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Criança morta com tiro na cabeça em favela é sepultada sob gritos de "fora UPP"

Antonio Scorza/Agência O Globo
Imagem: Antonio Scorza/Agência O Globo

Giovani Lettiere

Colaboração para o UOL, do Rio

06/07/2017 14h55

O clima de revolta tomou conta do enterro do corpo de Vanessa dos Santos, 10, na tarde desta quinta-feira (6), no cemitério de Inhaúma, zona norte do Rio de Janeiro. A menina foi atingida por um tiro na cabeça dentro de casa durante tiroteio na favela Camarista Méier, também na zona norte, na terça-feira (4). Muito emocionado, o pai da garota, o pedreiro Leandro Monteiro de Matos, pediu o fim da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na comunidade.

Tem que tirar a UPP, que não deu certo. Não estou aqui defendendo bandidos, eu defendo vidas. Que se coloque policiamento ao redor da favela e se faça um trabalho melhor de inteligência

Leandro Monteiro de Matos, pai de Vanessa

Ele contou que se encontrou na quarta-feira (5) com o secretário de Segurança do Estado do Rio, Roberto Sá.

"Pedi a ele que os confrontos fossem evitados. A bandidagem é de 5% na favela. O restante todo é gente de bem. Espero que ele faça o que me prometeu", disse o pedreiro, que pretende processar o Estado pela morte da filha.

"Vou processar, sim, mas ainda não conversei com advogados. Neste momento estou sem palavras. Ninguém imagina uma coisa dessas com a própria filha. Meu estado é de revolta. Estou sem dormir, dilacerado", diz.

Mãe de Vanessa, a faxineira Adriana Maria dos Santos ficou o tempo todo ao lado do caixão durante o cortejo da capela até o sepultamento, feito numa cova rasa.

 

'Eu só quero ser feliz'

Durante o cortejo, 200 moradores da comunidade pediram justiça e gritaram "fora UPP". Havia também pessoas com cartazes pedindo paz e o fim da ocupação pela polícia. Outros usavam uma camiseta com uma foto de Vanessa.

O refrão do funk "Eu Só Quero É Ser Feliz" --"andar tranquilamente na favela onde eu nasci"-- foi entoado no cortejo, assim como canções gospel.

Na última despedida, quando as flores foram jogadas sobre o caixão, Regineide da Silva, madrinha da menina, disse, muito emocionado, as últimas palavras da criança: "Madrinha, eu tô com medo!", em razão da presença de policiais dentro da casa dela (a madrinha mora na parte da frente do terreno).

Uma salva de palmas encerrou o sepultamento.