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Secretário dá 3ª versão e diz que massacre em RR foi "ação de propaganda" do PCC

Janaina Garcia e Luan Santos

Do UOL, em São Paulo e Boa Vista

06/01/2017 17h45Atualizada em 06/01/2017 21h16

O secretário de Justiça do Estado de Roraima, Uziel Castro, atribuiu nesta sexta-feira (6) a uma suposta “ação de política e propaganda” do PCC (Primeiro Comando da Capital) o massacre de 31 presos do Complexo Penitenciário Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista. A unidade prisional é a maior de Roraima e é administrada pelo governo do Estado.

Em entrevista ao UOL, Castro afirmou que os assassinados eram “presos comuns”, provisórios e condenados, mas sem ligação com facções criminosas - diferentemente do que foi dito, pela manhã, pela assessoria do governo do Estado e pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. O maior desses grupos na unidade é o PCC, nascido nos presídios paulistas após aquela que é considerada a pior matança de detentos da história carcerária brasileira, a do Carandiru, em outubro de 1992.

“No nosso modo de pensar, o PCC quis politizar a facção. Quis fazer política de organização criminosa, mesmo, com uma espécie de propaganda de que são mesmo violentos. Como não tinha membros de outras facções no presídio, mataram quem estava lá e que não era do grupo deles, em quatro alas diferentes”, afirmou Castro. “"Foi uma ação isolada de presos do PCC contra pessoas que não eram ligadas a nenhuma facção", completou.

Apesar do tom incisivo do secretário, essa já é a terceira versão oficial para o massacre ocorrido hoje às 2h30 (4h30 de Brasília). Logo cedo, a assessoria do governo do Estado afirmou que o caso havia envolvido presos do PCC e do Comando Vermelho, facções também envolvidas na morte de 56 presos no Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), em Manaus, na última segunda-feira (2).

Mais tarde, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, disse que conversou com a governadora de Roraima, Suely Campos (PP), e constatou que as mortes em Boa Vista foram um “acerto de contas” interno entre membros do PCC. Ou seja, membros da facção teriam matado rivais do próprio grupo.

De acordo com Castro, no último dia 3 de novembro o governo transferiu 102 presos ligados ao Comando Vermelho que estavam no complexo de Monte Cristo para outras unidades prisionais em Boa Vista. Isso, na avaliação dele, refutaria a hipótese de vingança no massacre da última madrugada –ainda que mensagens com esse tipo de indicação, feitas em sangue, tenham sido fotografadas pelos detentos e enviadas a familiares.

"Foram três frentes de homicídios contra vítimas sem ligações com facções. Presos do regime fechado mataram presos do mesmo regime, assim como os preventivados e os que estavam na ala de segurança se mataram entre eles", disse Uziel, que lamentou o fato. “Foi uma barbaridade contra presos comuns e não entendemos o motivo. Não tem justificativa nem fundamentos para essa selvageria – a natureza humana é cheia de mistérios”, definiu.

Nesta sexta, Uziel Castro, solicitou ao juízo da Vara da Execução Penal da Comarca de Boa Vista e ao Ministério Público Estadual (MP-RR) uma autorização de transferência de oito presos identificados como líderes de facções criminosas para presídios federais de segurança máxima. De acordo com o Governo de RR, atualmente, 18 presos do Estado identificados como líderes de facções encontram-se em presídios federais de segurança máxima, submetidos ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

Presídio nunca passou por reforma em 30 anos

O secretário disse ainda que o complexo, mesmo sendo o maior do Estado, nunca passou por uma reforma em mais de três décadas de existência. Também não há bloqueadores de sinal de celular no local.

“Recebemos alguns aparelhos de raio-x, pistolas e raquetes de revista pessoal como legado das Olimpíadas, mas ficamos só com a promessa de receber viaturas, por exemplo. Mas muitas alas estão destruídas e a primeira reforma que seria feita, licitada em R$ 4,2 milhões em dezembro passado, está sub judice porque uma concorrente embargou a outra na Justiça”, contou.

"União demorou demais"

Sobre recursos federais, lamentou: “O governo federal demorou muito para agir. De R$ 3,5 bilhões dotados no Orçamento da União para o sistema carcerário, vão liberar agora só R$ 1,3 bi. A União demorou demais, ela tem que ajudar os Estados –porque as facções que mal havia em Roraima ate dois anos atrás, por exemplo, evoluíram muito e estão avançando para todos os Estados”, afirmou.

Castro declarou que, só do PCC, em Roraima, o governo “tem catalogados quase 600 presos identificados com data de batismo e até apelido”, além de 300 do Comando Vermelho e da facção FDN (Família do Norte).

Polícia tenta agilizar liberação de corpos e identificar autores

Em nota, mais cedo, o Governo de Estado de Roraima informou que o IML (Instituto Médico Legal) designou seis peritos, entre médicos legistas e odontolegistas, para acelerar os processos de identificação e liberação dos corpos. Além disso, seis auxiliares de necropsia também foram acionados para o reforço. Ainda segundo o Governo, nove corpos já foram periciados. No final do dia, o IML fazia um levantamento para identificar os mortos na chacina.

No presídio, informou a Secretaria de Justiça e Cidadania, o trabalho agora é para identificar e isolar os presos que participaram do massacre.