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Punição 'leve' a alunos que fizeram gestos obscenos em foto revolta colegas

Fernando Arbex

Colaboração para o UOL

27/05/2017 21h05

A AAA Jesse Owens, a Atlética da Faculdade Cásper Líbero, decidiu por punir com um jogo de suspensão os atletas dos times de futebol, handebol e basquete masculino por usarem as mãos para fazer gestos obscenos nas fotos oficiais de suas respectivas equipes. A decisão, porém, revoltou as alunas que se sentiram ofendidas pela atitude dos colegas, uma vez que elas entendem que a pena foi muito leve.

A publicação da foto com gestos obscenos causou polêmica na última quarta-feira (24) em páginas do Facebook relacionadas à instituição por 'incentivar a cultura do estupro'.

Quatro horas depois do anúncio da Atlética no Facebook, quase todos os comentários na publicação eram de reprovação. As alunas entendem que, às vésperas do Juca (Jogos Universitários de Comunicação e Artes), os organizadores de esportes da Faculdade preferiram preservar as possibilidades de vitória na competição. Se os times envolvidos vencerem as partidas de quartas de final de suas modalidades, os alunos punidos poderão jogar em eventuais semfinais e finais.

Além de retirar os estudantes de um jogo, a Atlética prometeu que vai colocar em ação um “calendário social” para conscientizar todos os atletas da Faculdade e evitar que esse tipo de situação se repita. As atividades envolverão “palestras, debates e trabalhos voluntários”, de acordo com a nota oficial.

Procurada pelo UOL, a Frente Feminista LGBT+ ainda formulava um posicionamento oficial para divulgar. Foi o coletivo que denunciou as fotos e acusou os envolvidos de estimular a “cultura do estupro”. Na ocasião, a página oficial da organização sugeriu que todos os alunos que fizeram os gestos não pudessem competir em nenhum jogo do Juca.

Em contato com a reportagem, Helena Brites, presidente da Atlética Jesse Owens disse que também se sentiu ofendida com o caso.

"Apesar de ter parecido omissão a falta de resposta, o que mais fizemos durante todo esse tempo foi pensar no nosso posicionamento e o que deveria ser feito. Hoje a maior parte da atlética é formada por mulheres. Além da presidência, os cargos de Esportes e Eventos também são ocupados por mulheres. Como mulher, também me senti ofendida com os gestos e vi por parte dos times femininos, inclusive o que faço parte, a revolta e a gravidade do caso. Sei que não podemos obrigar ninguém a se reeducar, mas penso que as ações socioeducativas que estamos propondo são muito necessárias e que também temos o papel e a capacidade de propor uma mudança. Como foi falado, acredito que nós, Atlética, erramos também. Fico chateada principalmente por deixarmos algo assim partir de nós - já que nós tiramos a foto e divulgamos. Com certeza, todos aprendemos muito com isso e toda repercussão desse caso mostra que estamos evoluindo muito na nossa luta contra o machismo, que temos trabalhado bastante com todas as entidades nos últimos anos para acabar de todas as suas formas, seja no esporte, nas festas, na faculdade, etc. Sei que muitos podem achar que não foi suficiente, mas tirar o direito de não jogar a primeira partida já é muito doloroso para um atleta. Ao meu ver, é um começo", disse.