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Não podiam ter morrido desse jeito, diz parente de morto na Cidade de Deus

Parentes dos sete moradores mortos na Cidade de Deus em frente ao IML - Alfredo Mergulhão/UOL
Parentes dos sete moradores mortos na Cidade de Deus em frente ao IML Imagem: Alfredo Mergulhão/UOL

Alfredo Mergulhão

Colaboração para o UOL, no Rio

21/11/2016 13h19

Os parentes dos sete moradores mortos na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, após a queda de um helicóptero da Polícia Militar no sábado, começaram a ser ouvidos na Delegacia de Homicídios na manhã desta segunda-feira (21).

Parte dos familiares também está no IML (Instituto Médico Legal) à espera da liberação dos corpos. Eles alegam que as vítimas foram executadas e sustentam que os corpos estavam enfileirados e de bruços, com as mãos na altura da cabeça, o que seria uma evidência das execuções.

Os mortos são Leonardo Camilo da Silva, 30 anos, Rogério Alberto de Carvalho Júnior, 34, Marlon César Jesus de Araújo, 22, Robert Souza dos Anjos, 24, Renan da Silva Monteiro, 20, Leonardo Martins da Silva Júnior, 22, e Enzo João Beija da Silva, 17.

"O Bope entrou pela mata e executou todos eles. Não interessa o que eles faziam, mas não podiam ter morrido desse jeito", afirmou o pastor Leonardo Martins da Silva, pai de Leonardo Júnior, morto com um tiro na barriga.

"A gente soube das mortes porque sempre alguém vê. Então a gente tinha certeza que os corpos estavam na mata", acrescentou o pastor, que admite que o filho tinha envolvimento com o tráfico de drogas.

O filho de Rejane Rosa, 37, também está entre as vítimas encontradas em uma área pantanosa na Cidade de Deus. Ela afirma ter encontrado Marlon com dois tiros nas costas.

"Se eles estavam trocando tiro com a polícia, então cadê as armas? Isso é mentira. Eles foram executados", disse Rejane.

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Os familiares também denunciam que as vítimas foram roubadas.

"O que aconteceu é que todos saíram correndo para o mato quando começaram os tiros. Depois pegaram eles e mataram. Meu marido tinha saído para jogar bola. E eu encontrei o corpo dele só de cueca e blusa", afirmou Viviane Gonçalves, 34, mulher de Rogério.

"Eles (policiais) levaram tudo: celular, relógio, anel, cordão, documentos, tênis, tudo", declarou Viviane.

Gisele Beija, 35, tia de Enzo, também acusou os policiais de quebrar os pertences nas casas dos moradores. Ela recebeu um telefonema enquanto dava entrevista. O contato foi da irmã dela para contar que acabara de ter a casa "destruída" pelos agentes.

"Eles não estão respeitando ninguém. Entram arrombando a porta, quebram nossos móveis, comem o que tem na geladeira. Mas fazer o quê? É a minha palavra contra a deles", disse.

Os familiares ainda não sabem onde os corpos serão enterrados. Eles aguardam a liberação no IML.

Procurada pelo UOL, a Polícia Militar enviou uma nota em que afirma que "essa ocorrência está com a Delegacia de Homicídios", sem mais esclarecimentos.

No domingo, o secretário de segurança do Rio, Roberto Sá, afirmou que ainda não tinham sido identificadas as circunstâncias dessas mortes mas que "nenhum excesso será tolerado”.

"Ainda não sabemos as circunstâncias dessas mortes mas falei com o delegado Rivaldo Barbosa, da Divisão de Homicídios, e tenho certeza que eles não vão deixar sem resposta essas mortes. A perícia já está no local. Estamos aqui para preservar vidas e nenhum excesso será tolerado", afirmou o secretário.