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O reforço de policiais da Força Nacional é suficiente para enfrentar violência no Rio?

Força Nacional começa a atuar no Rio de Janeiro -  LUCIANO BELFORD/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO
Força Nacional começa a atuar no Rio de Janeiro Imagem: LUCIANO BELFORD/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

21/07/2017 04h00

O reforço de agentes da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal, anunciado nesta quinta-feira (20) como parte do Plano Nacional de Segurança Pública para enfrentar a violência no Rio de Janeiro, foi visto como insuficiente por especialistas ouvidos pelo UOL. Para eles, a medida tem efeito pontual e não é capaz de solucionar a crise na segurança pública no Estado, que sofre com a escalada da violência.

Após reunião com o presidente Michel Temer e autoridades em Brasília, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) informou que o Rio contará com o reforço de 800 agentes, sendo que parte desse efetivo já está trabalhando no Estado. Segundo o Ministério da Justiça, 120 agentes da PRF chegarão ao Rio até o final de julho.

Com isso, até o fim deste mês, o Estado contará, ao todo, com a presença de mil homens --620 da Força Nacional e 380 da PRF. Esses homens permanecerão no Rio até o final do ano que vem, segundo Pezão. Além da maior presença de agentes, o governo federal determinou a instalação de um comando conjunto das Forças Armadas no Rio de Janeiro, caso seja preciso mobilizar agentes militares, e a adoção de ações de integração entre as forças de segurança e de inteligência.

As informações foram divulgadas após o encontro em Brasília que tratou da implementação do plano, anunciado em 6 de janeiro pelo ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes.
 

Ex-secretário nacional de Segurança, o coronel reformado da PM de São Paulo José Vicente da Silva Filho vê o reforço como um “paliativo político” e diz que a presença da Força Nacional custa caro à União, que poderia aplicar o dinheiro de outras formas no Rio. 

“A Força Nacional assim não vai adiantar praticamente nada. A crise de segurança é muito extensa, precisa de planejamento a longo prazo. É muito dinheiro para pouco resultado”, diz, ao estimar que esse efetivo custe entre R$ 9 milhões e R$ 10 milhões à União.

Para ele, os recursos para a solução da crise estão no próprio Estado e passam, a princípio, pelo remanejamento de policiais que já atuam em território fluminense --como agentes em UPPs, PMs que atuam administrativamente em órgão públicos como a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e até mesmo bombeiros--, e por um maior controle da entrada e saída de armas tanto nas fronteiras do Estado quanto em pontos críticos, como áreas dominadas pelo tráfico.

“Só aí você arruma ao menos 10 mil policiais em efetivo ao invés de usar agentes de fora. Esse dinheiro poderia, por exemplo, ser usado para pagar honorários aos policias dispostos a fazer horas extras, dinheiro que o Estado não tem conseguido pagar”, afirma.

O especialista em segurança pública e ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) Paulo Storani diz que a Força Nacional e a PRF são capazes apenas de ações pontuais e critica o que vê como falta de planejamento a longo prazo na área de segurança pública tanto estadual quanto nacionalmente.

“Continuamos apostando em medidas de curto prazo para a solução de um problema complexo. Mesmo a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) foi algo a curto prazo”, diz, ao lembrar que não foi estruturado um programa que fosse além da presença de agentes de segurança nas favelas.

Ele diz que a Força Nacional já foi enviada ao Estado em outras situações e nem por isso a situação da segurança se estabilizou. “A polícia hoje é capaz apenas de uma ação de contenção da violência, falta um planejamento de fato a longo prazo”, diz. “É uma ingenuidade achar que só o Estado seria capaz de resolver o problema.”

A reportagem do UOL procurou o governo do Rio de Janeiro e o Ministério da Justiça sobre as críticas feitas pelos especialistas, mas, até a publicação desta reportagem, não obteve retorno.

"Não queremos ações midiáticas", diz ministro

Também após a reunião, o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência, Sergio Etchegoyen, disse que o presidente Temer determinou a instalação de um comando conjunto das Forças Armadas no Rio de Janeiro, caso seja preciso mobilizar agentes militares.

"O presidente da República definiu com muita ênfase que todos os meios disponíveis na União, seus órgãos de segurança pública, Forças Armadas, inteligência, estão desde já à disposição do Plano Nacional de Segurança Pública, à disposição desse esforço no Rio de Janeiro", disse.

Segundo Etchegoyen, ainda não há previsão de emprego dos militares e a ideia é que eles realizem apenas ações pontuais, se necessário. "Não estamos trabalhando com as ocupações prolongadas, diárias. Estamos trabalhando com ações pontuais que vão trazer os resultados que precisamos e dos quais tanto carece a sociedade do Rio de Janeiro", afirmou o ministro.

O ministro do GSI afirmou que o Plano Nacional de Segurança busca ações de inteligência e integração entre as forças de segurança pública federais e nos Estados. "Não queremos ações midiáticas, mas ações de resultado." Ele não deu, contudo, detalhes sobre as ações.

Após citar que o governo está concentrando seus esforços na redução da criminalidade, com ações que vem desde as fronteiras, Etchegoyen lembrou que o plano de segurança pública "será de longo prazo, até o final deste governo, com operações de inteligência que buscam resultados efetivos".

"Todos os meios disponíveis da União, sejam de segurança pública, de inteligência, das Forças Armadas, estão à disposição desse esforço no Rio de Janeiro, como foi reiterado. Neste esforço, nós estaremos empenhados até o final do ano que vem". 

Segundo Pezão, há "um esforço muito grande, com orçamento já definido pelo presidente, que permitirá até o final do ano prosseguimento desta operação nas condições acertadas hoje".

De acordo com Etchegoyen, "a palavra-chave da reunião é a garantia da integração de todos os esforços, de todas as esferas da União, uma integração vertical e horizontal, com ações fortes na área de inteligência".

Para o governador do Rio, as ações da Polícia Rodoviária serão fundamentais "no combate à entrada de armas no Estado", o que ocorre pelas estradas federais. "Vamos ter resultados significativos", insistiu Pezão, após lembrar que o Rio não fabrica armamentos.