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"Situações vexatórias", diz secretário de Segurança do ES sobre PMs parados

Familiares de policiais militares do Espírito Santo em manifestação em frente ao Quartel do Comando Geral da PM no bairro Maruípe 7 - Gilson Barbosa/UOL
Familiares de policiais militares do Espírito Santo em manifestação em frente ao Quartel do Comando Geral da PM no bairro Maruípe 7 Imagem: Gilson Barbosa/UOL

Do UOL, em São Paulo

07/02/2017 13h57Atualizada em 07/02/2017 14h14

A onda de criminalidade pela falta de policiamento nos Espírito Santo tem gerado "situações vexatórias", segundo o secretário de Segurança do Estado, André Garcia. Em entrevista coletiva nesta terça-feira (7), ele negou não esteja aberto ao diálogo, uma "versão mentirosa" dos fatos que daria suporte à "chantagem de um movimento que coloca a população em uma posição de submissão à bandidagem".

Para Garcia, os bloqueios feitos por familiares de policiais na frente de quartéis e batalhões são ridículas. "Gatos pingados que não deixam os soldados saírem". Ele acredita que isso passa a impressão de que "qualquer grupo que hoje se organize bota duas cadeiras de plástico na porta do quartel, e a Polícia Militar estaria imobilizada”.

O secretário também diz que está aberto ao diálogo com os manifestantes. “Desde sexta-feira (3), tenho recebido grupos de mulheres pelo menos quatro vezes. Ontem à noite, eu estava conversando com um advogado que representa outro grupo de mulheres”.

Sua versão é rebatida pelo presidente da ACS (Associação de Cabos e Soldados) da Polícia Militar do Espírito Santo, sargento Renato Martins. “Ele [secretário] se comprometeu a receber as mulheres na segunda (6). No domingo (5), ele passou a considerar o movimento ilegal”, disse ao UOL, ressaltando que grupos tentam interceder para melhorar o diálogo.

De acordo com o secretário, hoje cerca de 500 policiais militares estão trabalhando no Estado, que possui cerca de 10 mil, segundo as associações da categoria. Garcia espera que mais policiais se apresentem para o trabalho amanhã.

No entanto, nesta terça, durante mais de seis horas a reportagem do UOL circulou por Vitória e cruzou com apenas um policial militar trabalhando.

“500 policiais para o Estado do Espírito Santo todo não tem visibilidade”, disse o comandante da PM, coronel Nilton Rodrigues, que informou que eles estavam fazendo o trabalho de patrulha ostensiva a pé. Normalmente, são 2 mil agentes que fazem o policiamento por dia apenas na Grande Vitória.

Segundo Rodrigues, foi determinado, nesta terça, que a chamada para verificar os policiais que se apresentaram para o trabalho fosse feita fora dos batalhões, mas no local do policiamento. “O policial não precisa entrar no batalhão para responder uma escala”.

Isso faz com que o policial não tenha mais a chance de ser conivente. “Se ele for, ele não comparece mais no local de chamada da sua escala”.

Clima de feriado

A presença de militares e da Força Nacional não foi suficiente para encorajar os moradores de Vitória e da região metropolitana a retomarem a rotina.

Com a PM nos quartéis e batalhões, a maioria das ruas permaneciam vazias e o comércio, fechado no começo da manhã desta terça, em uma espécie de feriado forçado.

Ao menos 250 integrantes das Forças Armadas já estão no Espírito Santo, segundo o comando do Exército na região. A expectativa é de que mais 1.000 cheguem, ainda hoje, ao Estado, disse o secretário de Segurança Pública capixaba, André Garcia. 

ESPÍRITO SANTO VIVE CAOS NA SEGURANÇA COM FALTA DE POLICIAMENTO

UOL Notícias

Entenda a crise no Espírito Santo

No sábado (4), parentes de policiais militares do Espírito Santo montaram acampamento em frente a batalhões da corporação em todo o Estado. Eles reivindicam melhores salários e condições de trabalho para os profissionais. Desde então, sem patrulhamento nas ruas, uma onda de violência tomou diversas cidades. 

A Justiça do Espírito Santo declarou ilegal o movimento dos familiares dos PMs. Segundo o desembargador Robson Luiz Albanez, a proibição de saída dos policiais caracteriza uma tentativa de greve por parte deles. A Constituição não permite que militares façam greve. As associações que representam os policiais deverão pagar multa de R$ 100 mil caso a decisão seja descumprida.

A ACS-ES (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo) afirma não ter relação com o movimento. De acordo com o cabo Thiago Bicalho, do 7º Batalhão da Polícia Militar do Estado e diretor Social e de Relações Públicas da associação, os policiais capixabas estão há sete anos sem aumento, e há três anos não se repõe no salário a perda pela inflação.

Segundo o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, as negociações sobre salários e condições de trabalho de policiais serão feitas apenas quando o patrulhamento na rua for retomado e a situação estiver controlada.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse, na segunda (6), que militares das Forças Armadas ficarão no Espírito Santo durante o "tempo necessário" para que a ordem no Estado seja restabelecida.

*Colaborou Nathan Lopes, do UOL, em São Paulo