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Juíza que trabalhou como faxineira para pagar faculdade lança livro sobre sua história

Adriana Maria Queiróz veio de família humilde e trabalhou como faxineira para pagar faculdade - Arquivo Pessoal
Adriana Maria Queiróz veio de família humilde e trabalhou como faxineira para pagar faculdade Imagem: Arquivo Pessoal

Eduardo Carneiro

Colaboração para o UOL

28/04/2017 19h40

Uma mulher negra, de família humilde, que estudou em escola pública e trabalhou como faxineira para poder pagar a faculdade vence as adversidades e se torna juíza  de direito. Daria para escrever um livro com esta história, não? Foi o que fez Adriana Maria Queiróz, a protagonista desta trajetória.

Hoje titular da 1ª Vara Cível e da Vara de  Infância e da Juventude de Quirinópolis-GO, Adriana lança neste sábado (29),  em Goiânia, "Dez  passos para alcançar seus sonhos – A história real da ex-faxineira que se  tornou juíza de direito", pela editora Novo Século.

“O objetivo do livro é motivar as pessoas que, como eu, já estiveram muito distantes dos seus  sonhos. É mostrar que é possível superar condições adversas, ir contra paradigmas pré-estabelecidos. Vale a pena lutar pelo que você acredita e você deve acreditar nos seus sonhos, independentemente do tempo que leve para realizá-los”, declarou a juíza ao UOL.

Adriana nasceu em Tupã, interior de São Paulo, para onde seus pais, ex-trabalhadores rurais do sertão da Bahia, partiram em busca de melhores oportunidades. “Era uma família humilde. Sempre estudei em escolas públicas e depois, quando passei na faculdade de Direito da cidade, tive que usar todas as minhas forças possíveis, pois meus pais não tinham condições de pagar”, contou ela.

“Consegui um  trabalho como faxineira na Santa Casa da cidade. Trabalhava na limpeza  hospitalar durante o dia e estudava à noite. Meu trabalho não foi suficiente,  então procurei o diretor da faculdade. Eles se sensibilizaram com meu sonho,  com a importância daquele momento,  e me  deram 50% da bolsa de estudos”, completou.

Adriana escolheu  estudar Direito durante o Ensino Médio. Já o sonho de ser juíza surgiu na faculdade. Mais do que as dificuldades financeiras, ela teve que vencer a descrença e o preconceito. “Minha decisão (de estudar Direito) teve a ver com injustiça  social, com os motivos de exclusão que eu via. Busquei conhecimento e uma forma  de mudar esse contexto. Dentro da faculdade, conhecendo as áreas, quis me  preparar para ser juíza. Algumas pessoas da minha família e conhecidos ficaram  surpresos. Fui até motivo de piada. Sem ninguém na área jurídica na família,  pobre, negra... Ninguém acreditava, mas eu acreditava. Nunca isso foi requisito  pra ser juíza”.

Terminada a  faculdade, Adriana deu o passo definitivo em busca do seu sonho. Pediu  demissão, juntou o dinheiro da rescisão e partiu para a capital São Paulo para  fazer cursos preparatórios para o concurso de Magistratura. “Dava para ficar  uns dois meses. Aluguei um quarto num pensionato de estudantes no bairro da Liberdade.  Não consegui emprego rápido e quase vi meu sonho ruir”, relembrou.

Foi aí que ela mais uma vez contou com uma mão amiga. Sensibilizado pela história de Adriana, Damásio de Jesus, diretor de um curso de direito, lhe ofereceu 100% de  bolsa de estudos e um emprego na biblioteca da escola. É ele, inclusive, que escreve o prefácio do livro de Adriana.

“Foram sete anos trabalhando e estudando em São Paulo. Sábados, domingos, feriados... Foram  muitas reprovações até que em 2010 eu fui aprovada. Em janeiro de 2011, tomei  posse como juíza em Goiânia”.

E qual a moral desta história real: “Eu realmente estava obstinada a alcançar meu sonho.  Passei por momentos de desânimo, as dificuldades pesaram muito, a distância que  eu estava e onde queria chegar era muito longa... Mas desistir nunca passou pela minha cabeça”, conclui Adriana.