Topo

Alckmin diz que toda abordagem policial em SP segue mesmo padrão e conduta

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

25/08/2017 17h18Atualizada em 25/08/2017 17h53

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou na tarde desta sexta-feira (25) que a PM (Polícia Militar) utiliza o mesmo padrão e a mesma conduta em todas as abordagens. Esta foi a resposta do tucano quando questionado sobre frase do comandante da Rota, Ricardo de Mello Araújo, que em entrevista exclusiva ao UOL, divulgada na quinta-feira (24), afirmou que a linguagem do policial muda dependendo do bairro.

"Ele já explicou o que ele tentava dizer", disse o governador. "O procedimento é o mesmo. Primeiro, respeito às pessoas e seguir os padrões técnicos, seguir os padrões operacionais, que são muito rígidos. Então, é o mesmo padrão operacional e a mesma conduta, que é respeito pelas pessoas", afirmou o governador.

Na entrevista concedida ao UOL, Mello Araújo afirmou que o policial deve se adaptar ao território em que está. "É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado", disse.

"Da mesma forma, se eu coloco um [policial] da periferia para lidar, falar com a mesma forma, com a mesma linguagem que uma pessoa da periferia fala aqui no Jardins, ele pode estar sendo grosseiro com uma pessoa do Jardins que está ali, andando", completou o Mello Araújo, que está no comando da tropa de elite da PM de SP desde o dia 4 de agosto deste ano.

Ao telefone, a assessoria de imprensa da PM informou à reportagem, na quinta-feira (24), que o comandante tinha sido "infeliz nas palavras". Na noite de quinta, a comunicação social da PM divulgou uma entrevista com o comandante, feita por uma policial, em que Mello Araújo se justifica sobre o que havia dito a respeito das diferenças em abordagens. 

"A abordagem, não só da Rota, mas da Polícia Militar, ela é padronizada. Nós temos procedimentos operacionais padrão. E explica, desde quando o policial ingressa na corporação, de como fazer essa abordagem. Então, a abordagem é padronizada, não só na Rota, na polícia inteira. Em qualquer local, ela é feita da mesma forma. Eu posso fazer uma abordagem na zona sul, na zona leste, na zona centro, ela é padrão, ela é padronizada", disse à comunicação social da PM.

Em nota divulgada nesta sexta-feira (25), a corporação diz respeitar as opiniões pessoais de seus integrantes e que as ponderações do comandante "não interferem na doutrina institucional, nem tampouco em seus procedimentos operacionais padrão".

Ouvidor pede "providências"

O ouvidor da Polícia de São Paulo, Julio Cesar Neves, enviou, nesta sexta-feira (25), um ofício à SSP (Secretaria da Segurança Pública) cobrando "providências" a respeito da afirmação do comandante da Rota, e outro ofício à Corregedoria da PM, questionando se o argumento utilizado por Mello Araújo infringe algum item do Código de Conduta da PM.

Entre as "providências", o ouvidor cita "o repasse da informação à tropa de que todos os cidadãos são e devem ser tratados iguais e, caso sinta a necessidade, uma eventual troca no comando". Até a publicação desta reportagem, a SSP não se manifestou sobre os ofícios enviados pelo ouvidor.

Petição exige demissão

Uma petição, assinada por 55 movimentos sociais e coletivos, foi entregue à SSP, MP (Ministério Público), Casa Civil e Gabinete do governador Geraldo Alckmin (PSDB) no fim da tarde desta sexta-feira (25), pedindo a demissão do comandante da Rota, a tropa de elite da PM (Polícia Militar), Ricardo de Mello Araújo.

Os movimentos e coletivos representam a chamada "Frente Alternativa Preta". Entre eles, estão o núcleo de ativismo de São Paulo da Anistia Internacional, o MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto) e a Uneafro. "Pedimos a saída dele, mas formulando em tom de pergunta, através da Lei de Acesso à Informação. Assim, os órgãos são obrigados a nos responder", afirmou Douglas Belchior, da Uneafro.

No documento, os movimentos afirmam entender que quando "uma pessoa que professa e endossa uma forma de atuação diferenciada por parte da Policia Militar a partir de critérios territoriais, geográficos, sociais e raciais, que concebe deliberadamente a ideia de que a Polícia Militar deve ser mais violenta em um determinado perfil de localidade, sabidamente ocupada pela população negra e pobre e logo".

Com base nesse argumento, a petição "exige a imediata demissão" de Mello Araújo. "[Tal pronunciamento] acaba por promover e incentivar condutas violentas e até criminosas de seus comandados, atenta e infringe os princípios institucionais da própria Polícia Militar, da Segurança Pública e do Estado Democrático de Direito", complementa.