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Moradores de Porto Alegre passam o sábado arrumando os danos do temporal

Dono de um comércio em um estacionamento, Amarildo Back, teve seu carro destruído (ao fundo), além do prejúizo com outros carros e seu comércio - UOL
Dono de um comércio em um estacionamento, Amarildo Back, teve seu carro destruído (ao fundo), além do prejúizo com outros carros e seu comércio Imagem: UOL

Do UOL, em Porto Alegre

31/01/2016 06h01

O sábado foi de limpeza das ruas e contabilização de prejuízos em Porto Alegre. A forte tempestade que atingiu a cidade na noite dessa sexta-feira (29) causou danos na maioria dos bairros, especialmente os da área central. Centenas de árvores caíram, danificando seriamente a rede elétrica. Nos bairros Moinhos de Vento, Floresta e Menino Deus, por exemplo, há clientes sem abastecimento de energia desde as 22h de sexta.

A destruição vista nas ruas da capital gaúcha é ímpar para os moradores da cidade. Não se ouve relatos de caso semelhante. Na tarde deste sábado, a família Kobayashi se uniu para retirar os restos da árvore que caiu em frente à sua casa, na rua Vicente da Fontoura, bairro Santana. "Estamos sem luz e água desde o temporal. E sem telefone, porque não conseguimos recarregar as baterias. E, além disso, não podemos sair de casa, porque o portão da garagem está impedido pela árvore", reclama Eliana Kobaiashi.

Perto dali, na avenida Ipiranga, uma das principais da cidade, por pouco uma araucária não acertou em cheio o quarto de quatro crianças. A árvore, localizada no terreno vizinho, tombou com a força dos ventos. No local, uma revenda de veículos, uma Kombi ficou totalmente destruída. "O prejuízo é de R$ 32.000. Mas isso não é nada. Mais um palmo para o lado, a árvore ia cair sobre as crianças", avalia o vendedor Leandro Meneghini.

Ele mostra a araucária, cuja copa ainda destruiu uma parada de ônibus. "É uma árvore protegida. E a gente não pode mexer. Até agora nenhum órgão público veio aqui. Aquilo ali é um ponto de ônibus. E as pessoas estão ali, perto dos fios de luz caídos", reclama.

 

O UOL circulou pelas ruas de Porto Alegre durante a tarde de sábado e não visualizou nenhum agente de trânsito. Um dos maiores problemas era os semáforos desligados, o que por vezes ocasionou alguns acidentes leves em cruzamentos. Também foram notados poucos policiais.

Já as equipes da Smam (Secretaria Municipal do Meio Ambiente) trabalhava dentro de suas capacidades. "Estamos aqui desde cedo da manhã trabalhando. Não temos mão de obra para ajudar", explica o funcionário público Jeferson Oliveira. Ele e um colega se dividiam na utilização de um facão e uma motoserra para cortar diversas árvores que obstruíam uma via da avenida Oscar Pereira. As grandes árvores tombaram do lado de dentro de um cemitério, destruindo o muro e levando junto toda a fiação de luz que abastece a região.

"Eu entendo a reclamação das pessoas, mas elas também têm que entender. Antigamente saíamos com equipes de dez pessoas para atender essas emergências. Hoje em dia saímos entre dois ou três. Não tem concurso público para a área desde 1995. E as empreiteiras contratadas desistem do contrato ou não têm mão de obra qualificada. Não é qualquer um para operar direito uma motoserra", comenta Oliveira. Que reconhece: "Estou há 30 anos nesse serviço. E a gente não tem mais a força e agilidade de um cara de 20 anos."

Na avenida José de Alencar, no bairro Menino Deus, uma cena chama a atenção de quem passa: uma caminhonete achatada ao chão devido ao peso da grande árvore que pousa em seu teto. Muita destruição em volta, com fios de luz arrebentados em frente a um trailer. No local, mesmo sem luz, alguns clientes. Entre eles, o dono do carro: "Olha aí. Perda total", diz, começando e encerrando o assunto. Mais de 200 mil casas ficaram sem luz no final de semana

Ao lado dele, Amarildo Back, dono do pequeno estabelecimento, reclama: Trabalho há 18 anos aqui e sempre fiz pedidos para a prefeitura vistoriar as árvores. E nunca fui atendido." Ele tem seu negócio em um terreno em que funciona um estacionamento. Nos dias de sol forte, as vagas sob as árvores são bem disputadas. Por isso o prejuízo dessa sexta foi grande: "Vou ficar dois dias sem trabalhar, mais uns R$ 10.000 de reparo do trailer, mais o meu carro e outros cinco danificados. Fora esse da perda total."  Back, "por conta", teve que cortar algumas árvores caídas para poder se locomover. Essa iniciativa lhe causa desconforto, já que teme ser multado por alguma infração ambiental.

Além do susto e prejuízo, ele conta que passou a noite em claro. "Fiquei fazendo vigília. Tudo aberto, sem luz e nada de polícia. Dava para ver 'os malandro' andando por aí levando coisas".

No bairro Moinhos de Vento, uma das ruas mais atingidas pela tempestade foi a Gonçalo de Carvalho. O vendaval destruiu todo o famoso túnel verde que faz da rua a "mais bonita do mundo". É impossível transitar de carro pela região. Muitos veículos foram atingidos por galhos. A pé, o transeunte é obrigado a pular alguns troncos.

"Foi um pavor só. Era um breu total e a gente só ouvia o estalar das árvores e o barulho delas caindo. Mas no escuro não se conseguia ver nada. Onde estava caindo", conta Maria Silva, moradora de um prédio da região. Sua cobertura está com parte de uma árvore sobre o telhado. "Estou há cinco anos pedindo a poda dessa árvore. Tenho os protocolos todos. E nunca nada foi feito."
 

Sem energia durante todo o sábado, o pequeno comércio de Porto Alegre perdeu várias mercadorias e só conseguiu vender velas - UOL - UOL
Imagem: UOL

Perto dali, Reni Sgarabotto, dono de um minimercado, lamenta. Há mais de duas décadas no ponto, jamais teve estrago do tamanho que contabiliza neste sábado. "Estamos desde às 22h30 de ontem sem luz. Sorvete, carne e frango estão estragando. " Do lado de dentro, alguns clientes tateiam as prateleiras mal iluminadas com velas.
Neste sábado, o que mais o minimercado comercializou foram velas e água. "Hoje não produzimos nada. Liberei os padeiros, que estão de sobreaviso. Resolvemos abrir hoje e insistir, mas já estamos fechando mais cedo."

Do lado de fora do estabelecimento, um furgão de gelo estava estacionado sobre a calçada em frente a um prédio residencial. Conforme o vendedor Michel Porto, o volume de trabalho dele e do seu ajudante no sábado foi acima da média. "Atendemos cerca de 80% de clientes residenciais, quando o normal é em torno dos 30%. Estamos desde cedo atendendo chamados por gelo e água", comenta Porto, enquanto descarrega mais uma vez o veículo.

No fim da tarde, a prefeitura organizou uma coletiva de imprensa na qual explicou que requereu o auxílio de militares do Exército para a limpeza da cidade. O prefeito em exercício, Sebastião Melo, explicou que 40 homens foram cedidos para auxiliar na tarefa.