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Briga no Whatsapp por causa do Pokemon Go vira caso de polícia em SC: "Trapaceira"

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Eduardo Carneiro

Colaboração para o UOL

27/07/2017 14h09

Uma discussão num grupo de Whatsapp que reunia jogadores de Pokemon Go, game eletrônico de realidade aumentada para smartphones, virou caso de polícia na cidade de Blumenau, Santa Catarina.

Tudo porque uma jovem, de 18 anos, foi à 1ª Delegacia de Polícia da cidade denunciar que foi chamada de “trapaceira” por um adversário, de 34. O boletim de ocorrência, ao qual o UOL teve acesso, foi registrado como injúria no último dia 21. "Relata que faz parte de um grupo, no WhatsApp, e o suspeito também, no dia de ontem, através deste aplicativo - chamou a vítima de 'trapaceira', em relação ao jogo do Pokemón Go, que ambos jogam", diz o BO (veja abaixo).

O acusado se chama Eduardo e é técnico de informática. Ele justificou a ofensa alegando que a acusadora utiliza “fake GPS”, um emulador de GPS que possibilita ao usuário participar do jogo sem sair de casa, e que ela ainda ganhava dinheiro com essa prática. Ambos moram na cidade catarinense e, segundo Eduardo, só se viram nas ruas poucas vezes.

O técnico em informática disse que foi a própria rival de 18 anos que anunciou que tinha registrado o boletim, inclusive postando uma foto do documento no grupo e expondo os dados pessoais de ambos. “Não fiquei preocupado com a denúncia. Fiquei mais surpreso mesmo. Foi algo recente, ninguém da delegacia me procurou ainda. Algumas pessoas me perguntaram se isso era sério”, diz ele ao UOL.

Eduardo afirma ainda que tem um “caminhão de provas” caso a acusadora leve a denúncia adiante, como arquivos, conversas de WhatsApp e relatos de pessoas que estão na rua e observam ela jogando sem estar fisicamente no lugar.

“Ela também foi banida do grupo onde eu estava, pois foi comprovado que realmente ela utilizava desse emulador de GPS, o que não aceitamos, pois consideramos trapaça no jogo - o que de certa forma é, já que o jogo é feito para você sair de casa e não ficar jogando no conforto da cama. Quando quero isso, jogo PlayStation (risos)”, concluiu.

O UOL também entrou em contato com a jovem. Ela confirmou que fez o boletim de ocorrência, afirmou que a pessoa acusada não a incomodou mais e que seu problema está resolvido. “Não quero mais tocar neste assunto”.

Go - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Chamar de trapaceiro é crime?

De acordo com o artigo 140 do Código Penal, injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, prevê pena de detenção de um a seis meses, ou multa. Mas até que ponto uma denúncia como esta de Blumenau pode ser aceita e levada adiante na Justiça?

Pokemon Go - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Para o advogado Marcus Vinicius Soares Akiyama, a chance, no contexto atual, seria mínima. “Se o direito penal ficar intervindo em tudo que acontece na vida do cidadão, a mão do Estado fica muito pesada. No caso de crimes contra honra, a Justiça está requerendo muitos elementos para que a queixa-crime seja aceita”, explica, citando o volume de processos que a Justiça Criminal tem que avaliar. “Me parece que estamos diante de animus jocandi (comentários ofensivos, mas em tom de brincadeira), de falar por falar, por estarem num ambiente de jogo virtual”.

O também advogado Davi Rodney Silva ressalta que “qualquer um pode abrir boletim nesta natureza, se demonstrar que no âmago se sentiu ofendido num ambiente de pluralidade de pessoas”. Mas para levar a denúncia adiante, ele lembra, a jovem, além de juntar provas, teria que constituir advogado e pagar os custos do processo. “Concordo que o caso não deveria estar lá, mas se ela se propuser a continuar na denúncia e entrar com a queixa-crime, o Estado não pode negar a análise”.

Marcus Vinicius Soares Akiyama acredita que o caso seria encerrado se a jovem respondesse ao adversário com a mesma ofensa – um exemplo de retorsão imediata, quando ofensor e ofendido, ao proferirem ofensas recíprocas graves e intensas incitando um ao outro, devem suportar as acusações.

O UOL entrou em contato com a 1ª Delegacia de Polícia de Blumenau, que não deu maiores informações sobre o caso e a sequência das investigações.