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Em diário, autor de chacina de Campinas expõe vontade de matar ex em 2013

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Imagem: Reprodução

Thiago Varella

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

05/01/2017 17h56

Em um diário escrito entre junho de 2013 e novembro de 2014, Sidnei Ramis de Araújo, 46, já registrava sua vontade de matar a ex-mulher, Isamara Filier, 41. Ele consumou o crime em uma festa de Réveillon, matando ainda o filho que teve com ela, João Victor Filier de Araújo, 8, e mais dez pessoas.

No documento, Araújo conta que comprou um revólver em novembro de 2014 para matar Isamara.

Era um caderno pequeno, com espiral, que ele tomou o cuidado de reproduzir, converter em arquivo .pdf e enviar a amigos e vizinhos minutos antes de cometer os assassinatos. Além do diário, ele também disponibilizou uma carta que já foi divulgada pela imprensa e 12 arquivos de áudios com gravações das visitas que ele fazia ao filho --tudo em um serviço de arquivamento na internet (nuvem).

O Instituto de Criminalística (IC) informou que ainda não recebeu os documentos, que estão em posse da Secretaria de Segurança Pública. Assim que os tiver, o IC deve analisá-los e fazer uma perícia para comprovar a autenticidade.

Desejo de matar

Em quatro ocasiões, Araújo revela a vontade de matar a mulher --e uma ação efetiva para consumar o plano. Em sua última anotação, registrada no dia 3 de novembro de 2014, ele afirma ter comprado um revólver. No entanto, ele não dá detalhes, nem do modelo, nem da procedência da arma.

Em 15 de dezembro de 2013, por exemplo, ele escreve que "está muito difícil ficar próximo da Isa sem pensar em matá-la." Já em 17 de janeiro de 2014, Araújo expressa desejo de matar o avô e o tio de João Victor para a ex-mulher "saber o que é sentir saudade."

Em 9 de março de 2014, o atirador anota que ela deveria estar sentindo medo "pois esses dias tem bastante ex-marido matnado ex-esposas na região. [Vontade de] Matar essa vaca não me falta."

No total, o diário teve 83 páginas divulgadas. No começo, Araújo se resume a relatar algumas visitas e ligações que faz ao filho. No entanto, depois o caderno vira uma espécie de conversa do autor da chacina com João Victor.

A reportagem do UOL conversou com dois vizinhos que receberam os arquivos pela internet. Ambos não quiseram se identificar. Uma mulher, moradora do mesmo condomínio que Araújo, contou que recebeu o link com a pasta que continha os arquivos por Whatsapp, por volta das 23h45, do dia 31 de dezembro. No entanto, como estava viajando, ela só foi ver o conteúdo no dia seguinte.

A vizinha contou que Araújo costumava conversar com ela sobre os problemas que passava com a ex-mulher e a dificuldade que tinha para ver o filho, mas, segundo ela, nunca demonstrou que poderia ser violento com Isamara.

Registro de agressão

No diário, no entanto, Araújo relata o dia em que empurrou a ex-mulher contra a parede quando brincava com seu filho. "Na 3ª que estávamos brincando de pega-pega e ela não saía da frente querendo me irritar e conseguiu! Dei um empurrão nela e a porcona bateu o cotovelo na rede e caiu no chão", escreveu no dia 8 de novembro de 2013.

Essa agressão foi registrada em B.O. (Boletim de Ocorrência) por Isamra, mas ela não fez representação contra o marido --ou seja, ela não deu autorização para que o caso virasse inquérito policial.

Além desse, Isamara registrou quatro boletins de ocorrência contra Araújo entre 2005 e 2015. Dos BOs feitos por Isamara, dois são de ameaça e injúria; outro de violência doméstica e ameaça; e outro não criminal, por aproximação do pai em dia não marcado para visita.

No BO de "vias de fato", ela relata a agressão descrita por Araújo no diário.

Em 2013, Isamara abriu um processo contra o ex-marido em que o acusava de abuso sexual contra o filho. Na decisão da Justiça, foi determinado que a criança, que tinha três anos na época, deveria ser "protegida, mas não deve ser afastada totalmente do convívio paterno". Desde então, Araújo tinha autorização para visitar o filho em domingos alternados, na casa de Isamara, entre 9h e 12h.