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"Não sei nem se ele está vivo", diz irmã de presidiário de Roraima

Parentes esperam por notícias em frente ao presídio - Luan Santos/UOL
Parentes esperam por notícias em frente ao presídio Imagem: Luan Santos/UOL

Luan Santos

Colaboração para o UOL, em Boa Vista

06/01/2017 14h36Atualizada em 06/01/2017 19h18

Cerca de 50 familiares de detentos se aglomeram em frente à Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Roraima, em busca de informações sobre parentes. A entrada para a instituição, que fica às margens da BR-174, está isolada desde as primeiras horas desta sexta-feira (6) após o massacre que deixou pelo menos 31 mortos.

"Fiquei sabendo pela televisão e logo vim correndo para cá. Ninguém passa nada para a gente, não fala nada. É muita agonia saber que meu irmão está aí dentro e não sei nem se está vivo. Estamos desesperados", comentou a diarista Selma Porto, que aguarda informações no Monte Cristo.

Para a dona de casa Maria Lúcia Silva, o fato é o reflexo da precaridade do sistema prisional brasileiro. "É triste a condição das cadeias do nosso país. É um acontecimento que poderia ter sido evitado com mais segurança nos presídios", disse Maria Lúcia.

Maria Lúcia conta que alguns parentes foram surpreendidos com a notícia --eles estavam a caminho da penitenciária uma vez que sexta-feira é dia de os familiares levarem alimentos para os detentos.

Estamos aqui nesse sol quente sem qualquer informação. Ninguém fala nada Maria Lúcia Silva

Remoção de corpos

Veículos do Instituto Médico Legal (IML) já entraram no presídio e removeram alguns corpos. As famílias também esperam notícias de seus parentes em frente ao IML.

Autoridades disseram que haveira uma coletiva de imprensa por volta das 16h desta sexta-feira --18h no horário de Brasília. A Governadora de Roraima, Suely Campos (PP), e secretários estaduais de Justiça e Segurança Pública, além do comandante da Polícia Militar, irão participar da coletiva. O Ministro de Justiça, Alexandre de Moraes, estaria a caminho de Boa Vista para acompanhar a situação no Estado --mas a viagem foi cancelada.

Brasil já soma quase 16 mortes por dia em penitenciárias em 2017

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OAB

Em visita ao presídio, o advogado Marco Antônio Pinheiro, vice-presidente da Comissão de Defesa da Ordem dos Advogados de Roraima (OAB-RR), disse que o massacre era uma tragédia anunciada.

Segundo ele, muitos detentos que estão no Monte Claro estão lá por 'suposição'. Ele afirmou ainda que "como mesmo disse o Ministro da Justiça, hoje a justiça brasileira condena muito, mas condena mal. Ela coloca presos comuns junto com matadores, estupradores e traficantes. Por isso, resulta em um cartel do crime", disse. Ele culpou o poder público de Roraima, principalmente o Judiciário, pela tragédia alegando que não há nenhuma iniciativa dos órgãos em relação ao sistema prisional do Estado.