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Suspeito de matar família na Espanha nega crime ao depor na Polícia Federal

Marcos Campos Nogueira e sua mulher Janaína Santos Américo foram encontrados mortos na Espanha, onde viviam - Redes sociais
Marcos Campos Nogueira e sua mulher Janaína Santos Américo foram encontrados mortos na Espanha, onde viviam Imagem: Redes sociais

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

05/10/2016 16h45

O estudante François Patrick Gouveia, 19, apontado pela Guarda Civil da Espanha como suspeito de ser o autor da chacina que vitimou o tio, a mulher e os dois filhos do casal no povoado de Pioz, na região de Madri, prestou depoimento sobre o caso na Polícia Federal em João Pessoa (PB), na última sexta-feira (30). Segundo a defesa, ele nega o crime.

Entretanto, a família da vítima Janaína Diniz Américo, 39, suspeitava do acusado como autor da chacina.

Durante a oitiva, o jovem cedeu material genético (saliva) à polícia, caso as autoridades espanholas solicitem ao Brasil cooperação de investigação do crime e precisem comparar com o DNA encontrado nos restos mortais da família assassinada na Espanha.

Os paraibanos Marcos Campos Nogueira, 39, e a mulher, Janaína Santos Américo, 39, foram encontrados esquartejados dentro de sacos plásticos na casa onde moravam no povoado de Pioz no dia 18 de setembro. Os filhos do casal, um menino de um ano e uma menina de quatro anos, também foram assassinados, mas não tiveram os corpos cortados em pedaços. A família foi encontrada morta, após vizinhos sentirem forte odor saindo da residência deles e acionarem a polícia.

Nesta quarta-feira (5), a Guarda Civil da Espanha descreveu o suspeito do crime com perfil “psicopata, narcisista e com falta de apego à vida humana". Gouveia morou com a família por quatro meses na Espanha, na região de Torrejón de Ardoz, antes dos tios se mudarem para Pioz.

Gouveia estava com passagem aérea marcada para voltar ao Brasil no dia 16 de novembro, mas chegou ao Brasil dois dias depois da chacina ser descoberta pela polícia, no dia 20 de setembro em voo da TAP, que saiu de Lisboa para Recife, com escala no Rio de Janeiro.

O jovem alega que antecipou a volta ao Brasil com medo de também ser assassinado, apesar de nunca ter recebido ameaças de morte na Espanha. Gouveia estava na Espanha tentando ser jogador de futebol em algum time da Europa.

“Ele [François Patrick Gouveia] nega veementemente o crime e voltou ao Brasil com medo de ser assassinado, já que sua família na Espanha foi dizimada. Ele não tinha contato com os tios desde que eles se mudaram, em julho, e não informaram o endereço que estavam residindo. Marcos tinha muitas dívidas e por isso se mudava constantemente de endereço”, afirma o advogado Eduardo de Araújo Cavalcanti, em entrevista ao UOL nesta quarta-feira.

PF interrogou suspeito por assassinato de família na Espanha

Efe

Depoimento

O conteúdo do depoimento de Gouveia é mantido em sigilo pela Polícia Federal, pois a polícia brasileira está seguindo os mesmos parâmetros das autoridades espanholas, que mantém o caso está em segredo de Justiça. Apesar de a polícia ter colhido o depoimento dele e de outros familiares em João Pessoa, não há investigação aberta sobre o caso no Brasil.

Até o momento, as autoridades da Espanha não pediram apoio nas investigações do crime. Porém, a polícia brasileira informou que se antecipou em colher depoimentos do sobrinho suspeito do crime e de outros familiares do casal. A PF disse ainda que não recebeu nenhum comunicado da Espanha sobre expedição de mandado de prisão contra Gouveia e, por isso, ele não foi detido quando prestou depoimento.

O advogado do suspeito destacou a Polícia Federal tem o endereço em que ele se encontra em João Pessoa e, se for intimado, está à disposição da polícia para se apresentar novamente. Segundo Cavalcanti, a família de Marcos deverá contratar um advogado na Espanha, pois as informações que eles têm são as publicadas em sites da Espanha, nada oficial das autoridades. A família de Marcos cobra elucidação no caso.

“Um crime tão brutal fica difícil saber a motivação e Patrick não imagina o que pode ter acontecido com os tios. A família deverá contratar um advogado na Espanha porque precisamos ter acesso às investigações para saber o que aconteceu. Até agora, nenhuma autoridade espanhola entrou em contato com a família aqui”, disse o advogado.

Em entrevista à imprensa da Paraíba, familiares de Janaina Américo disseram que o casal não tinha inimigos e negou que eles viviam se mudando porque estavam se escondendo de credores. O UOL entrou em contato com os familiares de Janaina, na tarde desta quarta-feira, mas até a publicação deste texto, ninguém retornou às chamadas telefônicas e nem mensagens no WhatsApp.

Família

Familiares de Janaina Américo disseram que o casal assassinado não tinha inimigos e negou que as mudanças de cidade ocorreram porque Marcos estava se escondendo de credores. Em entrevista ao UOL, no início da noite desta quarta-feira, o primo de Janaína, Pedro Rafael Diniz Marinho, disse que o casal era honesto e que viviam batalhando para dar o melhor para os filhos na Espanha.
 
“Tínhamos suspeita, mas não podíamos acusar que Patrick seria o autor. Deixamos a polícia trabalhar para vir a conclusão. A gente acredita na polícia e agora as peças se juntaram. A família Diniz Américo sempre teve prudência ao falar sobre a suspeita de Patrick no caso, mas agora, com base na conclusão da polícia espanhola em pronunciamento hoje, acreditamos que não há dúvidas da autoria do crime. Acreditamos nos trabalhos da polícia espanhola e na Polícia Federal, que está lá na Espanha”, destacou o primo de Janaína. 
 
Marinho afirmou que a família Diniz Américo já suspeitava de Gouveia ter cometido o crime, mas se manteve resguardada até a conclusão da polícia. A família de Janaína destacou que, por várias vezes, ela relatava que o sobrinho do marido tinha problemas de convivência com as crianças, durante o período que morou na casa do casal, e que não concordava com a presença dele lá. Mas, o rapaz estaria morando temporariamente até que a família o convencesse a voltar para o Brasil.
 
“Patrick tem um histórico violento, a família dele sabe disso e não entendemos porque estão querendo manchar a imagem de Marcos sobre supostas dívidas. Isso já foi esclarecido que não existe, se eles vivessem fugindo não tinham perfis em redes sociais, não publicavam fotos de onde estavam e até da nova casa deles. Quando telefonava, Janaína se queixava com a mãe e com o pai sobre o rapaz. Relatava que ele falava coisas pesadas para as crianças, que ela tinha medo dele. Ele não tinha bom relacionamento com a família e dizia às pessoas que não gostava de Janaina”, disse Pedro Rafael.
 
O irmão gêmeo de Janaina, George Diniz Américo, e uma prima estão na Espanha acompanhando os trabalhos da polícia. Eles estão hospedados na casa de amigos. Segundo a família de Janaína, o consulado brasileiro está ajudando eles na comunicação com as autoridades espanholas e que não há previsão de quando os corpos serão trasladados ao Brasil.
 
“Queremos agradecer a polícia brasileira e a polícia espanhola que elucidaram o caso e pedir Justiça. Existe burocracia associada para punir o acusado do crime e pedimos que os governantes vejam seriedade do caso, com agilidade, pois a polícia brasileira não pode fazer nada se não vier da Espanha o comunicado do decreto de prisão do acusado para as autoridades brasileiras”, disse Américo.
 
A família de Janaina destacou ainda que a viagem do irmão e da prima dela a Espanha foi custeada com recursos próprios e que não está fazendo campanha para custeio do traslado dos corpos, pois ainda não se sabe quando haverá liberação e se haverá necessidade de doações. Familiares esperam que os governos arquem com o custo do traslado.
 
A família de Janaina desmentiu que o casal teria se mudado sem informar o endereço ao sobrinho da casa em Pioz. Segundo Marinho, a família foi na frente para a nova cidade e o rapaz iria no dia seguinte, mas nunca apareceu. "No último contato que Janaína teve, ela  falou à nossa família que foram na frente e o rapaz ficou na casa antiga, mas ele ia no dia seguinte. Porém, ele sumiu. Depois só soubemos do crime pela internet", disse Marinho.