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Polícia do Rio apura se suspeitos de estupro coletivo tentaram violentar outra adolescente

8.mai.2017 - Vítima de 12 anos foi ouvida pela polícia nesta semana - Alexandre Cassiano/Agência O Globo
8.mai.2017 - Vítima de 12 anos foi ouvida pela polícia nesta semana Imagem: Alexandre Cassiano/Agência O Globo

Hanrrikson de Andrade

do UOL, no Rio

12/05/2017 12h47

A Polícia Civil do Rio de Janeiro constatou que havia uma segunda adolescente na cena do estupro coletivo contra uma estudante de 12 anos, em Mesquita, na Baixada Fluminense, no fim de abril. Segundo o inquérito, concluído nesta sexta-feira (12), relatos de testemunhas ouvidas pela Dcav (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima) indicam que houve tentativa de violência sexual contra a segunda menina, mas o crime não teria sido consumado.

A polícia abriu uma nova investigação para elucidar os fatos referentes a esta jovem, que já foi ouvida na Dcav. Por enquanto, ela consta como testemunha no inquérito, e não como vítima.

A titular da delegacia, Juliana Emerique, afirmou que a adolescente que também estava na cena do estupro coletivo é "um pouco mais velha" do que a vítima do caso --que havia acabado de completar 12 anos.

Além disso, Juliana disse ter convicção de que o abuso sexual foi cometido por quatro adolescentes, todos menores, sendo que um deles era o próprio namorado da vítima, de 14 anos. Não obstante o ato sexual, este jovem foi responsável, segundo a polícia, por gravar em vídeo o crime e divulgá-lo nas redes sociais.

cena estupro coletivo - Reprodução/Whatsapp - Reprodução/Whatsapp
Polícia fez perícia no local onde o crime aconteceu em Mesquita, Baixada Fluminense
Imagem: Reprodução/Whatsapp

Dos quatro envolvidos nos crimes, um adolescente foi levado pela mãe à delegacia e se apresentou espontaneamente. Ele está internado em caráter provisório, à disposição da Justiça. Entre os demais, um não se manifestou e já é considerado foragido.

Os outros dois estão em negociação com a Dcav e se comprometeram a comparecer ao distrito policial de forma voluntária. De acordo com Juliana, eles têm até 19h desta sexta para fazer isso. Caso contrário, ambos serão considerados foragidos, uma vez que há mandados de apreensão contra os suspeitos.

Dinâmica criminosa

A apuração policial mostra que os fatos criminosos se desencadearam a partir da conduta do namorado da menina de 12 anos, estuprada por ele e pelos outros quatro suspeitos, na versão da Dcav. O namorado teria violentado a menor e, em seguida, convidado os demais a entrar na casa para que também o fizessem. Nesse momento, o namorado teria então assumido a função de filmar a cena.

Os crimes duraram cerca de uma hora e ocorreram em uma casa situada na favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense --o imóvel pertence à família do namorado da vítima. Na perícia realizada no local, na quinta-feira (11), os agentes da Dcav encontraram indícios de fuga. Além disso, foram apreendidos materiais como travesseiros, fotos e uma embalagem aberta de camisinha. Os itens serão usados como provas processuais.

Como a investigação sobre a segunda adolescente ainda está em curso, a delegada Juliana Emerique afirma ser fundamental manter o sigilo dos trabalhos. Ela disse que ainda não se sabe como a jovem foi parar na casa, mas os relatos ouvidos até o momento indicam que ela também teria ido ao local por influência do namorado da adolescente estuprada. As imagens que foram registradas não mostram a suposta tentativa de abuso contra a segunda menina.

A Dcav aguarda os depoimentos dos dois suspeitos que negociaram apresentação voluntária em sede policial para confrontar as versões e verificar de que forma a outra adolescente foi parar na cena do estupro coletivo. Para Juliana, o interrogatório com o namorado da menor abusada será fundamental.

"Toda vítima de crime sexual tende a se retrair. Essa vítima [em referência à suposta tentativa de abuso contra a segunda jovem] não pode ser mais ouvida. Ela já deu o seu depoimento e foi identificada, por isso precisamos manter o sigilo", disse. "Eu preciso [do depoimento] desse adolescente infrator para confirmar isso", completou.

Depois da divulgação das imagens e da grande repercussão que o caso teve, traficantes da facção dominante na favela da Chatuba expulsaram do local as famílias dos quatro suspeitos, segundo revelou a delegada. Segundo ela, os envolvidos receberam ameaças de morte e correm grave risco caso voltem à comunidade. 

Inquéritos

A polícia instaurou, no total, três inquéritos para investigar o caso de estupro coletivo. Dos procedimentos iniciais, o primeiro se refere ao "fato principal", isto é, ao abuso sexual em si. O segundo diz respeito ao ato de grava em vídeo o crime e divulgar esse material na internet. Ambos já foram concluídos, mas a Dcav ainda aguarda laudos periciais e os depoimentos dos suspeitos para que eles sejam, enfim, indiciados por estupro de vulnerável e divulgação e armazenamento de imagens de natureza sexual.

No curso da investigação, a polícia abriu um terceiro inquérito, ainda em andamento, que tem como objeto a presença da segunda adolescente na casa onde ocorreu o estupro coletivo. Por enquanto, a jovem consta como testemunha, mas a Dcav diz acreditar que ela tenha sido vítima de tentativa de violência sexual. O abuso não teria sido consumado pelos suspeitos.