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Elize fala hoje em reta final de júri; para MP, será "bem contra o mal"

MISTER SHADOW/ASI/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: MISTER SHADOW/ASI/ESTADÃO CONTEÚDO

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

03/12/2016 06h00

Quatro anos depois de confessar a morte, o esquartejamento e a ocultação do cadáver do marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, a bacharel em direito Elize Matsunaga, 35, será interrogada neste sábado (3) pelos jurados e pela defesa sobre sua versão dos fatos, ocorridos em maio de 2012 em São Paulo.

Inicialmente previsto para durar cinco dias, o julgamento entra hoje no sexto dia no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de São Paulo) naquela que, de acordo com o Ministério Público, será uma espécie de “luta do bem contra o mal”.

Elize não responderá às perguntas da acusação – representada no júri pelo promotor José Carlos Cosenzo e pelo assistente dele, o advogado da família Matsunaga Luiz Flávio D’Urso. Com isso, só responderá aos questionamentos formulados pelo juiz, Adílson Paukoski, pelos jurados e pela defesa, representada no júri pelos advogados Roselle Soglio e Luciano Santoro.

De acordo com a advogada, a decisão de não responder à acusação foi tomada porque “ela não quer falar a quem não quer ouvir a verdade”. “Ela falará à defesa, ao juiz, obviamente, e aos jurados, que estão muito interessados na causa dela. Ela vai trazer a verdade”, declarou.

O promotor de Justiça, por sua vez, ponderou que a impossibilidade de a ré responder às questões da acusação não deve prejudicar a tentativa de condená-la à pena máxima – no caso, 33 anos pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e destruição e ocultação de cadáver --, já que, na avaliação dele, “a defesa fez um belo trabalho, mas não há mais como sustentar tudo aquilo o que ela (Elize) fez”.

Segundo Cosenzo, “vai ser o bem conta o mal”. Sobre as perguntas da acusação, resumiu: “Seu eu pudesse perguntar, esse júri não acabaria neste sábado. Acho que, para mim, o julgamento está definido; tudo o que tinha de acontecer, aconteceu”, concluiu.

Elize Matsunaga - Diogo Moreira/Agência Estado - Diogo Moreira/Agência Estado
Imagem: Diogo Moreira/Agência Estado

Amigos de faculdade encerram fase de depoimentos

A fase de depoimentos terminou na noite desta sexta-feira (2) com dois amigos de faculdade de Elize, com quem ela cursou direito em uma universidade privada de São Paulo. 

Ambos conheceram Elize antes de ela se casar com Matsunaga, em 2007. Para a advogada Tânia Esteves, uma das testemunhas, a ré era “uma pessoa tranquila, discreta, amiga de todo mundo, com boas notas”. “Ela selecionava as amizades dela”, disse, negando que Elize tenha comentado, em algum momento da amizade, sobre o abuso que teria sofrido do padrasto, no interior do Paraná. A informação foi divulgada na quinta (1º) pela tia de Elize, Roseli de Araújo, também testemunha da defesa.

Sobre Matsunaga, com quem Elize já se relacionava, ela afirmou que ele “era ciumento”. “Geralmente, quando a gente saía para ir ao shopping, ele ligava várias vezes e queria se certificar de que estávamos junto com ela”, afirmou Tânia, segundo a qual, um mês antes do crime, Elize teria pedido a ela indicação de uma advogada da família porque queria se separar do marido.

A outra testemunha, o advogado José Américo Machado, disse que se sentava ao lado de Elize na turma de direito. “Era discreta, reservada, educadíssima”, descreveu. Machado contou que a amiga, que, segundo ele, já o ajudou com uma cesta básica, teria comentado um dia, em um desabafo, sobre o abuso na adolescência – mas sem muitos detalhes. “Não ficou claro se foi o padrasto que abusou dela, ou se ele tentou, ela contou para a mãe, e ela não quis acreditar”, relatou.

Questionada pelo advogado da ré se, na faculdade, ela se portava como garota de programa – condição pela qual conheceu Matsunaga --, Machado foi taxativo: “De jeito nenhum. Ela, aliás, rechaçou vários colegas de sala que se interessavam por ela, inclusive, um determinado professor”, afirmou.

Professor dele e de Eliza no curso, Santoro, em tom de brincadeira, fez questão de dizer que não era ele. “Minha esposa está aqui”, afirmou, apontando para outra advogada da defesa, Juliana Santotro. “A Elize não deixava as pessoas chegarem até ela. Mas, de triste, ela nunca teve nada”, definiu a testemunha.

Elize Matsunaga - Reprodução/Band - Reprodução/Band
Imagem: Reprodução/Band

Perito contesta versão de que vítima foi esquartejada viva

Além dos dois amigos, o dia no júri foi praticamente tomado pelo depoimento do perito criminal e médico legista Sami El Jundi. Ele rebateu a versão da acusação e do laudo de necropsia da época, segundo o qual Matsunaga havia sido morto com um tiro de curta distância e esquartejado ainda vivo.

El Jundi afirmou que o projétil da arma usada por Elize – uma pistola semiautomática – atingiu áreas vitais no interior do crânio, algumas delas, fundamentais para a respiração humana. Outras amostras do corpo retiradas de áreas de circulação, segundo ele, também não indicaram reações vitais após o tiro.

“A morte se deu pelo tiro, não tenho dúvida nenhuma disso”, afirmou. “Foi verificada uma fratura grande de uma área responsável pela respiração, o que não foi percebido no exame de necropsia original”, disse.