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Sobrinho de vítima de chacina em SP diz que foi cercado e ameaçado com arma por PMs

A polícia encontrou os corpos no domingo (6) em Mogi das Cruzes  - Hélio Torchi/Estadão Conteúdo
A polícia encontrou os corpos no domingo (6) em Mogi das Cruzes Imagem: Hélio Torchi/Estadão Conteúdo

Marcos Sergio Silva

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/11/2016 06h00

Um garoto de 13 anos, parente de um dos cinco jovens encontrados mortos em Mogi das Cruzes na segunda-feira (7), disse que foi cercado e ameaçado por policiais militares por cerca de quatro horas. A bordo de uma Perua Palio Weekend, eles circulavam no bairro em que as vítimas moravam, Jardim Rodolfo Pirani (zona leste de São Paulo) entre as 16h e as 20h de segunda-feira, um dia depois de os corpos terem sido encontrados.

Segundo apurou o UOL, o jovem relatou que os policiais ameaçaram atirar e encostaram um revólver da corporação na cintura do jovem.

As informações foram confirmadas pelo Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), órgão da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado. Elas foram encaminhadas em ofício para o Ministério Público do Estado, para a Corregedoria da Polícia Militar e para a Secretaria de Segurança Pública nesta quarta-feira (9).

Jones Ferreira Araújo, 30, César Augusto Gomes, 19, Jonathan Moreira, 18, Caique Henrique Machado, 18, e Robson Donato de Paula, 16, desapareceram no dia 21 de outubro no Jardim Rodolfo Pirani, na zona leste de São Paulo. Os corpos foram encontrados no domingo, em uma área rural de Mogi das Cruzes, em estado avançando de decomposição, enterrados em covas rasas e cobertos com cal. Quatro haviam sido reconhecidos até esta quarta-feira (9).

Dois policiais militares, um alto e magro e outro baixo e gordo, teriam sido os autores da intimidação contra o jovem.

Sempre segundo o jovem, em um período de quatro horas, os carros, em patrulha, monitoraram o garoto. Ele havia acabado de participar de atividade no CCA (Centro para Crianças e Adolescentes) do Jardim Rodolfo Pirani, que funciona em uma igreja católica do bairro e é complementar às aulas que frequenta em escola pública. No fim desse período, quando o garoto rumava para a padaria do bairro, o carro da PM teria dado uma freada brusca, o que assustou o garoto, que tentou correr. Um dos policiais ameaçou atirar caso ele não parasse.

Ele foi revistado e teve um celular Lenovo confiscado por um deles, que pediu que o desbloqueasse. Imediatamente, o PM acessou a galeria de fotos e viu a imagem de uma das vítimas da chacina. “Ah, então você é parente do desaparecido. Você sabe o que está acontecendo com ele? Conta como foi? Você sabe quem matou? Você sabe quem matou?”, teria dito o PM. 

Um dos policiais, o mais baixo, então teria encostado o revólver na cintura do garoto e perguntado se ele era “vapor” – gíria para quem faz o transporte de drogas em regiões de tráfico. O jovem negou, e o PM tentou conduzi-lo até uma viela do bairro, quando uma tia do rapaz interveio.

Uma “varredura” de celulares estaria sendo feita no bairro. O objetivo seria encontrar quem originalmente recebeu a gravação em áudio de uma das vítimas, Jonathan, no dia do desaparecimento, que a uma amiga disse, pelo aplicativo WhatsApp, ter tomado um “enquadro” da polícia (ouça o trecho do áudio no vídeo abaixo).

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UOL Notícias

No domingo (6), motos e um Celta cinza, todos descaracterizados, pararam outro familiar das vítimas e pediram para ver o celular. Quando viram a foto de um dos mortos, perguntaram o parentesco e disseram que poderia acontecer o mesmo com ele.

O Condepe espera a decisão dos familiares das vítimas para formalizar o pedido de entrada no programa de proteção de testemunhas. Segundo o vice-presidente do órgão, Luiz Carlos dos Santos, 43, as intimidações são suficientes para configurar assédio às famílias.

Em nota da Secretaria de Segurança Pública, a Corregedoria da Polícia Militar afirmou que, assim que o encaminhamento formal da denúncia acontecer, as supostas irregularidades cometidas serão apuradas rigorosamente.