Comerciantes temem volta de 'antiga' cracolândia com instalação de contêineres
Um conjunto de contêineres com beliches e banheiro é a alternativa que a Prefeitura de São Paulo vai oferecer, a partir desta quinta-feira (8), como atendimento emergencial a dependentes químicos da região da Luz (centro). A estrutura foi montada em um terreno cercado por grades que servia de estacionamento a funcionários da GCM (Guarda Civil Metropolitana). O local fica a cerca de 700 metros da praça Princesa Isabel, onde se formou uma nova cracolândia depois da operação das polícias Civil e Militar e da GCM na concentração de usuários da rua Helvétia, no último dia 21.
O estacionamento com os contêineres fica no cruzamento das ruas dos Protestantes e Gusmões, onde, na gestão do então prefeito Gilberto Kassab (PSD), em 2005, ficava a cracolândia. Uma operação policial com forte repressão, à época, acabou dispersando o grupo para a região da Helvétia.
Agora, comerciantes e trabalhadores de estabelecimentos vizinhos estão receosos de que o fluxo de usuários novamente se forme no local --além de gastos com segurança particular, alguns deles relataram ao UOL investimentos para atrair a clientela depois que os dependentes químicos foram dispersados na gestão Kassab.
Segundo a gestão João Doria (PSDB), os contêineres terão capacidade de atendimento diário de 400 usuários, em média –com banho, alimentação, pernoite e encaminhamento a outros equipamentos municipais.
“Ficou muito bom quando retiraram as pessoas daqui --porque era uma cracolândia grande e os usuários se amontoavam na frente dos comércios, era difícil até de passar. Eu acho mesmo que o dependente tem que ser retirado da rua à força para tratamento. Cansei de ver médico, dentista e contador no vício. Vi muito pai e mãe vir procurar filho aqui. Agora, o receio é que isso tudo volte para o mesmo lugar”, afirmou Douglas Novaes Fernandes, 48, há 12 anos dono de um bar na esquina do terreno com os contêineres.
Dono de uma pensão em frente à nova estrutura, Juarez Faula, 47, também se mostrou reticente em relação ao futuro da região --na qual, assegurou, outros comerciantes como ele bancam uma equipe de segurança privada que custa em média, a cada um, R$ 500 de mensalidade. Faula contou que, depois de ter a pensão lacrada pelo Município e liberada, na gestão Kassab, investiu em uma reforma no local que conta, hoje, com 21 quartos.
“Receio que os usuários retornem e comecem a se amontoar de novo, mesmo porque, olha o tamanho da nova cracolândia, e veja o tamanho da área para esses contêineres”, observou.
“O comerciante aqui não tem nada a ver com o usuário, mas, no meu caso, é como se eu ficasse marcado como proprietário de algo que atende esse público. A pensão atende basicamente casais, desde que não seja ‘noia’ --se acontece algum problema, acionamos a segurança privada”, disse.
Já os funcionários de um atacado e varejo de roupas também vizinho do terreno com os contêineres reclamaram que “ninguém da prefeitura” antecipou a medida aos comerciantes do entorno. Há cinco dias, moradores da rua General Rondon protestaram contra a instalação dos contêineres na via, em um terreno da Cohab próximo à praça Princesa Isabel, e a administração acabou transferindo a medida para o estacionamento da GCM.
“A tendência é formar cracolândia aqui de novo, porque a verdade é que a prefeitura não sabe onde colocar toda essa gente, ainda que, ao que pareça, tente dividir o pessoal [usuário de crack]. Vai virar um rodízio de gente isso aqui, e o impressionante é que ninguém nos avisou que isso seria feito, mesmo sendo ruim para o movimento do comércio”, avaliou o vendedor Max Luís de Brito, 44, que há 12 anos trabalha na região.
Balconista na mesma loja há 23 anos, Gezi Mendes de Oliveira, 54, acha que é “questão de tempo para que uma nova cracolândia surja aqui de novo”. “Vejo muita gente vinda do Nordeste, sem família e sem emprego, indo parar na rua e no vício. É de cortar o coração ver isso, e acho que a administração só tenta mostrar que está fazendo alguma coisa”, opinou. “Mas a estrutura tampou a visão da loja. Vai ser ruim, de alguma forma”, complementou.
Prefeitura fala em "doação de empresas", mas não cita valores
Indagada sobre os contêineres, a prefeitura informou, por meio da Secretaria de Comunicação, que a instalação da estrutura de atendimento emergencial ocorreu “por meio de doação, sem contrapartida” para o município, feita pelas empresas Brasmodulos, Dasa e Construtora Faleiros.
A gestão não respondeu de quanto, ao todo, foi a doação.
O local conta com 100 camas para pernoite temporário, refeitório, 20 chuveiros e três banheiros com 18 vasos sanitários, além de duas salas de atendimento social e de saúde e uma academia ao ar livre.
“Se quiserem”, complementa a Pasta, “após avaliação médica e social, os acolhidos poderão ser encaminhados para outros centros de acolhida, clínicas terapêuticas ou leitos de internação”. A previsão diária é de que 400 pessoas sejam atendidas.
Indagada sobre a destinação das vagas de veículos particulares usadas pelos funcionários da GCM, cuja sede fica em frente à estrutura, a administração disse apenas que “a corporação integra o Projeto Redenção e está dando sua colaboração para auxiliar nas ações de recuperação de dependentes químicos”.
As queixas dos comerciantes e trabalhadores do comércio não foram comentadas pela secretaria.
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