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Homicídios em Florianópolis triplicam em 2 anos; autoridades culpam guerra de facções

Onda de ataques promovidos pelo PGC em 2012 e 2013 facilitou a entrada do PCC em Santa Catarina - Charles Guerra/Agência RBS
Onda de ataques promovidos pelo PGC em 2012 e 2013 facilitou a entrada do PCC em Santa Catarina Imagem: Charles Guerra/Agência RBS

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

08/04/2017 04h00

A guerra do tráfico tem feito cada vez mais vítimas em Florianópolis. É o que mostram os números divulgados pelo Governo de Santa Catarina. Entre 2015 e 2017, o índice de homicídios na capital catarinense praticamente triplicou nos três primeiros meses do ano, e as autoridades argumentam que a rivalidade entre duas facções - o paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) e o catarinense PGC (Primeiro Grupo da Capital), afilhado do CV (Comando Vermelho) – é a principal razão para o aumento da criminalidade.

Segundo dados do Governo estadual, entre 1º de janeiro e 6 de abril de 2017 foram registrados 59 homicídios na capital. Neste mesmo período, foram 17 mortes em 2015 e 26 em 2016, isto é, um aumento de quase 200% em dois anos.

Para o titular da Delegacia de Homicídios Ênio de Mattos, pelo menos metade das mortes tem relação com a briga entre as facções.

“Nós investigamos todas as mortes e traçamos as conexões”, afirmou o delegado, que explicou que não pode oferecer informações sobre como realiza o levantamento para não comprometer as investigações.

Rivalidade desde 2013

O PGC foi criado no dia 3 de março de 2003, no Presídio de São Pedro de Alcântara, por Nelson Lima, o 70, e outros detentos. A organização baseou seu estatuto no atual rival PCC, nascido dez anos antes na Casa de Custódia de Taubaté (SP), no anexo apelidado de Piranhão.

De acordo com a Diretoria Estadual de Investigação Criminal, o PGC foi organizado para garantir a sobrevivência dos presos diante das opressões do cárcere, mas rapidamente expandiu suas ações para o tráfico.

Entre novembro de 2012 e março do ano seguinte, atentados ordenados de dentro da Penitenciária de São Pedro de Alcântara pelas lideranças do PGC resultaram em 38 dias de ataques a prédios públicos, ônibus e agentes de segurança. Na época, o então governador Raimundo Colombo (PSD) admitiu que nenhuma medida efetiva tinha sido implantada para enfraquecer a facção até o momento.

A onda de ataques deu mais visibilidade ao grupo organizado, mas acabou possibilitando, indiretamente, a entrada do PCC no Estado. Mais conhecido, o PGC viu várias de suas lideranças que estavam fora da cadeia serem presas, e diversos chefes do grupo foram isolados em presídios federais. 

“Com as lideranças presas, os postos de comando das ruas foram assumidos por criminosos mais jovens, mais inexperientes e também mais violentos, digamos, inconsequentes. Eles também disputam internamente o poder e isso enfraquece a facção. Essa desorganização abriu a brecha para o PCC entrar”, explica Lincoln Gakiya, promotor no principal núcleo de monitoramento do PCC, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) de Presidente Prudente (SP).

Desde a entrada em Santa Catarina, o PCC tem ampliado suas ações dentro do Estado, sobretudo em Florianópolis, já que o principal interesse seria a alta rentabilidade da venda de drogas na cidade que tem grande relevância turística e uma das maiores rendas per capita do país.

Chacina emblemática

Um dos homicídios mais emblemáticos da guerra entre as facções aconteceu no dia 3 de março e desencadeou crimes que tiveram sequência até esta semana. Vilmar de Souza Junior, 29 anos, foi alvejado às 11h daquele dia em frente ao Mercado Público, um dos pontos históricos mais frequentados, situado no centro de Florianópolis. Ele era filho do dono de uma peixaria.

De acordo com investigação da Polícia Civil, o principal suspeito, que foi preso provisoriamente, é Danilo de Souza, irmão de um dos traficantes mais poderosos da cidade, Sérgio de Souza, conhecido como Neném da Costeira. Neném cumpre pena no Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia. Seu outro irmão foi morto no ano passado.

Sem a presença das lideranças, os pontos de tráfico de Neném da Costeira, situados no Sul da Ilha, na região que vai para o Aeroporto Hercílio Luz, foram invadidos na madrugada da última quinta-feira (6) e viraram palco de uma chacina. Três homens morreram e outros seis ficaram feridos. De acordo com o coronel Marcelo Pontes, da Polícia Militar, 15 homens fortemente armados invadiram as bocas para matar supostos traficantes do PGC.

Esse é mais um caso que fortalece a hipótese da polícia de que a prisão de traficantes de facções leva os grupos rivais a invadirem para tentar tomar as bocas de fumo desguarnecidas.

Foram mortos no local Christopher Carlos da Rosa, Igor Mazonim Leite Soares e Samuel Rosa da Silva. Adalberto da Silva Junior, Felipe Machado e Maico Ramos estão hospitalizados em estado grave nos hospitais Celso Ramos e Regional, de São José.

Ainda de acordo com a PM, para resgatar os criminosos envolvidos na chacina, que estavam escondidos na mata, e despistar a polícia, a facção PCC ordenou aos seus soldados que ateassem fogo em veículos.

Por volta das 22h, na Via Expressa, em São José, cerca de seis homens assaltaram dois caminhões e puseram fogo em um dos veículos. Uma hora depois, um carro foi incendiado no bairro Abraão, região continental de Florianópolis. Ninguém se feriu.

A Justiça de Santa Catarina determinou, nesta manhã (7), a prisão provisória de dois suspeitos. Fernando Varela Zancheta, o Xadrez, foi preso por policiais militares no município de Palhoça. Ricardo Gonçalves está foragido.