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Testemunhas de defesa de guarda municipal divergem em júri da maior chacina de SP

Julgamento da maior chacina de SP, que deixou 17 mortos, gerou protestos - Luís Adorno/UOL
Julgamento da maior chacina de SP, que deixou 17 mortos, gerou protestos Imagem: Luís Adorno/UOL

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

20/09/2017 17h21

Dois guardas civis municipais de Barueri, na Grande São Paulo, que foram depor a pedido de defesa do réu Sérgio Manhanhã, um guarda preso sob acusação de facilitar a ação de homicidas que mataram 17 das 23 vítimas da maior chacina do Estado, em agosto de 2015, deram versões conflitantes em depoimentos durante o terceiro dia do júri, nesta quarta-feira (20). Eles responderam a perguntas sobre a relação de guardas municipais com policiais militares.

Dois policiais militares e o guarda Manhanhã são acusados de terem envolvimento com a chacina.

Para um dos guardas que testemunharam, é "impossível" a ligação entre PMs e guardas na região, e, para outro, policiais militares ajudam guardas da cidade informando sobre ocorrências.

O guarda civil Marcelo Gomes da Silva, que foi a 18 ͣ  testemunha a depor no júri, afirmou que "não existia a possibilidade de entrosamento entre GCM e PM" porque ambas não conversavam entre si. Segundo Silva, que atualmente é chefe da Corregedoria da GCM, foi investigada a relação entre Manhanhã e os crimes, mas nada ilegal foi encontrado.

Manhanhã era subcomandante do batalhão identificado como Gite (Grupo de intervenção Tática Estratégica), uma espécie de unidade paralela à Força Tática da PM, segundo o MP (Ministério Público). Silva informou que Manhanhã enviou, na noite de 13 de agosto de 2015, a informação, via rede --para todos os outros GCMs-- que os assassinos envolvidos na chacina haviam utilizado um carro Renault Sandero no crime.

A 19 ͣ testemunha a depor, no entanto, afirmou que PMs e GCMs se auxiliam mutuamente no patrulhamento. Trata-se do guarda civil Willian Moreira, que atuava no Gite como motorista. Ele era subordinado a Manhanhã.

Questionado pelo promotor Marcelo Oliveira, ele, primeiramente, concordou com o colega de farda Silva. Mas, o promotor Oliveira leu o primeiro depoimento dado por ele, no qual afirmava que havia colaboração entre PM e GCM. O guarda então voltou atrás: "Havia um contato com alguns PMs, que passavam algumas ocorrências", disse.

Na sequência, o promotor questionou sobre por que não havia, em relatório, a informação de que eles tinham ido ao enterro de um guarda que havia morrido um dia antes e que seria um dos motivos de uma suposta represália feita por uma milícia paramilitar.

"Nós colocamos a informação no relatório", disse Moreira. O promotor mostrou a ele cópias do relatório na sequência. "Não consta. Mas havia um relatório informal em que constava", disse. Moreira reconheceu a letra de Manhanhã no relatório.

O julgamento que investiga os PMs Thiago Henklain, Fabrício Eleutério e o GCM Manhanhã teve início na segunda-feira (18). Até as 16h10 desta quarta-feira (20), 19 de 22 testemunhas arroladas haviam sido ouvidas. A previsão é de que os interrogatórios dos três réus tenha início ainda hoje.

Jurados

Uma outra testemunha, o sargento da PM Adriano Henrique Garcia, o terceiro a depor hoje, olhou para os jurados e respondeu olhando para eles.

Acontece que ele chegou a ficar quatro meses preso acusado de estar envolvido na chacina de agosto de 2015.

A defesa fez o mesmo pedido ao último depoente, o PM Carlos Eduardo Oliveira. A juíza, no entanto, negou o pedido da defesa para não causar desconforto aos jurados.