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Personalidades brasileiras dizem quem são seus 'heróis negros' inspiradores

Lúcia Valentim Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

19/11/2016 06h00

O Dia da Consciência Negra é uma data de afirmação de identidade, de exaltação da cultura negra e de combate ao racismo na sociedade.

Nada mais importante para isso do que ter exemplos bem-sucedidos para se espelhar. Personalidades negras, a convite do UOL, falam sobre as pessoas que miraram como modelo e listam seus "heróis negros", entre familiares e outros famosos. São os ídolos de ídolos que hoje servem de inspiração para outros.

Chico César, cantor

Chico César e Gonzagão - Mario Ângelo/Sigma Press/Estadão Conteúdo e Divulgação - Mario Ângelo/Sigma Press/Estadão Conteúdo e Divulgação
Chico César e Luiz Gonzaga, uma de suas inspirações
Imagem: Mario Ângelo/Sigma Press/Estadão Conteúdo e Divulgação
"A minha primeira referência negra vem da minha própria família. É meu irmão Gegê (Luiz Gonzaga da Silva), líder de um movimento por moradia do centro de São Paulo (o Movimento de Moradia do Centro). Ele foi preso em 1969 por treinar guerrilhas para lutar contra a ditadura militar. Eu me lembro de ir visitá-lo na cadeia quando tinha cinco anos de idade.

O que mais me influenciou na vida foi o altruísmo dele. Ele tem três calças e algumas camisetas, nunca quis nada para ele. Ele é 15 anos mais velho do que eu. Ele tem 67 anos. Eu tenho 52. Até hoje, continua lutando pelos outros.

Inspirado nele, criei na minha cidade natal, em Catolé do Rocha, o Instituto Cultural Casa do Béradêro para fornecer informações de cultura e arte para crianças e jovens no interior da Paraíba.

Vê-lo me faz com que eu me coloque sempre à disposição para estar ao lado desses movimentos de luta por moradia, por terra. Também me fez ter consciência de que sou um negro nordestino.

Já para minha vida artística, tem uma tríade fundamental. Três negros do Nordeste: Jackson do Pandeiro, da Paraíba, Luiz Gonzaga, de Pernambuco, e João do Vale, do Maranhão. São artistas negros que trazem o canto de seu povo. Muito exemplar para que eu criasse o meu estilo ao serem de um lugar ermo, mas poderem trazer a informação daquele lugar e levar para o mundo, representando não só você, mas toda uma comunidade."

Elza Soares, cantora

Elza Soares e Grande Otelo - Fabio Braga/Folhapress e Acervo Cinemateca - Fabio Braga/Folhapress e Acervo Cinemateca
Elza Soares diz que sua inspiração na vida foi o ator Grande Otelo
Imagem: Fabio Braga/Folhapress e Acervo Cinemateca
"Meu herói foi pai, chamado Avelino Gomes, e também o ator Grande Otelo. 

Talvez fosse muito óbvio eu falar meu pai, né?! Mas não podia passar sem essa, porque ele foi um negro que lutou pelos filhos e deu dignidade a todos eles. E o Grande Otelo porque ele meu levou para o teatro, me ensinou a arte da interpretação. Sem dúvida, foi um cara que rompeu barreiras.

Eu segui o que o Grande Otelo falava para mim. Eu cheguei a cursar até o terceiro ano da faculdade de direito. Isso foi no fim dos anos 1970, me deu na cabeça uma vontade de provar que eu era ser humano e não só cantora. 

O Grande Otelo me incentivava, sempre disse que eu tinha de fazer esse curso para defender os negros. Eu gosto da luta, me destaco e brigo por mim, pelos negros, pelos gays, pelas mulheres."

Alinne Prado, apresentadora

Alinne Prado - Studio Faya/Divulgação - Studio Faya/Divulgação
A apresentadora Alinne Prado
Imagem: Studio Faya/Divulgação
"Meus pais sempre foram e ainda são meus heróis. Eles são negros, mas o caráter deles independe da cor. Eles criaram três filhos, dentro de uma comunidade carente, onde impera o tráfico de drogas. 

Nunca eu ou meus irmãos vivemos de maneira ilícita. Eles nos deram a mais rica herança: a educação.

Meus pais são as pessoas mais íntegras e dignas que conheço. Eles se esforçaram muito para nos dar o melhor. Tanto eu quanto meus irmãos somos muito gratos aos nossos heróis pela vida que nos proporcionaram.

Meu pai sempre disse: se quer ser alguém na vida, tem que estudar e trabalhar. Sempre honre seu nome.  A única coisa que você é na vida é a Alinne Prado. Seu nome você levará para o caixão.

Já minha mãe, me ajudou a enfrentar o bullying que sofria na escola por ter cabelo crespo. Ela dizia: ninguém é melhor do que você porque tem o cabelo ou o tom da pele diferente. Você é linda e forte. Não deixe ninguém te convencer do contrário."