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Com medo de voltar à prisão, detento de RR diz que ameaças de morte são constantes

Agentes da Força Nacional de Segurança desembarcaram na Base Aérea de Boa Vista após massacre - Luan Santos - 10.jan.2017-/UOL
Agentes da Força Nacional de Segurança desembarcaram na Base Aérea de Boa Vista após massacre Imagem: Luan Santos - 10.jan.2017-/UOL

Luan Santos

Colaboração para o UOL, em Boa Vista

11/01/2017 18h08

Detentos do CPP (Centro de Progressão Penitenciária) de Boa Vista, em Roraima, estão em casa desde o último sábado (7) após a Justiça Estadual liberar 161 internos para prisão domicilar. A decisão veio depois de um pedido do Diretor do CPP, Wlisses Freitas, que afirmou que o local é inseguro para os presos e para os agentes.

Nesta quarta-feira (11), o UOL conversou com um detento que atualmente cumpre prisão domiciliar por conta da decisão da Justiça. Antes, ele era submetido ao regime semiaberto, que permite ao preso deixar o presídio durante o dia para trabalhar. Ele conta como é a rotina de quem vive no CPP.

Jackson* relata que há muitos problemas na unidade prisional, inclusive estruturais. "Praticamente não temos segurança, há poucos agentes. Se acontecer algo grave lá dentro eles não terão como reagir", disse. O reeducando relata ameaças sofridas constantemente pelos internos. "Acontece a todo o momento por integrantes de facções, não só aqui de dentro. No final do mês passado, por exemplo, um amigo foi ameaçado de morte quando voltava ao CPP para dormir. Ficaram sabendo que ele fez uma solda em grades da prisão e ameaçaram", comentou.

Em julho do ano passado, um detento de 37 anos foi encontrado morto com um lençol preso ao pescoço dentro de uma cela do CPP. Ele aguardava ser julgado pelos crimes de tráfico de drogas e porte ilegal de arma. Em novembro, Mário Batistot, preso desde 2000 por ter cometido três homicídios, fugiu da unidade e dias depois se entregou ao Ministério Público. Ao MP, o homem disse que não aguentava mais apanhar e mostrou hematomas e arranhões. No mesmo mês, Jeferson Medeiros foi encontrado sem vida em um tambor de lixo. Ele foi decapitado na Penitenciária Agríciola de Monte Cristo.

Antes do massacre ocorrido na semana passada, o interno Sebastião Simão da Silva Neto, de 21 anos, acusado de roubo e formação de quadrilha, foi morto ao sair da unidade para trabalhar. O crime ocorreu por volta das 6h.

Os detentos devem voltar para o Centro de Progressão na próxima sexta-feira (13). Jackson teme pela sua segurança e dos demais. "Tomara que a gente volte e encontre mais agentes trabalhando. A situação prisional por aqui não está nada boa, me sinto completamente inseguro por lá, penso que algo ainda pode acontecer", conta.

A Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania de Roraima disse ter direcionado uma equipe para monitorar os presos nos trabalhos para confirmar a prisão domiciliar de cada um. Os reeducandos não podem frequentar bares, casa noturna e portar amas. Eles devem se recolher às 20h.

*O nome do reeducando foi trocado para não identificá-lo