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"O delegado queria colocar a culpa em mim", diz vítima de estupro coletivo

Manifestações aconteceram em todo o país, após a divulgação do caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro - Avener Prado/Folhapress
Manifestações aconteceram em todo o país, após a divulgação do caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro Imagem: Avener Prado/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

29/05/2016 21h33Atualizada em 30/05/2016 15h26

Em entrevista veiculada na noite deste domingo (29) pelo programa "Domingo Espetacular", da TV Record, a adolescente vítima de um estupro coletivo no Rio de Janeiro criticou o delegado Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informação (DRCI), que foi retirado da investigação pelo comando da Polícia Civil.

"Foi horrível [prestar depoimentos] porque eles me culparam por uma coisa que eu não fiz. Ficaram perguntando porque eu estava lá, se eu tinha envolvimento, se já tinha feito sexo grupal. O delegado estava querendo me botar de culpada de todas as formas. Aí, eu parei de responder às perguntas, porque eu não era obrigada", disse a vítima sobre os três primeiros depoimentos que prestou à polícia.

Os interrogatórios foram comandados por Thiers. Em outra entrevista, ao "Fantástico", da TV Globo, a adolescente reclamou da forma como o delegado iniciou o interrogatório. "Ele chegou dizendo 'Me conta aí', sem nem perguntar como eu estava, se estava bem", disse ela. 

Neste domingo, a adolescente entrou para a guarda do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte. Ela e a família deixaram a casa onde viviam na zona oeste do Rio. Eles também dispensaram os trabalhos da advogada Eloísa Santiago, que até então defendia a adolescente.

Nenhum suspeito permaneceu detido desde a divulgação nas redes sociais do vídeo em ela aparece sofrendo o abuso, nua e desacordada, na última quarta (25).

"Não acredito na Justiça" 

A adolescente de 16 anos disse ainda não acreditar na Justiça. "Eu acredito na Justiça de Deus, que tarda, mas não falha".

Em outro trecho da entrevista, a jovem declarou que os homens que participaram do estupro coletivo não atenderam aos apelos dela para que parassem. "Eles continuavam tendo relações comigo, mesmo eu gritando e chorando". Ela voltou a afirmar que estava dopada, e ao acordar não reconheceu a casa, onde o crime foi cometido. 

"Todos os dias quando eu acordo eu me sinto culpada. Eu me sinto culpada por usar um short curto", disse a adolescente quando foi questionada sobre seus sentimentos em relação ao fato. Ela voltou a agradecer às mensagens de apoio que recebeu de milhares de pessoas, por meio das redes sociais. "Eu quero ajudar o máximo de pessoas que eu puder. Mas para aonde eu vou, o que vou fazer da minha vida, eu não sei."

Ao "Fantástico", ao ser perguntada sobre o que ela deseja que aconteça com os estupradores, a jovem é enfática: "Desejo uma filha mulher a eles". 

Troca de comando

A DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima) assumiu a coordenação das investigações do estupro coletivo, ocorrido na semana passada no Rio de Janeiro, segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil.

"A medida visa evidenciar o caráter protetivo à menor vítima na condução da investigação, bem como afastar futuros questionamentos de parcialidade no trabalho", explica o comunicado da Polícia Civil.

A investigação passa a ser conduzida pela delegada Cristiana Bento, no lugar de Alessandro Thiers, titular da Delegação de Repressão aos Crimes de Informação (DRCI).

A investigação teve início após um vídeo da jovem, nua e desacordada, ser postado em redes sociais na terça (24). O caso gerou protestos de rua e nas redes sociais no Brasil e no mundo.

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