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MP abre inquérito para apurar racismo institucional no shopping Higienópolis, em SP

Patricia Stavis/Folhapress
Imagem: Patricia Stavis/Folhapress

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

14/06/2017 12h38Atualizada em 14/06/2017 12h47

O Ministério Público em São Paulo instaurou inquérito para apurar se o shopping center Pátio Higienópolis, na região central da capital paulista, tem práticas racistas e sem estímulo à igualdade racial isoladamente ou de forma sistemática. A explicação é do promotor de Defesa dos Direitos Humanos Eduardo Valério, que assinou a portaria que abriu a investigação a partir da denúncia feita semana passada pelo pai de uma criança de sete anos que teria sido alvo de racismo no estabelecimento.

O caso que embasou a promotoria ocorreu no último dia 2, quando o filho do artista plástico Enio Squeff foi confundido no shopping com um mendigo. Em seu perfil no Facebook, Squeff relatou que ele e o filho tomavam chá em um restaurante do shopping no final da tarde –o menino estava com o uniforme do colégio particular Sion, localizado nas imediações.

“Fui surpreendido por uma segurança mulher que me perguntou se a criança, à minha frente, estava me incomodando. Surpreso, inquiri-a sobre razão de seu questionamento. Ela explicitou: tinha ordens de não deixar ‘pedintes crianças’ molestar a quem quer que fosse no shopping. Não precisou explicar mais nada. Apontei para meu filho e lhe perguntei se ela o considerava um pedinte por ser negro. Meu filho é negro; e estava com um abrigo do colégio Sion. Como eu lhe questionasse para o fato de ela ver pele e não o uniforme, quem se chocou, então, assustada, foi a moça travestida de segurança. Eu que a desculpasse, ela não tinha tido a intenção de me ofender. Para corroborar a extensão de seu pedido de perdão, afirmou-me que ela também era negra -,e sua pele não a desmentia; mas que recebia ordens”, postou Squeff, na ocasião.

O pai do menino depôs esta semana à promotoria e confirmou o relatado na rede social. Para o promotor, o caso “traz evidências de que o shopping pratica racismo institucional”.

“É uma situação evidente de racismo institucional, especialmente quando a funcionária afirma que segue ordens. Isso denota que a prática é da própria estrutura corporativa do shopping”, afirmou Valério, em entrevista ao UOL.

O promotor disse ter convidado o pai do garoto a depor e aberto o inquérito de posse das declarações dele. “Pedimos informações ao shopping, mas não investigaremos o caso específico –isso porque, a partir dele, tiramos evidências de que o shopping age de forma racista e de modo a não estimular a igualdade racial”, completou o promotor.

Por outro lado, Valério declarou que a ideia da Promotoria é cobrar do estabelecimento, antes da propositura de ação em que se requeira o pagamento de indenização por crime de racismo, a adoção de práticas afirmativas de combate ao preconceito.

“Nossa intenção é propositiva: que o shopping adote práticas afirmativas de igualdade racial, seja em uma campanha, nos espaços marketing do estabelecimento, seja na formação continuada de quem trabalha lá a respeito tratamento igualitário. E seria ideal uma campanha aos lojistas sobre a invisibilidade dos negros –um aspecto cruel do racismo no Brasil e que, volta e meia, ouvimos pela narrativa de movimentos negros. Mas isso nunca havia chegado de maneira completa até nós”, destacou.

Defesa

Por meio da assessoria de imprensa, o shopping informou que "reitera que todos os frequentadores são e serão sempre bem-vindos, sem qualquer tipo de discriminação".

"O empreendimento lamenta profundamente  pelo fato isolado ocorrido, destaca que não compactua com este tipo de procedimento e esclarece ainda que reorientou a colaboradora envolvida”, completou a nota. Sobre o inquérito aberto pelo MP, ainda não houve uma resposta até a publicação desta matéria.