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Escola do Rio em que aluna morreu baleada critica blindagem de muros e pede apoio social

Marca de tiro dentro da escola em que Maria Eduarda morreu baleada em 30 de março - Pablo Jacob / Agência O Globo
Marca de tiro dentro da escola em que Maria Eduarda morreu baleada em 30 de março Imagem: Pablo Jacob / Agência O Globo

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

10/04/2017 13h17

Professores da Escola Municipal Daniel Piza, onde a adolescente Maria Eduarda Alves Ferreira, de 13 anos, morreu baleada, criticaram, em documento enviado à Prefeitura do Rio de Janeiro, a proposta de blindar os muros de unidades de ensino em áreas de risco, conforme anunciou o prefeito Marcelo Crivella (PRB).

“Compreendemos que a blindagem mais necessária e urgente é a blindagem social no entorno do equipamento escolar. Deixamos claro, que o muro será apenas um paliativo e não a resposta para os problemas e a violência na comunidade", diz um trecho da carta.
 
O documento enviado a Crivella e ao secretário de Educação, César Benjamin, tem ainda 11 reivindicações para o bairro Fazenda Botafogo, zona norte da capital fluminense, onde fica o colégio. Professores e funcionários da escola pedem a instalação de um posto do Cras (Centro de Referência de Assistência Social), lona cultural, Clínica da Família e também um espaço de convivência.
 
A carta sugere à prefeitura que a quadra da escola possa ser transformada num centro esportivo que ganharia o nome da menina Maria Eduarda. O documento pontua que a região precisa ser melhor assistida. “Precisamos também oferecer às comunidades todo um leque de serviços que hoje são oferecidos de maneira insuficiente, que faz com que essas regiões sejam marginalizadas, e mais do que isso, negligenciadas pelo poder público e por parte da sociedade.”
 
A Secretaria Municipal de Educação informou que, nesta segunda-feira (10), acontece uma reunião na sede da 6ª Coordenadoria Regional de Educação para avaliação e implementação das reivindicações da direção e dos professores. Por meio de nota, o secretário disse que vai atendê-los "em tudo que for da alçada da sua Pasta". Ele se comprometeu a conversar com os secretários de Saúde e de Cultura sobre os pedidos de um posto de saúde e de lona cultural.
 
Blindagem e volta às aulas
 
Crivella prometeu no último dia 13 blindar muros e paredes de escolas da rede municipal para protegê-las de confrontos armados. Segundo a administração municipal, a estrutura dos colégios será reforçada com argamassa especial, importada dos Estados Unidos, e afixada com espessura de 3 a 4 cm. 
 
 
O retorno às aulas de alunos e professores deve ser gradual. A unidade atende a 720 alunos do 6º ao 9º ano. De acordo com a secretaria de Educação, a escola tem autonomia para decidir a data de retorno das aulas. Em nota, a Pasta informou que, ao longo desta semana, serão realizadas atividades artísticas e esportivas para reintegrar os estudantes. 
 
Na última quinta-feira (6), a comunidade escolar realizou um ato ecumênico na quadra esportiva do colégio. O local foi enfeitado com bolas brancas. Em uma mesa, foram colocados objetos da estudante Maria Eduarda e flores. Nos cartazes espalhados pelos muros da escola, frases como "somos todos vencedores" e "Daniel Piza, estamos com vocês". 
 
Atletas do time de basquete do Flamengo participaram da homenagem à estudante que era adepta ao esporte. O pivô do time principal do Flamengo, João Paulo Batista, o técnico José Neto e o supervisor de basquete, André Guimarães, representaram o elenco flamenguista. José Neto entregou à mãe de Maria Eduarda, Rosilene Alves, de 53 anos, uma camisa oficial do time com o nome da menina escrito atrás.
 
Homenagens à Maria Eduarda ocorreram também em outras escolas da cidade. No conjunto de favelas do Alemão, também na zona norte, pais, alunos e professores vestiram branco e rezaram juntos pela paz nas escolas. O protesto se repetiu em mais de 1.500 unidades escolares do município.
 
Histórico de Violência
A escola Daniel Piza fica próxima ao Morro da Pedreira. No mês passado, a unidade foi fechada três vezes devido a tiroteios.
 
O Batalhão de Polícia Militar que atende a região respondeu por 20% das 182 mortes que ocorreram em janeiro e fevereiro deste ano em decorrência de ações policiais no Estado — ou seja, casos em que policiais supostamente teriam agido em legítima defesa.
 
A aluna da escola municipal Daniel Piza, Maria Eduarda, foi baleada no dia 30 de março durante aula de Educação Física que acontecia no período da tarde na escola. Na mesma hora, próximo ao colégio, dois policiais militares foram flagrados atirando contra dois homens já rendidos e caídos no chão. 
 
Os dois PMs, o cabo Fabio de Barros Dias e o sargento David Gomes Centeno, foram presos e autuados por homicídio qualificado. A Divisão de Homicídios investiga o caso. Uma reprodução simulada deve ser feita na escola na próxima quarta-feira (12).