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Índio tem as mãos decepadas no MA, diz pastoral; confronto deixou ao menos 12 feridos

Índios gamela reunidos em Viana (MA) - Cimi (Conselho Indigenista Missionário)
Índios gamela reunidos em Viana (MA) Imagem: Cimi (Conselho Indigenista Missionário)

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

01/05/2017 16h31Atualizada em 02/05/2017 11h05

O indígena Aldelir Ribeiro, 37, teve as mãos decepadas com golpes de facão em um confronto ocorrido no domingo (30) no município de Viana, no Maranhão. De acordo com a CPT (Comissão Pastoral da Terra), ele também levou dois tiros --um na costela e outro na coluna-- e teve os joelhos cortados. Ribeiro pertence à etnia gamela e está internado em estado grave no hospital Hospital Tarquínio Lopes Filho, em São Luís, capital do Estado, onde dará sequência ao tratamento pós-cirúrgico.

O governo do Maranhão confirmou, durante o dia, que a vítima teve as mãos decepadas, mas voltou atrás no período da noite dizendo que a vítima sofreu fratura exposta. A CPT e o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) falam que os índios foram atacados. O governo trata o caso como confronto entre os indígenas e fazendeiros e os seguranças destes. A Secretaria de Estado de Segurança Pública abriu inquérito para investigar as circunstâncias.

A CPT afirmou que ao menos dez indígenas ficaram feridos. O governo diz que foram cinco índios feridos --além de Ribeiro, foram encaminhados para o Hospital Tarquínio Lopes Filho José André Ribeiro, 45, com trauma craniano por agressão física; e José Ribamar Mendes, 46, que sofreu fratura exposta. Também contabiliza duas pessoas do grupo dos fazendeiros com ferimentos, mas que já receberam alta.

"Foi na sorte que escapei", diz índio

Inaldo da Conceição Vieira Serejo, outro indígena ferido, foi baleado de raspão na cabeça. Ele afirmou ao UOL que um grupo de 150 índios, incluindo mulheres e adolescentes, ocupou pacificamente uma fazenda para retomar a propriedade, que teria sido grilada décadas atrás. Ainda de acordo com ele, um grupo maior de fazendeiros e seguranças chegou armado ao local.

Índio Inaldo Gamela, atingido na cabeça durante confronto em Viana (MA) - Rejane Galeno/Jornal Vias de Fato - Rejane Galeno/Jornal Vias de Fato
Inaldo Gamela após a alta hospitalar
Imagem: Rejane Galeno/Jornal Vias de Fato

Cercados, os indígenas teriam decidido recuar e abandonar a fazenda. Ainda com base na versão de Serejo, os fazendeiros, mesmo com o recuo do grupo, começaram a atirar e atacar com facões e pedaços de pau.

Serejo disse que não percebeu quando levou o tiro e que, em determinado momento do confronto, sentiu tontura e caiu. “Fiquei zonzo e aí vi que estava sangrando. Tive a sensação de que não ia resistir. Foi na sorte que escapei”, relatou. Um amigo o ajudou a sair do local. A bala não ficou alojada em sua cabeça, e ele teve alta hospitalar na manhã de hoje.

Segundo Serejo, outros indígenas tiveram de fugir pela mata. Alguns dos índios feridos foram atendidos em municípios próximos a Viana. “O que aconteceu foi um massacre, com características de linchamento.”

Governo diz que polícia evitou confronto maior

Serejo declarou que a polícia maranhense foi avisada do ataque dos fazendeiros e nada fez. O governo do Maranhão informou que a Polícia Militar foi acionada para impedir a continuidade do confronto. “Após chegarem ao local, os policiais prestaram socorro às vítimas encaminhando-as para hospitais da região”, afirmou a administração estadual em nota.

“Equipes da Polícia Civil foram encaminhadas ao local do confronto. Elas se integraram aos policiais militares que já atuavam na área para conter novos confrontos”, prossegue o texto do governo. A PM permanece no local com reforço do efetivo.

O Ministério da Justiça informou que vai averiguar "o ocorrido envolvendo pequenos agricultores e supostos indígenas". Minutos depois, o texto publicado no site do ministério foi editado e a palavra "supostos" foi retirada.

De acordo com com o Cimi, este foi o terceiro ataque aos gamelas em três anos. Serejo afirmou que cerca de 2.000 pessoas distribuídas em povoados compõem a etnia gamela. O povo tem tentado retomar áreas que diz ter perdido para grileiros.