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Drag vence concurso de beleza, mas perde título após crítica de secretária de educação

Concurso da escola no Piauí foi cancelado e decepcionou drag queen Agatha Lorrana - Arquivo Pessoal
Concurso da escola no Piauí foi cancelado e decepcionou drag queen Agatha Lorrana Imagem: Arquivo Pessoal

Wanderley Preite Sobrinho

Colaboração para o UOL

01/09/2017 18h14

“Eu me inscrevi, fui de mulher e ganhei o concurso. Não devolvo faixa nenhuma”, diz Anderson da Silva ao UOL. O jovem de 17 anos, que na última sexta-feira (25) se vestiu de drag queen e venceu o concurso de beleza feminina da Unidade Escolar José Amável, em Matias Olímpio, município a 237 km de Teresina, capital do Piauí, bate o pé e não aceita uma decisão que cancelou o resultado final.

A polêmica aconteceu porque nem todo mundo concordou com a opinião dos jurados no concurso. A secretária de educação da cidade Sunamita Pinheiro fez uma crítica à escola em seu Facebook. A direção, então, decidiu voltar atrás e cancelar o resultado nesta quinta (31), causando revolta entre alguns alunos, que acusaram a secretária de homofobia.

Em sua conta na rede social, Sunamita publicou a foto de uma garota que venceu o concurso em outra escola. Ao lado, um texto interpretado por Anderson e seus colegas como uma indireta ao resultado que lhe rendeu a faixa. “Parabéns à escola, à mesa de jurados por entenderem a distinção mais BELO e mais BELA. E saberem escolher verdadeiramente uma MULHER para representar a classe FEMININA. Uma escola consciente e apta em suas atitudes”, escreveu.

Escola cancelou resultado após comentário de secretária de educação de Matias Olímpio (PI) - Reprodução - Reprodução
Escola cancelou resultado após comentário de secretária de educação de Matias Olímpio (PI)
Imagem: Reprodução

Anderson não gostou nada do comentário da secretária. “Fui enfaixada na hora e tudo mais. Quando me inscrevi todo mundo entendeu. Mas meus colegas disseram que iam tomar a minha faixa e dar para quem ficou em segundo lugar por causa de uma postagem da secretária de educação”, contou Anderson ao UOL. “Ontem a diretora da escola me chamou para conversar, dizendo que ia precisar cancelar o concurso. Que iria eliminar a categoria feminina do desfile deste ano.”

Colega de Eduardo, Emanuel Aguiar, de 18 anos, confirma que ninguém na escola se opôs ao resultado. “Ele foi muito aplaudido. Ninguém reclamou. Todos gostam dele.”

Indignado, Eduardo foi à página da secretária no Facebook para desabafar: “Que culpa tenho eu se as outras concorrentes não ganharam? Na visão dos jurados fui melhor, por isso me deram o título”, disse. “Lamento pelo fato ocorrido vir de quem deveria dar exemplo de educação, respeito, moral e ética profissional.”

Estudante Anderson da Silva participou do concurso como mulher e conquistou 1º lugar - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Estudante Anderson da Silva participou do concurso como drag e conquistou 1º lugar
Imagem: Arquivo Pessoal

Em seguida, Sunamita bloqueou o garoto em sua página. Procurada pelo UOL, ela nega que tenha pedido o cancelamento do concurso e diz que sua postagem “não foi um indireta” para Anderson e sua escola. “Eu não tive nada a ver com a suspensão ou cancelamento do concurso. Eu fiz um comentário no meu mural em que eu parabenizei outra escola pela efetivação do concurso. Eu nunca nem falei nomes de ninguém ou dizendo que a escola deveria cancelar.”

A secretária também nega que seja homofóbica, mas discorda da inclusão de uma drag queen no concurso. “Eu não aceito que ele, como drag, esteja em uma competição feminina. Eu tenho grandes amizades com homossexuais, nunca fui preconceituosa com nenhum. Deus me livre de ser.”

Anderson se transforma em Agatha Lorrana há cerca de dois anos, quando passou a se vestir de drag queen para frequentar algumas festas e até um evento de visibilidade LGBTT em sua cidade. “Me assumi aos 12 anos. Todo mundo me conhece aqui, nunca fui desrespeitado na escola, seja por alunos, professores ou direção”, afirma. “Mas também nunca passei por um constrangimento como esse. Fiquei com a sensação de que eu não posso nada. Que nunca vou conseguir o que eu quero.”

Procurada, a escola não atendeu às chamadas.