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Moradores fazem abaixo-assinado por nome da Rocinha em estação de metrô

Obras na Estação São Conrado, que integra a Linha 4 do metrô carioca, estão quase concluídas. Demanda estimada pelo governo do RJ aponta circulação diária de 61 mil pessoas - Henrique Freire/Divulgação
Obras na Estação São Conrado, que integra a Linha 4 do metrô carioca, estão quase concluídas. Demanda estimada pelo governo do RJ aponta circulação diária de 61 mil pessoas Imagem: Henrique Freire/Divulgação

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

12/07/2016 06h00

Moradores da Rocinha estão se mobilizando para inserir o nome da favela na futura estação de metrô que será inaugurada em São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro. O local está em fase final de obras, mas já foi batizado --será a "Estação São Conrado", de acordo com a Secretaria de Estado de Transportes. Para a comunidade, que é vizinha ao bairro, a reivindicação quanto à nomenclatura é uma questão de inclusão social e visibilidade ante à sociedade.

"Um lugar onde moram quase cem mil pessoas e que não tem representação. O que a gente cobra é apenas legitimidade, pois há muita tradição ali. A Rocinha existe desde a década de 20 e é muito mais velha do que São Conrado. Não podem desprezar isso", afirmou o músico e ativista social Fernando Ermiro, 45, que nasceu e foi criado na favela.

Ermiro criou em uma plataforma online de petições um abaixo-assinado para cobrar do poder público que a estrutura seja chamada de "Estação Rocinha/São Conrado", já que a comunidade faz parte do bairro. Lançada em 27 de junho desse ano, a campanha havia obtido 676 assinaturas até a tarde desta segunda-feira (11). A meta inicial é chegar a 1.000 assinaturas. "Da forma como está, vamos bater esse objetivo com facilidade. A adesão está sendo muito boa", afirmou ele.

A nova estação faz parte da Linha 4 do metrô carioca, que faz a ligação entre Ipanema (General Osório), na zona sul, e a Barra da Tijuca, na zona oeste. A intervenção é fundamental para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016, já que boa parte dos deslocamentos e atividades que vão ocorrer em função do evento se darão na zona oeste carioca.

Ao UOL, a Concessionária Rio Barra, consórcio responsável pelas obras da Linha 4, informou por meio de sua assessoria de imprensa que cabe ao governo do Estado definir a nomenclatura das estações. Em contato com a reportagem, a Secretaria de Estado de Transportes informou em nota que a estação terá três acessos, sendo que um deles deverá estar sinalizado com o nome da comunidade. Na parte interior, também haverá sinalização para o acesso mais próximo à favela.

Ermiro afirmou considerar que a instalação de placas de sinalização não é sinal de reconhecimento. "Isso é uma coisa meramente política. Infelizmente, a Secretaria de Estado de Transportes não é sensível a isso. O Estado em geral não tem essa sensibilidade de entender que a favela precisa fazer parte da cidade. Não se pode excluir a favela da política pública", declarou.

"É uma luta por algo simbólico, mas uma favela desse tamanho merece ter essa representação. A Rocinha é também uma potência econômica na zona sul, pois tudo se compra dentro da Rocinha. Sem falar na mão de obra, pois uma parte da força de trabalho na zona sul possivelmente mora na Rocinha."

O músico lembrou que os moradores do Cantagalo, morro situado entre Ipanema e Copacabana, também na zona sul, travaram a mesma luta em relação à estação Cantagalo, inaugurada em 2006. Na época, associações de moradores de Copacabana fizeram um abaixo-assinado para que a estação fosse batizada como "Eugênio Jardim". Os insatisfeitos reclamavam que o nome da estação teria uma associação com o tráfico de drogas da comunidade de mesmo nome.

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A estação de metrô em São Conrado, na zona sul carioca, terá três acessos externos próximos à favela da Rocinha
Imagem: Richard Heathcote/Getty Images)

Manifestações de rua

Fernando Ermiro disse que os moradores da Rocinha continuarão mobilizados "até que haja uma resposta positiva" por parte da Secretaria de Estado de Transportes. Segundo ele, a petição virtual é apenas o primeiro passo. "Inicialmente, estamos mobilizando quem está no contexto local: a população da Rocinha, de São Conrado e os que estão mais perto do metrô", explicou ele.

Quando o recolhimento de assinaturas chegar ao fim, a ideia é abrir diálogo com o Estado para apresentar o resultado da campanha. "Não vamos parar até que haja uma resposta positiva."

Além da mobilização na internet, o ativista planeja convocar manifestações de rua. "A gente pensa em chamar músicos e fazer um show em frente à estação. Mas estamos indo devagar. Existe essa possibilidade de ocupar o espaço público, mas é importante primeiro divulgar a proposta através das redes sociais."

Além da nomenclatura da nova estação, Ermiro e os moradores da Rocinha têm uma segunda pauta de reivindicação: eles querem que, em um dos acessos próximos à comunidade, o consórcio responsável pelas obras do metrô instale uma placa em homenagem à "bica das almas", uma fonte de água que tem valor patrimonial para a favela. "Todo mundo que é da Rocinha conhece e já foi na bica das almas. É importante respeitar a nossa história."