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Pensão de famílias de PMs mortos no RJ está atrasada: "descaso", diz viúva

Ronald Lincoln Jr.

Colaboração para o UOL, no Rio

30/01/2017 04h00

O atraso no pagamento dos salários dos servidores e pensionistas do Rio de Janeiro tem afetado também as famílias de policiais que morreram no Estado. Até a última sexta-feira (27), 16 PMs haviam sido assassinados apenas em 2017 –a Polícia Civil ainda não divulgou os dados de janeiro.

Segundo o ISP (Instituto de Segurança Pública), órgão ligado à Secretaria de Segurança, em 2016 ocorreram 135 baixas --sendo 124 PMs (86 em dia de folga) e 11 policiais civis. 

A vendedora Fabiana Almeida perdeu o marido, soldado Thiago Machado, em abril do ano passado. A morte ocorreu durante uma troca de tiros no centro de Niterói, na região metropolitana.

Machado estava há cinco anos na corporação e era considerado um policial exemplar. Apesar disso, a mulher conta que o soldado tinha receio de continuar na polícia. Ele também deixou uma filha de 13 anos, de um relacionamento anterior.

PM morto - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Fabiana Almeida e o marido, o soldado Thiago Machado, morto durante troca de tiros
Imagem: Reprodução/Facebook

Por direito, Fabiana recebe a pensão do marido, mas, em razão da crise do Estado, vem sofrendo com o atraso dos pagamentos, que, para piorar, têm sido quitados de maneira parcelada.

Ela reclama que precisa do dinheiro para se manter e para dar entrada no pedido da indenização paga a dependentes de policiais mortos em serviço.

“Estou realizando a burocracia para receber a indenização, que vai ser dividida com a filha do meu marido. É necessária uma série de documentos, alguns pagos. Mas o Estado não libera os salários e eu ainda preciso dar um jeito de arrumar dinheiro para pagar esses documentos”, afirmou.

Na última semana, os servidores e pensionistas da segurança receberam o pagamento atrasado de dezembro. Em nota, a PM afirmou que a Secretaria de Planejamento e Fazenda é responsável pelo pagamento.

servidores protesto - Paula Bianchi/UOL - Paula Bianchi/UOL
Servidores protestam desde o ano passado contra o atraso nos salários e o pacote de austeridade do Governo do Estado para equilibrar as contas
Imagem: Paula Bianchi/UOL

Cerca de 370 mil servidores e pensionistas aguardam o 13º. Questionada, a Secretaria de Fazenda afirmou que não há previsão para liberação do pagamento.

Esperam o salário atrasado de janeiro, que deve ser depositado até o 10º dia útil de fevereiro, 460 mil pessoas.

Enquanto isso, as famílias acumulam dívidas. “Os salários que a polícia pagou não são grande vantagem, porque estão sendo quitados com atraso. E os juros das nossas dívidas, quem paga?”, disse Fabiana.

A dor da bióloga Regina Coutinho, 42, é ainda mais recente. O marido, 3º sargento da PM Cristiano Bittencourt, morreu durante um confronto com traficantes do Morro do Jacarezinho, na zona norte do Rio, em novembro do ano passado.

Com a mulher, ele tinha um filho de três anos.

Regina recebeu o primeiro pagamento, referente ao mês em que o marido morreu, já com atraso.

Meu marido deixou um filho. Ele morreu em serviço. Hoje, eu preciso superar a dificuldades, a dor, e ainda tem o problema do pagamento atrasado.

Ela revelou ainda que o sargento pensava em dar baixa da PM após 14 anos na corporação. "No período de Olimpíada ele mal ia em casa por causa dos plantões e, agora, o Estado nos trata com esse descaso, e parte da sociedade ainda recrimina os policiais”, disse.

Para a mulher, a incerteza de pagamento, dívidas e insegurança podem estar afetando o desempenho dos policiais nas ruas. “Do jeito que começou 2017, parece que vai ser pior que em 2016. Falta estrutura, e isso deixa os policiais com o psicológico abalado na rua.”

SOS Polícia

Neste ano, a corporação oferecerá cursos para orientar a conduta que os policiais de folga devem ter diante de situações de risco.

A medida, contudo, é considerada paliativa pelo tenente da reserva da PM Nilton da Silva. Ele é integrante do Movimento SOS Polícia, que luta por direitos da categoria.

“Bandidos não param de matar policiais, e o Código Penal não muda, não é duro o suficiente para inibir os ataques”, disse. “O colega morre e ainda deixa sua família vulnerável.”

O deputado estadual Paulo Ramos (PSOL), presidente da CPI que apura as mortes dos agentes, considera que as forças de segurança do Rio precisam mudar o método de combate ao crime.

“É preciso haver um controle de criminalidade, em vez de uma política de extermínio nas ações da polícia. Está uma situação descontrolada de ou mata ou morre. Nosso trabalho é ampliar esse debate”, disse.