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"Não podemos pagar o resgate" pedido por PMs, diz governador do ES

8.fev.2017 - Hartung apoiou seu substituto, César Colnago, e o secretário de Segurança, André Garcia, na condução da crise de segurança - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
8.fev.2017 - Hartung apoiou seu substituto, César Colnago, e o secretário de Segurança, André Garcia, na condução da crise de segurança Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Nathan Lopes e Paula Bianchi

Do UOL, em São Paulo e Vitória

08/02/2017 10h59Atualizada em 08/02/2017 14h36

Em seu primeiro pronunciamento após o início da crise de segurança no Espírito Santo, o governador licenciado, Paulo Hartung (PMDB), comparou nesta quarta-feira (8) a paralisação dos policiais militares do Estado a um sequestro.

“O que está acontecendo no Espírito Santo é uma chantagem. É a mesma coisa que sequestrar a liberdade do cidadão capixaba e pagar resgate”, disse o governador, que se licenciou do cargo no último dia 5 para se recuperar de uma cirurgia feita em um hospital paulista. Ele retirou um tumor da bexiga no dia 3, véspera do início da greve. 

A fala de Hartung faz referência ao pedido de aumento salarial feito pelos policiais capixabas, de cerca de 43%.

Segundo Hartung, o pagamento do “resgate” não pode ser feito “nem por aspecto ético nem pelo descumprimento da lei de responsabilidade”. Pelas contas do governador, o aumento salarial pedido pelos policiais acarretaria em um gasto de mais R$ 500 milhões por parte do Estado.

“Onde vamos arranjar meio bilhão [de reais]? Fechamos a conta de 2016 com sacrifício. Vamos fazer como os outros Estados? Aumentar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços)? Alguém é a favor de aumentar a carga tributária? Peço bom senso, equilíbrio”.

“Quero pedir a esses policiais que respeitem a sua instituição, o cidadão capixaba. Quem está mantendo o salário em dia é o cidadão capixaba, esse é o patrão. Nós somos um governo passageiro, mas a instituição governamental fica. A instituição Polícia Militar fica”.

Assim como o governador em exercício, César Colnago, e o secretário de Segurança, André Garcia, Hartung qualificou o movimento de familiares que impede a saída de PMs dos batalhões como ilegal e fez um pedido.

“Quero falar ao coração de vocês: vamos voltar ao trabalho. Esse movimento é ilegal, inconstitucional e pior: o método adotado dá vergonha, é o da chantagem. Estou fazendo essa palavra no sentido de que o bom senso chegue às ações de cada um dos policiais capixabas”. 

Os médicos de Hartung recomendam que ele só reassuma o governo na semana que vem. Em meio à crise, além de fazer a cirurgia, o governador também decidiu deixar o PMDB, legenda do presidente Michel Temer. Embora faça críticas pontuais ao governo, Hartung não pretende migrar para a oposição, mas mudar para um partido do grupo político que espera lançar um nome da situação à Presidência em 2018.

Diálogo

Nesta pela manhã, cerca de 30 mulheres permaneciam em frente ao quartel onde estão os PMs. Cada entrada conta com uma barraca grande, com colchões e cobertores, e um toldo. Há café, leite, pão, biscoitos, frutas, frios e até uma sanduicheira.

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Familiares de policiais militares do Espírito Santo em manifestação em frente ao Quartel do Comando Geral da PM
Imagem: Gilson Barbosa/UOL

"Se o governador abrir a agenda para a gente hoje e for favorável às nossas pautas, nós vamos sair", afirma uma das mulheres acampadas em frente ao principal quartel de Vitória. As manifestantes aguardam a contraposta do governo.

Segundo elas, um grupo de representantes do movimento irá se reunir com o governo às 14h. Entre as reivindicações dos familiares dos PMs e dos policiais estão a anistia aos policiais que não deixarmos os quartéis, reajuste salarial de 43% e a queda do secretário de Segurança.

"O governo mente, diz que está aberto ao diálogo, mas não é verdade. Nós temos palavra. Se nos receberem, se chegarmos num acordo, iremos sair."

Entenda a crise no Espírito Santo

No sábado (4), parentes de policiais militares do Espírito Santo montaram acampamento em frente a batalhões da corporação em todo o Estado. Eles reivindicam melhores salários e condições de trabalho para os profissionais.

A Justiça do Espírito Santo declarou ilegal o movimento dos familiares dos PMs. Segundo o desembargador Robson Luiz Albanez, a proibição de saída dos policiais caracteriza uma tentativa de greve por parte deles. A Constituição não permite que militares façam greve. As associações que representam os policiais deverão pagar multa de R$ 100 mil por dia pelo descumprimento da lei.

A ACS-ES (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo) afirma não ter relação com o movimento. Segundo a associação, os policiais capixabas estão há sete anos sem aumento real, e há três anos não se repõe no salário a perda pela inflação.

A SESP (Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social) contesta as informações passadas pela associação. Segundo a pasta, o governo do Espírito Santo concedeu um reajuste de 38,85% nos últimos 7 anos a todos os militares e a folha de pagamento da corporação teve um acréscimo de 46% nos últimos 5 anos.