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"Elize não tinha vida de princesa, mas de abuso emocional", diz advogado

01.dez.2016 - Elize Matsunaga (à esq.) durante julgamento realizado no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, nesta quinta-feira - Mister Shadow/ASI/Estadão Conteúdo
01.dez.2016 - Elize Matsunaga (à esq.) durante julgamento realizado no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, nesta quinta-feira Imagem: Mister Shadow/ASI/Estadão Conteúdo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

01/12/2016 12h18

Elize Matsunaga,35, não tinha “uma vida de princesa ou de rainha”, mas de “abuso emocional” e “violência doméstica”. A afirmação é do advogado Luciano Santoro, que integra a defesa da ré no júri popular que entrou, nesta quinta-feira (1º), no quarto dia no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.

Santoro conversou com a imprensa pouco antes de a última testemunha da acusação começar a depor, o perito Carlos Alberto de Souza Coelho. Na sequência, começam a ser tomados os depoimentos das testemunhas de defesa --entre as quais uma ex-diarista do casal, uma tia de Elize, um médico, um médico legista, dois advogados e dois peritos.

“Como que eu provo uma violência doméstica? Ouvindo quem estava na rotina do casal”, afirmou o advogado. “As testemunhas da defesa serão fundamentais para mostrar que não era uma vida de princesa ou de rainha [como alegado pela acusação], pelo contrário: era de violência doméstica e de um abuso emocional muito grande, e isso será demonstrado hoje”, afirmou.

Em depoimento na terça (29), o delegado que indiciou Elize à época, Mauro Gomes Dias, disse que, pelos depoimentos da ré e de funcionárias do casal, no inquérito, Matsunaga foi descrito como um marido que não apenas mantinha relacionamentos extraconjugais --o que seria provado em material gravado por um detetive contratado por Elize--, mas também maltratava a mulher verbalmente. Ele usaria expressões como “prostituta de quinta categoria” (Elize fora garota de programa antes de eles se casarem) e “vagabundo”, nesse caso, ao sogro, que vivia no interior do Paraná.

“O Marcos era uma coisa na vida social, e outra, dentro de casa”, complementou a advogada Roselle Soglio, que também defende a ré.

Os advogados também refutaram a tese do Ministério Público de que Elize não teria agido sozinha, especialmente no esquartejamento do marido. Isso é tema de uma investigação paralela à que originou o julgamento atual, mas o assunto tem sido abordado por testemunhas. Ontem, por exemplo, indagado pelo MP, o legista Jorge Pereira foi taxativo ao afirmar que os dois padrões de cortes encontrados no cadáver não poderiam ter sido feitos por uma única pessoa.

“Ficou claro que não tem uma terceira pessoa. Pelo cansaço e pelo pouco gume naquela faca [supostamente utilizada no crime], e também porque nos  26 volumes do processo nem eu nem o Luciano encontramos essa terceira pessoa”, disse a advogada. “E nem o DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, que investigou o caso] encontrou, tanto que o próprio delegado Mauro Gomes Dias é muito claro em relação a isso: não tem essa terceira pessoa, não tem como essa terceira pessoa ter entrado ou saído, porque eles [os policiais] assistiram às imagens de todas as câmeras”, complementou Santoro.

Para a acusação, Elize teria agido por vingança, já que sabia dos casos extraconjugais do marido, e por dinheiro, já que Matsunaga, herdeiro do grupo alimentício Yoki – vendido à época do crime --, era ainda detentor de uma apólice de seguro. O casal tem uma filha que hoje, aos cinco anos, é criada pelos avós paternos. A guarda definitiva da criança é alvo de outro processo que corre na Justiça em segredo.

A previsão inicial do Tribunal de Justiça era a de que o júri iniciado na segunda (28) durasse cinco dias, mas tanto acusação quanto defesa já admitem que ele deve se arrastar para o final de semana. Em uma conversa informal com jornalistas, nessa quarta (30), em um intervalo do julgamento, o juiz Adílson Paukoski mencionou que a data de término dos trabalhos “é imprevisível”.