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Protesto termina sem entrega de "troféu" a Doria; agências são depredadas após ato

Manifestantes protestam na avenida Paulista contra o possível aumento das tarifas de transporte em São Paulo - Janaina Garcia/UOL
Manifestantes protestam na avenida Paulista contra o possível aumento das tarifas de transporte em São Paulo Imagem: Janaina Garcia/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

12/01/2017 18h41Atualizada em 12/01/2017 22h56

Manifestantes fizeram um protesto nesta quinta-feira (12) em São Paulo contra o eventual aumento das tarifas de transporte público na cidade e no Estado --reajuste que acabou suspenso pela Justiça paulista por meio de liminar. O ato, convocado pelo MPL (Movimento Passe Livre), foi o primeiro do ano e pretendia entregar um "troféu" simbólico e irônico ao prefeito João Doria (PSDB) na residência do tucano, no Jardim Europa. A tentativa foi frustrada pela Polícia Militar, que não permitiu que o protesto avançasse já a uma distância de quatro quarteirões da casa do prefeito.

O ato transcorreu pacífico desde a avenida Paulista, de onde saiu às 18h30, até a avenida Brasil, onde foi encerrado. Além das bandeiras do Passe Livre com mensagens contra o reajuste da tarifa, havia também bandeiras de partidos políticos, como PSTU e PCdoB, e de movimentos sociais, como a UJS (União da Juventude Socialista) e a Conlutas. Segundo os organizadores, a manifestação reunia mais de 1.000 pessoas por volta das 18h30. A PM, porém, alegou não ter ferramentas para calcular o número de presentes. Todo o protesto, no entanto, foi monitorado pela polícia também via helicóptero Águia. 

Após o encerramento do protesto, às 20h30, manifestantes identificados com a tática black bloc, segundo seguranças de estabelecimentos comerciais na região, depredaram pelo menos três agências bancárias na rua Colômbia --uma do Banco do Brasil e duas do Santander. Lojas de grife foram vandalizadas com pichações na rua Oscar Freire com mensagens críticas a Doria. Lixeiras também foram danificadas, e lixo, espalhado pela via.

A assessoria da PM informou que quatro pessoas foram detidas na rua Oscar Freire por ato de depredação e encaminhadas ao 78º DP, nos Jardins. Os nomes e as idades não foram divulgados.

Agência do Banco do Brasil na rua Colômbia foi depredada por black blocks após o fim da manifestação, que teve tom pacífico - Janaina Garcia/UOL - Janaina Garcia/UOL
Agência do Banco do Brasil na rua Colômbia foi depredada por black blocks após o fim da manifestação, que teve tom pacífico
Imagem: Janaina Garcia/UOL

Troféu em formato de catraca

"O ato é para demarcar que, por mais que ainda não tenha tido aumento, o que querem fazer com a integração onera as pessoas que moram distante ou na região metropolitana, mas que são expulsas pelo processo de especulação imobiliária", afirmou, ainda na Paulista, a estudante de gestão de políticas públicas da USP Leste Letícia Cardoso, 21, uma das coordenadoras do MPL em São Paulo. A manifestação era uma resposta às tentativas de Doria e do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de aumentarem o valor do bilhete único mensal e da integração das passagens de ônibus, metrô e trem.

"Troféu" em formato de catraca que manifestantes pretendem entregar ao prefeito João Doria - Janaina Garcia/UOL - Janaina Garcia/UOL
"Troféu" em formato de catraca que manifestantes pretendem entregar ao prefeito João Doria
Imagem: Janaina Garcia/UOL

O protesto se concentrou às 17h na Praça do Ciclista, na Paulista. De lá, no início da noite, os manifestantes seguiram pela rua da Consolação e avenida Rebouças rumo à casa de Doria, na rua Itália, no Jardim Europa. Eles levavam ao prefeito o "Troféu Aumento Inovador", uma catraca dourada, em miniatura, em ironia ao aumento da integração apoiado pela gestão do tucano, há 12 dias no cargo.

Sobre o troféu simbólico a Doria, chamado de "Pinóquio" em panfletos distribuídos no protesto, a estudante explicou que o motivo foi o compromisso do tucano, durante a campanha eleitoral do ano passado, de não reajustar as tarifas.

"Ele mentiu quando disse que não aumentaria --mas propôs esse aumento 'inovador', travestido de aumento da integração", explicou.

PM bloqueia ruas e faz "acordo" com manifestantes

Dezenas de carros e motos da Polícia Militar acompanharam o ato. Na Rebouças, alguns PMs filmavam com câmeras a passagem dos manifestantes e dos jornalistas e não apresentavam identificação na lapela, o que é vedado pela corporação.

O protesto seguiria até a avenida Brigadeiro Faria Lima, mas teve de seguir pela avenida Brasil após os policiais fecharem o cruzamento. Nesta altura, homens da Força Tática da PM se juntaram ao apoio, todos usando balaclava, isto é, capuzes para cobrir o rosto.

Três integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre), que se notabilizou por apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), acompanharam o protesto, e houve um princípio de tumulto, no cruzamento da avenida Brasil com a rua Venezuela, quando um deles ofereceu mortadelas aos manifestantes. A PM interveio e encerrou a confusão.

O protesto terminou na rua Colômbia. A PM fechou os cruzamentos com a avenida Europa e impediu que os manifestantes entrassem no Jardim Europa, onde fica a residência de Doria. Segundo o tenente-coronel Francisco Cangerana, que comandou a operação durante o ato, os integrantes da manifestação aceitaram fazer um "acordo" com a PM pelo fim do protesto e com entrega do "troféu" em forma de catraca para ele.

Questionado pela reportagem se ele repassaria o objeto para o prefeito, Cangerana sorriu e respondeu: "Não, vou guardar, não é minha atribuição, não trabalho com o prefeito. E tenho 32 anos de trabalho, posso ficar com o troféu", ironizou.

Integrante do MPL, a estudante Ana Silva, 19, explicou o porquê da entrega do "troféu" ao policial, e não ao prefeito. "A PM nos disse desde o começo que o ato não poderia ir até a casa do prefeito, e resolvemos não forçar a passagem [já no Jardim Europa] para não criar uma repressão logo no primeiro ato do ano", disse. Questionada sobre as ações de vândalos, a integrante do movimento resumiu: "A gente não consegue controlar um ato que é público depois da dispersão dele. Já havíamos saído quando soubemos dessas depredações", comentou.

Um segundo ato foi marcado pelo MPL para a próxima quinta-feira (17), na Luz (região central), também às 17h.

Justiça suspendeu reajuste de integração duas vezes

No último dia 6, uma liminar da Justiça paulista suspendeu o reajuste de 14,8% na integração no transporte público. Na terça passada (10), foi a vez de o presidente do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), desembargador Paulo Dimas, negar o recurso do governo estadual de Geraldo Alckmin (PSDB) contra a liminar e manter a suspensão do reajuste – que ficou acima da inflação prevista de 6,4%. Para o presidente do TJ, faltou detalhamento técnico para a medida.

Como o recurso do governo estadual foi protocolado antes mesmo do recebimento da intimação com a decisão da primeira instância, o governador ainda pode entrar com um novo recurso no mesmo Tribunal, segundo a assessoria do TJ.

Ontem (11), a assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes informou que o Alckmin vai recorrer da liminar de sexta. Os valores já voltaram ao patamar anterior, sem o reajuste na integração e nos bilhetes temporais, mas o secretário de transportes do prefeito João Doria, Sérgio Avelleda, já disse que usuários de transporte público que utilizaram o Bilhete Único comum na última segunda (9) e terça-feira (10) para fazer integração entre metrô, trem ou ônibus não terão valores ressarcidos pelas administrações municipal e estadual, mesmo com a decisão judicial de suspender os reajustes.

Governo admite passagem a R$ 4,05

No recurso à Justiça, o governo Alckmin adiantou que o custo dos bilhetes unitários –de metrô e trens da CPTM– poderia subir dos atuais R$ 3,80 para em torno de R$ 4,05 caso o reajuste da tarifa de integração fosse suspenso.

"Em prol de se manter o percentual de desconto concedido aos usuários da integração nos patamares anteriormente adotados, todos os usuários do sistema, inclusive aqueles que não são beneficiados por tais subsídios, serão prejudicados", diz o documento que é assinado pela Procuradoria do Estado.