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Número de agressões a agentes do Metrô de SP sobe 69% em um ano

Léo Arcoverde

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/03/2016 01h00

Os casos de agressão a agentes do Metrô de São Paulo cresceram 69% entre 2014 e 2015. Em números absolutos, a alta foi de 64 para 108 ocorrências. É o que aponta levantamento inédito feito pelo Fiquem Sabendo com base em dados do Metrô de São Paulo obtidos por meio da Lei Federal nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação). Cada caso envolve um ou mais agentes agredidos.

De acordo com as informações disponibilizadas pela empresa de transporte metropolitano, o aumento das agressões se deu de forma mais acentuada entre os agentes de estação. Nesse caso, a alta foi de 91% (de 22 para 42 ocorrências) entre um ano e outro. Já as agressões a seguranças do metrô cresceram 57% (de 42 para 66 casos).

Para o presidente do Sindviários (Sindicato dos Trabalhadores no Sistema Viário e Urbano do Estado de São Paulo), Altino Prazeres Júnior, o aumento das agressões está relacionado à atual crise econômica, que, diz ele, provocou o aumento da quantidade de vendedores ambulantes e de pessoas que querem usar o metrô sem pagar, como é o caso dos “prateados”, pessoas que se pintam e pedem dinheiro dentro e fora do metrô.

“Os marreteiros são altamente agressivos. Já vivenciamos casos em que um usuário, que foi abordado por querer burlar a catraca, ameaçou o metroviário de morte”, conta Prazeres Júnior.

 

Na avaliação do especialista em segurança pública Jorge Lordello, faz sentido relacionar o aumento das agressões com situações ligadas à retração da atividade econômica, como a presença de uma quantidade maior de ambulantes nos trens e nas estações do metrô.

“Com a alta taxa de desemprego que registramos atualmente, a gente sabe que o brasileiro vai se virar e uma forma de fazer isso é vender qualquer coisa na rua. Para essa pessoa, qualquer economia é importante. Em situações em que se vende algo proibido ou não se quer pagar uma passagem, vai haver confronto”, diz.

Para o especialista, outro fator que pode ter influenciado o aumento das agressões é o que ele descreve como momento de maior tensão emocional das pessoas decorrente da crise política do país e o consequente alto número de manifestações, como as que têm ocorrido na avenida Paulista (região central de São Paulo).

“Com as manifestações, há um grande fluxo de pessoas em horários e em dias em que isso não acontecia habitualmente. E as pessoas, de um modo geral, estão alteradas emocionalmente. Com esse estresse todo, qualquer coisa é motivo para uma discussão ou uma briga”, afirma Lordello.

Entre 2014 e 2015, o Metrô informou ter registrado apenas um caso de agressão a usuário cometida por um segurança da empresa.

“Estilhaço de uma garrafa cortou minha orelha”

A reportagem conversou com um segurança do metrô que foi agredido enquanto trabalhava. Ele faz parte de um grupo de cinco agentes atacados com latas, garrafas e pedaços de pedra desferidos por pelo menos 40 ambulantes na estação Corinthians-Itaquera, da linha 3-Vermelha.

O caso ocorreu horas antes do jogo entre Corinthians e Capivariano, pelo Campeonato Paulista, na Arena Corinthians, na noite do dia 11 de fevereiro. Ele pediu para não ser identificado.

“Naquele dia, estávamos em 16 seguranças, e o grupo de ambulantes tinha 40 ou 50 pessoas. Quando fomos abordá-los, eles começaram a fazer algazarra. No momento em que começamos a apreender a mercadoria, eles começaram a arremessar pedra, pedra de gelo, lata de cerveja”, diz. “Um estilhaço de garrafa de vidro fez um corte na minha orelha esquerda.”

De acordo com ele, outro segurança sofreu uma fratura na perna ao ser atingido com um pedaço de um muro de arrimo, construído em volta do estádio, arremessado por um dos ambulantes.

“Fiquei afastado do serviço por dois dias”, conta. Segundo o segurança, dos cinco seguranças agredidos, quatro se dirigiram à Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano) para registrar o caso.

Registro da agressão

Procurada para se manifestar sobre o aumento das agressões aos agentes do metrô, a Secretaria de Estado da Segurança Pública disse, por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa, que “em caso de agressão, o funcionário do Metrô deve ir até a Delegacia do Metropolitano para registrar a ocorrência, pois assim os policiais podem adotar as medidas de polícia judiciária pertinentes”.

Já o Metrô de São Paulo enviou a seguinte nota à reportagem:

“O Metrô é uma empresa de transporte metropolitano sobre trilhos. Causa-nos estranheza que um site noticioso especule com uma empresa dedicada aos transportes as razões de um fenômeno social que deveriam ser debatidas com fontes com credibilidade e autoridade sobre o assunto, como acadêmicos dedicados às ciências humanas, por exemplo.

O Metrô, no que lhe compete, esclarece que todos os empregados da companhia estão amparados pela CLT e têm garantidos os direitos previstos em lei.

Além disso, a empresa mantém à disposição de todos os funcionários atendimento psicológico e de assistência social, independentemente de terem se envolvido, direta ou indiretamente, em qualquer ocorrência.

Casos de agressão são registrados em Boletins de Ocorrência para apreciação e providências da Autoridade Policial.”