Muito além da chacina: "Quero ser político e ajudar a periferia", diz jovem
O símbolo nas costas da mão direita parece resumir a trajetória de Carlos Eduardo, jovem do distrito de São Rafael, extremo leste da periferia de São Paulo. Hoje com 17 anos, ele "reescreveu" a própria vida.
A antiga tatuagem, com um cifrão marcado na carne à força por colegas de abrigo numa madrugada, deu lugar a uma partitura com uma mínima, uma semínima, uma colcheia e uma grande clave de sol. O dinheiro virou música.
Rejeitado pela mãe, que era dependente de drogas, não conheceu o pai e foi para abrigos depois da morte dos avós adotivos, que não tinham registro formal de adoção dele.
Ele se dedicou aos estudos, diz ter inventado uma nova fórmula matemática e, na escola, virou "xodó" da diretora, a quem não se cansa de elogiar com admiração filial. "Bem que a senhora podia me adotar, não é?", sugere. "Ah, lá em casa eu já tenho quatro [filhos]", desconversa, sorrindo. Resta na cabeça do garoto uma preocupação: no ano que vem, completará 18 anos e não poderá ficar mais em abrigos. Para onde irá?
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Hoje dá aulas de violão onde aprendeu a tocar o instrumento, o Projeto Gente, que aproveita, aos sábados, as instalações da Escola de Ensino Fundamental Cidade de Osaka, no Parque São Rafael, maior bairro do distrito onde viviam os jovens que foram mortos em chacina e depois tiveram os corpos encontrados em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo).
Além do violão, divide seu tempo também com as aulas no terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Professor Carlos Henrique Liberalli, no vizinho Jardim Santo André, onde estuda à noite, e o trabalho voluntário no Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) do distrito de São Rafael. Acabou de concluir seu curso com a entrega do trabalho final um tanto autobiográfico, sobre assistência social em abrigos.
Diz querer ser político, "mas não como esses que estão aí". "Quero fazer pela periferia o que precisa ser feito, não o que eu quero."
A data projetada para realizar esse sonho é 2020, quando terá 21 anos. Aí, se candidatará a vereador ou a conselheiro tutelar do bairro.
Ele já tem uma inspiração real: encontrar a estudante secundarista Ana Júlia Ribeiro, 16, que discursou na Assembleia Legislativa do Paraná em defesa da escola pública e das ocupações. "Queria conhecê-la para fazermos juntos a mudança de que a gente precisa."
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