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Chefão da FDN acusa PF de adulterar provas e pede que operação seja anulada

Gelson Lima Carnaúba está detido no presídio federal de Catanduvas (PR) - Divulgação
Gelson Lima Carnaúba está detido no presídio federal de Catanduvas (PR) Imagem: Divulgação

Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

09/04/2017 04h00

O detento Gelson Lima Carnaúba, um dos chefes da facção criminosa FDN (Família do Norte), pede que a Justiça Federal anule as ações penais da Operação La Muralla, sob a alegação de que as provas apresentadas foram obtidas maneira ilegal e depois adulteradas pela PF (Polícia Federal).

Deflagrada em novembro de 2015, a Operação La Muralla revelou a estrutura organizacional da FDN -- o terceiro maior grupo criminoso do país. A investigação da PF interceptou ligações e cerca de 800 mil mensagens trocadas por membros da facção, por meio do sistema Blackberry Messenger.

A advogada de Carnaúba, Paloma Gurgel, apresentou um laudo pericial no qual se afirma que o relatório de investigação apresentado pela PF e pelo MPF (Ministério Público Federal) “encontra-se viciado, impreciso e cheio de falhas”.

A perícia conclui que houve "manipulação do material", o que levaria à "possibilidade de supressão intencional de informações, visando prejudicar e incriminar os réus [membros da FDN]". Ao UOL, a Superintendência Polícia Federal no Amazonas afirmou não ter conhecimento da perícia.

Por sua vez, o MPF no Amazonas considera "que não há dados técnicos no referido documento e reitera a legalidade da operação e das provas colhidas no curso das investigações". O órgão acrescenta que "este mesmo documento já foi juntado a outros processos que tramitam em 1ª instância e foi rechaçado pela Justiça em todas as ações".

Relator do processo no TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), o desembargador federal Olindo Menezes negou o pedido de liminar da defesa de Carnaúba, que se encontra detido no presídio federal de Catanduvas (PR).

O magistrado pediu ainda que a Procuradoria Regional da República se manifestasse sobre o caso.

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A FDN foi apontada como responsável por um dos maiores massacres do sistema penitenciário do Brasil, ocorrido em unidades prisionais de Manaus e que resultou na morte de 67 presos, na primeira semana de janeiro. Aliada ao Comando Vermelho, a facção amazonense é inimiga declarada do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Concentrada no Amazonas, a Operação La Muralla revelou que a FDN movimenta milhões de reais por mês com o domínio da "rota Solimões" --usada para escoar a cocaína produzida na Bolívia e no Peru por meio dos rios da região amazônica, além de mostrar que a facção tem "conexões estreitas" com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

De acordo com a investigação da PF, a FDN foi fundada pelos traficantes Gelson Lima Carnaúba, o Mano G, e José Roberto Fernandes Barbosa, o Perturba. Após passarem uma temporada cumprindo pena em presídios federais, os dois retornaram para Manaus, em 2006, determinados a se estruturarem como uma facção criminosa.

"A regra número um [da FDN] é que nada é feito ou definido sem a ordem ou aprovação de seus fundadores e principais lideranças, quais sejam, Gelson Lima Carnaúba, vulgo 'G', e José Roberto Fernandes Barbosa", lê-se no inquérito da Polícia Federal sobre a FDN.

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Carnaúba seria o responsável por firmar a aliança com o CV (Comando Vermelho), além de atuar como articulador da facção nas unidades prisionais por onde passa.

Além de Carnaúba e Zé Roberto, a cúpula é formada por outros quatro criminosos: Geomilson Lira Arantes, Cleomar Ribeiro de Freitas, Alan Souza Castimário e "João Branco".

"Juntos, os seis indivíduos supracitados seriam os 'pilares' de sustentação da FDN e ditam as regras de atuação dos criminosos dentro e fora dos presídios, amparados por rígidos pilares de hierarquia e disciplina, difundidos aos criminosos da base através de extrema violência", afirma a Polícia Federal no inquérito sobre a Família do Norte.

Organograma da cúpula da FDN - Divulgação - Divulgação
Organograma da FDN, de acordo com a PF: os chefes Carnaúba e Zé Roberto no primeiro escalão; abaixo deles, os criminosos Geomilson Arantes, Cleomar de Freitas, Alan Castimário e "João Branco"
Imagem: Divulgação

Laudo pericial

O laudo pericial, contratado pela defesa de Carnaúba, é assinado pelo especialista em fraudes documentais José Ricardo Rocha Bandeira, presidente do Conselho Nacional dos Peritos Judiciais.

No documento de 34 páginas, Bandeira conclui que "não pode ser atribuída a autenticidade de envio de mensagem aos réus [membros da FDN], principalmente quando inexiste a prova material de ligação entre usuário, portador e proprietário do aparelho".

O perito judicial diz ainda que "não se pode garantir a fidedignidade dos dados, pois na parte editada pode haver informações essenciais para a análise do todo contido nos mesmos, concluindo-se portanto que o material tenha sido manipulado".

Defesa de Carnaúba

"A perícia comprova que essa investigação é ilegal e abusiva. Além de as provas terem sido manipuladas, as primeiras gravações foram obtidas ilegalmente, sem autorização judicial", afirma a advogada Paloma Gurgel.

Procurada pelo UOL, a Superintendência Polícia Federal no Amazonas afirmou "não ter conhecimento da suposta perícia solicitada pela defesa do réu Gelson Carnaúba".

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