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Moradores reclamam de cracolândia e insegurança onde Richthofen foi encontrado

Rua onde Andreas von Richthofen foi encontrado, na Chácara Flora, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo - Mirthyani Bezerra/UOL
Rua onde Andreas von Richthofen foi encontrado, na Chácara Flora, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo Imagem: Mirthyani Bezerra/UOL

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

01/06/2017 15h08Atualizada em 01/06/2017 19h42

Eram 6h45 da manhã de terça-feira (30) quando Andreas von Richthofen, 29, pulou o muro de uma residência na rua Engenheiro Alonso de Azevedo, na Chácara Flora, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo. Foi a dona da casa quem percebeu a invasão e chamou a polícia, que estava pela região e chegou logo em seguida, conseguindo conter o rapaz de 29 anos. Andreas estava sujo, com roupas e cabelos em mau estado e foi encaminhado a um hospital.

A história da última terça ganhou as manchetes devido à fama que Andreas nunca pediu, fruto de um crime na família há 15 anos. Ele é irmão de Suzane Von Richtofen, que em 2002 comandou o assassinato dos pais Manfred e Marísia. No entanto, tentativas de invasão ou roubo como a desta semana são recorrentes em Santo Amaro. É o que contam moradores e comerciantes da região.

Segundo um vizinho da casa em que Andreas tentou entrar, o agente de importação Renato Gomes Junior, 52, o rapaz estava visivelmente atordoado. “A própria dona chamou a polícia. A polícia chegou, ele tentou correr e estava tão atordoado que quase foi atropelado pela viatura”, disse.

O jovem foi encontrado em estado de surto pelos policiais que o encaminharam ao Hospital Municipal do Campo Limpo, onde ficou na ala psiquiátrica até ser transferido na noite da terça-feira (30) para o Centro de Saúde São João de Deus, em Pirituba, na zona oeste de São Paulo. Não se sabe se o rapaz estava sob o efeito de substâncias psicoativas no momento em que entrou entrar na casa, em Santo Amaro, nem se era frequentador de uma região próxima ao local onde é frequente o consumo de drogas.

Desde a manhã da quarta-feira, o UOL tenta contato com a direção do centro de saúde onde Andreas está internado para saber mais detalhes sobre o estado de saúde do rapaz, mas ainda não obteve resposta.

Falta segurança na área

Toda a ação de Andreas foi gravada pelas câmeras de segurança da casa de Renato, segundo quem invasões como essa são comuns na região. “O que a imprensa está fazendo é sensacionalismo. Vivemos um problema de segurança que a mídia não enxerga. Já tentaram levar o carro desse outro vizinho quando ele estava saindo de casa, já pularam o muro da casa de outra vizinha. De janeiro para cá o problema tem aumentado”, reclamou.

Segundo dados da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), das 2.624 ocorrências policiais registradas no 11º DP - Santo Amaro até abril deste ano, 325 eram furtos ou roubo de carros - um dos 25 índices mais altos da Capital -, 1.348 eram outros tipos de furtos e 733 eram outros tipos de roubos, totalizando 2406 crimes.

De todos esses índices, o único que cresceu em relação ao mesmo período do ano passado foi o de furto e roubo de carros. Foram 288 ocorrências desse tipo no primeiro quadrimestre de 2016. Em 2015 e 2014, porém, esse número era de 459 e 566, respectivamente.

A rua onde tudo aconteceu fica próxima a um local onde dependentes químicos costumam se aglomerar, principalmente a partir das 19h, quando já está escuro, segundo funcionários do comércio local. A aglomeração de usuários de drogas fica na parte de baixo do viaduto entre as avenidas jornalista Roberto Marinho e Vereador José Diniz. “A prefeitura só vê a Cracolândia da [rua] Helvetia, mas existem muitas outras pela cidade”, diz Renato.

A reportagem do UOL passou pelo viaduto e ruas adjacentes por volta das 17h de quarta-feira (31) e viu poucas pessoas na região. Algumas, no entanto, estavam usando drogas. Funcionários de um pet shop que fica bem próximo ao viaduto disseram que a maior concentração de usuários se dá à noite.

“Eles estavam montando até barracas em baixo do viaduto. Foi minha patroa que contratou uns seguranças que tiraram tudo. Mas eles nunca mexeram com a vizinhança e nunca aconteceu nada comigo”, conta o tosador Mario Marinho, 42, que afirmou nunca ter visto ou ouvido falar sobre o irmão de Suzane frequentando a região, informação corroborada por outros funcionários.

A empregada doméstica Ivonete de Jesus, 43, trabalha perto da casa invadida por Andreas e disse que a região é perigosa. “Aqui é meio perigoso sim. Sempre tem um caso de alguém que pulou o muro de alguma casa. Eu tenho medo de vir trabalhar, mas a gente precisa, né?”, disse.

Durante a reportagem, o UOL visualizou patrulhas da Polícia Militar passando pela avenida Washington Luiz e nos arredores do já citado viaduto. “Tem policiamento, a prefeitura já tentou tirar, mas não tem o que fazer, eles sempre estão por aqui”, disse Mario.

Procurada pela reportagem, a SSP informou que não tem registros de grupos de usuários de drogas na região onde Andreas von Richthofen foi encontrado. Em nota, a Secretaria disse ainda que houve uma redução de 10,14% no índice de roubos e furtos naquela área nos primeiros quatro meses de 2017.

"O 22º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela região, analisa semanalmente os resultados dos índices criminais que visam identificar possíveis melhorias no policiamento na área", conclui o texto enviado pela SSP.

Ala separada

Andreas von Richthofen está internado desde a noite de terça-feira (30) na ala São João Ávila, do Centro de Saúde São João de Deus, em Pirituba, na zona oeste de São Paulo.

Segundo apurou a reportagem do UOL, a ala é destinada a pacientes privados, que não chegam à unidade encaminhados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) ou por meio da Prefeitura de São Paulo.

Andreas e Suzane - Flávio Grieger/Folhapress - Flávio Grieger/Folhapress
Andreas e Suzane no enterro dos pais, em novembro de 2002; o rapaz se mantém fora dos holofotes desde então
Imagem: Flávio Grieger/Folhapress

“Aqui é tipo um complexo, é enorme e tem várias alas. Tem pacientes crônicos, mas a maioria que está internada aqui é dependente químico. [A São João Ávila] é a ala mais especial”, contou o professor Darlei Neres, 46, dependente químico que há 12 anos se trata no centro.

Diferentemente das demais alas – São João de Deus, São Ricardo, São Bento e São João Grande –, a São João Ávila tem apenas um interno por quarto, enquanto as demais têm duas camas e dois armários por quarto. Alguns pacientes relataram que o número de atendimentos aumentou desde que uma ação policial na cracolândia da rua Helvetia, no dia 21 de maio, dispersou dependentes.

“Por causa da ação na Cracolandia, aqui na João de Deus já estão colocando uma terceira cama nos quartos. Toda noite tem chegado 12, 15 novas pessoas. Tem tido muita briga, gente amolando colheres para ameaçar os outros. Hoje de manhã a diretora teve que descer e apartar uma briga”, disse um dos pacientes à reportagem do UOL, que pediu para não ser identificado.

Andreas foi transferido para o Centro de Saúde após receber atendimento no Hospital Municipal do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. A clínica não informou à reportagem o estado de saúde do rapaz, nem se a internação foi voluntária, ou seja, se o próprio Andreas manifestou interesse em ser tratado na unidade. A diretora da unidade, Vanessa Cavalcante, não foi encontrada. Funcionários afirmaram que ela estava resolvendo trâmites burocráticos na Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Também não foi permitida a entrada da reportagem além da portaria do Centro.