista para o pouso, mas desistiu do procedimento, arremeteu (manobra para ganhar altitude), fez uma curva à esquerda e perdeu altura, caindo por volta das 10h.

Enquanto o relatório do Cenipa focou na possibilidade de ter ocorrido uma sucessão de erros dos pilotos, familiares das vítimas apontam para a suspeita de falha da aeronave e indicam que acidentes semelhantes ocorreram com esse mesmo modelo de avião.

A fabricante do avião, a Cessna Aircraft Company, informou que colabora com as autoridades responsáveis pela apuração mas não comenta investigações.

Veja abaixo algumas perguntas sem resposta:

Por que o avião estava com o bico voltado para baixo?

O avião estava em alta velocidade e com o bico voltado para o solo quando caiu. Essas circunstâncias indicam que os pilotos podem ter acreditado estarem em movimento de subida, quando na verdade a aeronave caía.

O Cenipa apontou que a provável explicação para essa posição incomum é a possibilidade de os pilotos terem sofrido o fenômeno da desorientação espacial, que é quando se perde a orientação do avião em relação ao solo, e não se sabe se o voo está subindo ou descendo.

A desorientação, segundo o Cenipa, pode ter sido causada por um acúmulo de fatores conhecidos sobre o voo que afetaram a capacidade de orientação espacial dos pilotos. Podem ter contribuído a curva “fechada” e em velocidade que os pilotos fizeram antes de arremeter após desistirem da primeira tentativa de pouso, as más condições do tempo, com vento forte e nuvens baixas, e a alternância entre o modo de voo por aparelhos e visual, exigida por causa das más condições meteorológicas.

Os advogados das famílias promoveram uma investigação paralela com o auxílio do perito Carlos Camacho. Eles apontam que falhas no sensor de velocidade poderiam afetar o estabilizador horizontal da aeronave, levando o avião a mergulhar.

Eles afirmam que há registros de ao menos dois incidentes parecidos com o mesmo modelo de avião. Mas, nesses casos, as aeronaves tiveram altitude suficiente para retomar a tempo o controle do voo.

Quais eram as condições na hora da arremetida?

Também não está claro por que o piloto decidiu abortar a primeira tentativa de pouso e arremeteu.

Informações de radar conseguiram determinar que os pilotos não seguiram a rota prevista para a aproximação antes do pouso. Eles deveriam passar duas vezes sobre um ponto próximo à cabeceira da pista antes de tomar posição e iniciar a descida. Em vez disso, o piloto fez uma espécie de “atalho” e fez a aproximação direta para o pouso.

O Cenipa conseguiu determinar que, pouco antes de arremeter, a aeronave estava abaixo da camada de nuvens, portanto possivelmente com condições de navegação visual, mas em velocidade 21% acima da recomendada para o pouso.

Não foi possível precisar a que distância da pista o avião estava neste momento, o que levou a algumas hipóteses: a de que o avião tinha visibilidade da pista mas estava muito rápido e, por isso, arremeteu; a de que o avião teria reduzido sua altitude num ponto muito próximo ou muito distante da pista, portanto fora da chamada “rampa de aproximação”, espécie de linha imaginária da trajetória que um avião deve fazer para um pouso suave.

O Cenipa também apontou que a arremetida não foi realizada no ponto indicado pelos procedimentos para pouso na pista da Base Aérea de Santos.

Por que o sistema de registro de voz da cabine estava desligado?

Outro ponto não explicado é por que o sistema que deveria gravar as conversas na cabine de comando da aeronave estava desligado há mais de um ano.

O Cenipa identificou que a última gravação registrada pelo aparelho de gravação de voz, o CVR (cockpit voice recorder, em inglês), foi feita em 23 de janeiro de 2013, portanto um ano e sete meses antes do voo do acidente.

A investigação também conseguiu determinar que o aparelho desde então não havia sido recarregado, o que deveria ocorrer automaticamente com o funcionamento do avião. O mau funcionamento do aparelho também deveria ser indicado pelo sistema da aeronave, mas não foi encontrada nenhuma menção ao fato nos registros de bordo.

O não funcionamento do equipamento é uma das regras de segurança que impediriam a aeronave de realizar voos.

Se estivesse funcionando, boa parte das dúvidas sobre o acidente poderiam ser mais facilmente esclarecidas.