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"Queria olhar nos olhos dos PMs que mataram minha filha", diz mãe em reconstituição em escola

Mãe de Maria Eduarda exibe foto e medalhas da filha durante reconstituição em escola - Taís Vilela, do UOL no Rio
Mãe de Maria Eduarda exibe foto e medalhas da filha durante reconstituição em escola Imagem: Taís Vilela, do UOL no Rio

Carolina Farias

Colaboração para o UOL, no Rio

12/04/2017 19h08

"Queria olhar nos olhos dos policiais que mataram minha filha e perguntar se ele têm filhos e saber o que eles fariam no meu lugar." Rosilene Alves ainda não conseguiu voltar à sua rotina e nem ao apartamento onde morava com a filha Maria Eduarda Alves da Conceição, morta no último dia 30 dentro da escola onde estudava, em Acari, zona norte do Rio, vítima de tiros de fuzil. Os policiais militares David Centeno e Fábio Barros Dias são suspeitos de serem autores dos disparos que transpassaram os muros do colégio e atingiram a garota.

 
Nesta quarta-feira (12), Rosilene voltou à escola para acompanhar a reprodução simulada da morte da filha, feita pela Divisão de Homicídios da Capital. A simulação começou por volta das 14h e até as 17h40 não havia terminado. Os policiais, que estão presos, não participaram da reconstituição.
 
"Não está sendo fácil aguentar porque ela era meu bebê, minha caçula. Não consigo comer, estou sem chão", disse a mãe, que ainda não entrou no apartamento onde morava com a filha e um menino criado por ela, de um ano. "Estou na casa de um sobrinho", disse Rosilene, que levou no pescoço as medalhas conquistadas pela filha em competições de basquete, além de uma foto, feita quando a menina tinha sete anos.
 
"Ela tinha um sonho de ser atleta e aeromoça. Saía às 7h para treinar e ainda voltava à tarde. Eu ia levá-la para conhecer um avião por dentro nem que fosse até São Paulo", falou a mãe, que sempre temeu pela segurança da filha.
 
Rosilene criticou a ação de policiais militares na região, que fica perto do conjunto de favelas da Pedreira. "Eu me escondia no banheiro do trabalho para ligar para ela de cinco em cinco minutos para saber onde ela estava. Hoje só está calmo aqui, porque mataram minha filha. Eles [PMs] sempre vão para cima", afirmou ela. Conforme descreveu Rosilene, policiais "entram atirando" no conjunto de prédios onde mora, ao lado da escola, e na rua Projetada, endereço do conjunto habitacional e do colégio.
 
Uidson Ferreira, irmão de Maria Eduardo, diz que a mãe está a base de calmantes e ele, que é professor de boxe, não conseguiu voltar a trabalhar. "Ela tem hora que ri, que chora, que grita. Não está segurando não. Eu ainda não consigo voltar a trabalhar, não tenho condições", disse Ferreira, que acompanhava Rosilene.
 
"O caveirão vinha atirando"
 
A rotina na região em que fica a Escola Municipal Daniel Piza, onde a adolescente de 13 anos morreu é dura. O rio Acari, que corta toda a rua Projetada onde ficam dois conjuntos de prédios — Fazenda Botafogo de um lado e Parque Nova Cidade na mesma extremidade em que fica o colégio —, tem cheiro forte de esgoto. Há lixo boiando na água. Porcos dividem a rua com carros e pedrestes. O odor e o cenário não incomodam tanto quanto a sensação de insegurança compartilhada por Rosilene com moradores da área. As mães são as que mais se preocupam.
 
Tiroteios constantes atrapalham a rotina dos moradores. A hora de levar ou buscar os pequenos nas escolas é a mais tensa, como na última segunda-feira (10), quando uma moradora levava a filha de três anos na creche por volta das 7h.
 
"Tive que me abaixar ali na mureta da ponte [que corta o rio] porque o caveirão vinha atirando", disse a moradora, que teve medo de se identificar. "Nunca quis morar aqui", completou ela, que precisa dividir o teto com os pais.
 
Luana Andreza quer tirar o filho de dez anos da escola onde Maria Eduarda morreu. "Vou mudar ele de escola porque tenho medo. Porque aqui a polícia entra atirando", disse.
 
"Aqui é assim dia sim e outro também. A gente sai com medo e não sabe se volta. Além de tudo não tem segurança porque tem muito assalto. Podiam colocar um policiamento eficiente no lugar desses policiais", completou a dona de casa Fátima Navarro.